Dois pontos encarecem a produção de uva: insumos e mão de obra. Baratear estes custos e aumentar a qualidade foi o foco da Feira de Tecnologia para Viticultura (Tecnovitis), que se encerrou nesta sexta-feira, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves. Em uma estrutura de 25 mil metros quadrados, 110 expositores exibiam as novidades do setor. As colheitadeiras ocupavam lugar de destaque.
Há quatro anos, o jovem agricultor de Nova Roma do Sul Miguel Batistini, 32 anos, percebeu que precisava criar um equipamento para facilitar a colheita da uva em sua propriedade. O irmão, Tiago, 30, comprou a ideia e os dois irmãos criaram, em 2013, a primeira versão da colheitadeira de uvas latadas.
– Naquele ano, conseguimos colher apenas 40 quilos de uva – lembra Tiago.
De lá para cá, a cada ano eles foram aperfeiçoando o equipamento e já estão produzindo a quinta versão. A quarta foi exposta na feira e tem a capacidade para colher 205 mil quilos de uva. A máquina substitui boa parte da mão de obra e não causa danos ao grão e nem à planta.
– É uma mão na roda – garante o idealizador.
Em outro estande da feira, as colheitadeiras também eram atração do evento. As demonstrações de funcionamento para o público atraíram dezenas de visitantes interessados. O modelo Carreta custa, em média, R$ 90 mil, se adapta à maioria dos tratores e tem capacidade para colher até três toneladas de uva por dia.
O diretor da empresa de Farroupilha Anderson Benato garante que ela substitui o trabalho de pelo menos 25 funcionários na colheita.
Outro lançamento da empresa é a colheitadeira autopropelida. Motorizada, conta com um sistema giratório especial, que facilita as manobras. Isso proporciona a colheita em parreirais localizados em morros, por exemplo. O custo fica em torno de R$ 190 mil. Ambos os modelos já foram vendidos para produtores de Coronel Pilar e Flores da Cunha.
Tratores, empilhadeiras e pulverizadores também chamavam atenção no evento. Todos com uma única finalidade: facilitar a vida do produtor de uva e tentar manter o jovem no campo.
– O investimento em novas tecnologias é fundamental para o setor continuar crescendo. Hoje é o agronegócio quem segura a economia do país. Queremos que continue avançando – aponta o gerente da agência do Sicredi Agronegócio de Farroupilha, Clair Pedro Bertuzzo.
Paralelamente à feira, muitos seminários e palestras sobre a viticultura atraíram milhares de pessoas interessadas. Os visitantes também puderam conferir a produção do parreiral modelo (uvas orgânicas) e percorreram o parreiral demonstrativo (expositores fizeram demonstrações de seus produtos nas parreiras).
Os insumos com menos agrotóxicos também ganharam espaços. A estimativa da organização é de que pelos menos 15 mil pessoas passaram pelo local em três dias de evento.
Suquificador
Hygino Bitarelo, 80 anos, idealizou um equipamento chamado suquificador. Foi projetado para a elaboração de suco integral de uva. O sistema requer uvas previamente desgranadas e esmagadas, uma vez que o aquecimento se dá pela parede interna do suquificador. Ele não incorpora água, por isso a cor do suco fica mais intensa, com melhor aroma e sabor se comparado com o método tradicional, o das panelas extratoras por arraste de vapor.
A capacidade é para produzir 30 litros de suco por hora. O analista de transferência de tecnologia da Embrapa Rodrigo Monteiro explica que no método tradicional o tempo é o dobro.
Custa R$ 16 mil e é destinado a produtores da agricultura familiar.
– Com mil litros de suco, é possível pagar o investimento – garante Bitarelo.
Uva orgânica em alta
Um dos principais assuntos discutidos na Tecnovitis foi a produção de uvas orgânicas. Engenheiro agrônomo e professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) do campus Bento Gonçalves, Luís Carlos Diel Rupp foi um dos palestrantes do seminário sobre o tema e que atraiu centenas de produtores. É um negócio que está em alta.
Segundo Rupp, o Estado tem hoje mais de 3 mil famílias certificadas para produzirem orgânicos. Na Serra, são 390 famílias que produzem 12 mil toneladas de uva orgânica em 700 hectares de terras. E falta produto para um mercado que cresce 15% ao ano. O agrônomo garante que é um setor promissor. Basta querer produzir. O preço médio da uva orgânica é de 60% a 100% maior que a convencional. E o custo de produção é menor.
No entanto, não é qualquer agricultor que tem capacidade para produzir orgânicos.
– É preciso ter perfil para isso – destaca o especialista.
Os produtores precisam conhecer três fatores essenciais. O primeiro deles envolve informação, conhecimento e assistência técnica. Em seguida, o agricultor precisa de áreas adequadas para cada variedade da fruta. Umas são mais fáceis de cultivar no clima da Serra. Nesse item, entra a tecnologia adequada. E, por fim, a demanda de mercado. Falta produto para vender. Portanto, quem produz tem venda garantida.
No mercado mundial, a uva orgânica movimenta mais de 90 bilhões de euros. É mais que o dobro do que movimentava há 10 anos.
Safra de qualidade
Sobre a safra deste ano, Rupp aposta em uma colheita com alta qualidade. Melhor que a safra passada, quando a quantidade foi bem superior, mas as uvas tinham um teor de açúcar mais baixo.
Na Tecnovitis, o parreiral modelo apresentou videiras com menos cachos, mas com grãos sadios e de alta qualidade.