Em toda virada a história se repete: no Brasil, além do espumante e dos fogos de artifício, a Mega-Sena da Virada também é sinônimo de Ano Novo. O sorteio acaba atraindo até quem não é fã de apostas, por conta do grande prêmio – nesta edição, são R$ 280 milhões, o maior valor já pago pela loteria da Caixa Econômica Federal (sem corrigir valores antigos pela inflação).
O poder mobilizador da loteria faz com que a Mega da Virada seja o evento com o maior número de apostas no ano, conforme proprietários de agências lotéricas. Pudera: em um país campeão mundial de desigualdade de renda, onde seis brasileiros concentram a mesma riqueza da metade da população mais pobre, segundo estudo recente da Oxfam, a probabilidade de 1 em 50 milhões de ganhar o prêmio com uma aposta de seis dezenas parece uma possibilidade coerente de mobilidade social.
Mas ninguém está pensando nas possibilidades ao fazer o último jogo do ano: a cabeça está concentrada na mudança de vida que a bolada possibilitaria a cada um dos apostadores.
– É difícil, não saberia nem por onde começar – relata o empresário Eberton Laurindo, 34, que jogou na Mega Sena na tarde desta sexta-feira, em Caxias, sobre o que fará com tanto dinheiro caso ganhe o concurso.
– Acho que tiraria férias num cruzeiro pelo mundo por um ano, para começar. Aí veria o que fazer – informa, depois de muito pensar.
Na tarde de sexta, o movimento nas lotéricas já era menor. No entanto, de acordo com Valmir Relosi, 54, que é proprietário de um estabelecimento no centro de Caxias, quem entrava na lotérica tinha o objetivo de apostar.
– Superou o movimento do ano passado. Nessa época, as pessoas acabam gastando mais, se reúnem com amigos, ou no trabalho, e fazendo um bolão – comemora.
A trabalhadora rural Cátia Melo da Silva, 34, saíu da casa onde mora, no distrito de Vila Oliva, só para garantir a aposta. Ela conta que gostaria de comprar uma moradia própria com o valor do prêmio.
– E também ajudaria um hospital de câncer – reforça, na companhia dos filhos Pablo, 14, e Raquely, cinco. Jogando sempre os mesmos números, Cátia espera ter melhor sorte do em outro sorteio, há anos atrás:
– Não quis entrar na fila e depois saíram os meus números. Deixei de ganhar R$ 60 milhões – lembra.
A diarista Eva Correia, 64, é outra que deixa espaço para a solidariedade no sonho de ser milionária.
– Primeiro, ia dividir com a família toda. Mas não gostaria de ganhar sozinha, tem muita gente que precisa – argumenta.
Para muitos apostadores, porém, mais do que o vislumbre de outra vida, o que motiva o jogo é a mobilização gerada pelo sorteio.
– Eu nem acredito que alguém ganhe tudo isso. Mas acabo jogando num dia sim e no outro também – define a auxiliar de laboratório Janete Rita Pascoal, 57.
Até domingo
As apostas seguem até às 14h de domingo, conforme a Caixa, apesar de a maioria das lotéricas funcionarem até o sábado à tarde em Caxias. O número total de apostas realizadas será divulgado pelo banco na terça-feira (2).
O que se pode fazer com R$ 280 MILHÕES...
Ao vencedor da Mega da Virada, resta a (única) preocupação de decidir o que fazer com o dinheiro. Veja o que é possível comprar com o prêmio (em valores arredondados):
– Dar mais de 5 mil voltas ao mundo em um cruzeiro de luxo, com valor médio de R$ 50 mil.
– Se hospedar por mais de três anos no hotel mais caro do mundo, na Suíça, com diária de R$ 242 mil
– Para quem se sentir solidário, dá para construir cerca de 3 mil casas populares (R$ 90 mil cada), e ainda sobram R$ 10 milhões na conta.
– Também é possível pagar 250 mil cestas básicas (R$ 800) para uma família de tamanho médio, ou alimentar mais de 20 mil famílias (população de uma cidade do tamanho de Bento Gonçalves) por um ano, e ainda ficar com R$ 80 milhões para ostentar.
– Não é possível, porém, contratar o Neymar para o time do bairro, por exemplo. O PSG dispendeu cerca de R$ 820 milhões de reais, ou quase três vezes o premio da mega, para tirar o craque do Barcelona.
– Quem for mais prudente e optar por deixar o valor na poupança (investimento com o retorno mais baixo, de 0,5% ao mês), pode retirar míseros R$ 1,4 milhão por mês do banco em rendimentos.