A principal produção de frutas cítricas do Rio Grande do Sul está no Vale do Caí, onde o carro-chefe é a bergamota, com 7 mil hectares plantados, e no Alto Uruguai, nas regiões de Erechim e Frederico Westphalen, com 7,5 mil hectares, onde a produção é voltada para as laranjas de suco. Na Serra, onde a produção é mista, são pouco mais de 2.230 hectares, sendo 1.220 de laranja, 1 mil de bergamota e 30 hectares de lima e limão, de acordo com o último censo frutícola da Emater.
No Alto Uruguai, o cultivo de laranjas é recente e foi introduzido há cerca de 15 anos como alternativa à produção de soja. No Vale do Caí, a produção de laranjas diminuiu nos últimos anos devido à doença do cancro cítrico e à ação de pragas como a mosca da fruta, e a região hoje se destaca mais no cultivo da bergamota. Na Serra, o plantio de citrus representa uma alternativa de renda para o produtor ao longo do ano, para que ele não fique refém de culturas que produzem uma vez só, como a uva.
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Boa parte do plantio da Serra está nos Vales das Antas e do Caí, mas também há cultivo em partes mais altas em Caxias do Sul, Farroupilha e Veranópolis, onde a colheita é tardia e se estende até novembro. Nos vales, é possível colher as variedades mais precoces a partir de março. Na Serra, também há cultivo de laranjas para suco em Guaporé.
Conforme o agrônomo Ênio Todeschini, da Emater Serra, a alta produtividade neste ano é explicada pelo frio no último inverno e primavera. Por um lado, a temperatura menor contribuiu para a saúde das plantas, que sofreram menos ataques de fungos e pragas, como a mosca da fruta. Por outro lado, o frio favoreceu a alocação de nutrientes nas flores e frutos e não no tronco, galhos e folhas.
Para alcançar uma boa produtividade, conforme Todeschini, é importante, entre outros fatores, uma adubação equilibrada e o controle de doenças. Outro ponto é não deixar a planta produzir no primeiro ano, arrancando os frutos pequenos ainda verdes. O ideal é começar a colher quando a árvore tem entre 3 e 4 anos, e o auge de produtividade é alcançado entre 7 e 8 anos. Uma planta pode durar de 30 a 40 anos.
O agricultor Samuel Pezzi, do distrito de Vila Cristina, em Caxias, próximo ao rio Caí, conta que a família começou a investir em citrus na propriedade de 28 hectares há cerca de 20 anos, como alternativa à safra da uva. Em pouco tempo, os cítricos se transformaram na principal produção, e o que passou a ser alternativa de renda foi a uva no verão.
– O pessoal estava acostumado a fazer a safrinha da uva, e a receber o dinheiro e guardar aquele dinheiro para viver o ano inteiro. E aí, viram que o citrus é uma safra bem longa, e todo o mês estava entrando uma renda. Então, em questão de dois a três anos, virou a principal produção da propriedade – conta Pezzi.
Atualmente, 70% da propriedade é de laranjeiras e bergamoteiras. A família começou recentemente com uma nova variedade, a bergamota Dekopon, que produz três vezes no ano e pode começar até em janeiro. Na sequência, vem a bergamota satsuma, a laranja salustiana para suco, em abril as laranjas de umbigo, como a navelina e bahia, depois a bergamota ponkan e a caí; ainda neste ano, haverá a colheita das bergamotas montenegrina e morgote, e a laranja valência, para suco.
O auge da colheita de citrus é nos meses de junho e julho, quando os preços diminuem devido à maior oferta. Bom para o consumidor, nem tanto para o produtor. Alguns estocam parte da produção para vender quando o preço é mais vantajoso.
*Esta reportagem foi ao ar nos programas Serra de Negócios e Destaque Econômico em 18 de junho de 2017.