A falta de informações sobre os setores da economia de Caxias do Sul prejudica o embasamento na tomada de decisões. A maior parte dos sindicatos da cidade não têm dados que representem a realidade do setor. Não há, por exemplo, dados estatísticos de quantos imóveis estão à venda em Caxias do Sul. Também não há números de quantas salas comerciais estão aptas para serem alugadas ou vendidas.
O município não tem informações sobre quantas empresas ou lojas estão com dificuldades de pagar seus funcionários. Ou quantas estão bem no atual cenário de crise. Os poucos números divulgados se referem ao desempenho da economia caxiense, divulgados pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC Caxias) e Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL).
Mesmo assim são percentuais que correspondem à evolução dos três principais setores: indústria, comércio e serviços. O Índice de Desempenho Industrial (IDI) é desenvolvido por meio de amostragem com método desenvolvido pela Fiergs, utilizando cinco componentes (utilização da capacidade instalada, horas, compras, vendas e massa salarial). O Termômetro de Vendas é desenvolvido pela CDL e é uma pesquisa amostral usando a mesma metodologia, porém usa apenas vendas como referencial. O Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN)é o valor do tributo apurado pela prefeitura (usado como variável proxy, já que não há pesquisa no segmento).
A última pesquisa, referente a fevereiro, apontou um crescimento de 0,1% em relação ao mesmo mês do ano passado. O estudo, no entanto, não aponta quantas fábricas fecharam as portas no últimos anos ou quantas abriram na cidade. Na área do comércio, os números também se referem ao desempenho dos mais variados segmentos do setor e a inadimplência. Mas também não aponta números de novos empreendimentos ou dos que deixaram de existir.
Instituto da UCS
O Instituto de Pesquisa Econômicas e Sociais (Ipes) da Universidade de Caxias do Sul (UCS) é o único da cidade capacitado para realizar pesquisas. Ele divulga mensalmente o custo da cesta básica e o Índice de Preços ao Consumidor (IPC). A amostra dos índices abrange 436 famílias caxieses, que apresentam média de 3,2 membros e renda de um a 30 salários mínimos. Os preços são coletados em seis redes de supermercados que atuam na cidade sempre na última semana do mês.
O QUE DIZEM OS SINDICATOS
Assimob
A Associação das Imobiliárias de Caxias do Sul (Assimob) percebeu essa lacuna no ano passado. A partir daí formou uma parceria com o Ipes da UCS para desenvolver um estudo que detalhe a realidade do setor imobiliário em Caxias. A expectativa é de que até o final do ano, os números esteja disponíveis.O presidente da Assimob, Fernando Gonçalves dos Reis, admite a falta de dados para a tomada de decisões mais acertivas:
– Precisamos ter em mãos mais dados para tomar decisões corretas. Sabemos dessa lacuna e estamos buscando alternativas – declara Reis.
Sinduscon
O Sindicato da Construção Civil também admite que há, sim, falta de dados no setor. A diretora de Economia e Estatística do sindicato, Vanessa Borges Camargo, explica que já tem um projeto em andamento para ampliar a coleta de dados.
– Estamos buscando planilhas de outros sindicatos do Estado para trabalharmos de uma forma mais objetiva. Nossa proposta é buscar dados para discutir o setor – destaca.
Segundo ela, até o final deste ano, o Sinduscon terá dados mais específicos para serem divulgados e que vão mostrar um raio X desse mercado.
CDL Caxias
O presidente da CDL Caxias, Ivonei Pioner, diz que ter dados disponíves de todos os setores da economia é um sonho de Caxias do Sul. As dificuldades esbarram, segundo ele em dois pontos: o alto custo e a resistência dos empresários em repassarem as informações.
Ele garante que a CDL passou muito tempo tentando montar um instituto de indicadores caxienses, mas não conseguiu avançar por falta de recursos. Mesmo assim, firmou uma parceria com a UCS e está definindo um modelo de confiabilidade para conseguir os dados. A expectativa é de que no segundo semestre alguns dados já possam ser divulgados.
– A CDL foi a que deu o primeiro passo para solucionar esta lacuna de falta de dados. Precisamos disso para tomar decisões. os demais sindicatos também precisam fazer a sua parte – ressalta.
Simplás
O Simplás trabalha com um sistema chamado Indicadores Econômicos Simplás (IES), lançado em 2015, a partir de um trabalho iniciado pelo Grupo de Relações do Trabalho do sindicato (mais voltado aos índices de RH ) e atualmente em fase de desenvolvimento para abranger também estatísticas de volume de produção, faturamento, tipos de resina e processos de transformação mais utilizados, entre outros dados.
Anteriormente, durante cerca de três anos, o Simplás investiu na contratação de pesquisas terceirizadas, mas o retorno ficou aquém do esperado e o custo é bastante elevado.
– Queremos efetivar a implantação do IES para contar com estatísticas atualizadas e confiáveis a respeito das empresas na base territorial de representação do Simplás. Agora, é um sistema fundamentado em participação voluntária. Ou seja, as respostas são fornecidas pelas próprias empresas que se dispõem a participar do levantamento. E assim, ainda há muita dificuldade em sensibilizar as organizações e seus dirigentes a fornecer números de maneira periódica e confiável, mesmo com total garantia de sigilo das fontes. E mesmo sabendo que se trata de uma ferramenta importantíssima para projeção de investimentos e tomada de decisões – afirma o presidente do Simplás, Jaime Lorandi.
Simecs
O Sindicato das Indústrias Metalúrgicas Mecanicas e de Materiais Elétricos de Caxias do Sul Simecs) diz que, desde 1999, conta com o seu banco de dados e elabora mensalmente a Pesquisa Econômica e de Recursos Humanos, junto às empresas do seu segmento.
Os dados o desempenho econômico (faturamento), de pessoal (contratações e demissões) e horas trabalhadas. Segundo o sindicato, o levantamento é feito por amostragem sendo os dados compilados para a análise do setor e não de forma individual. Desta forma, o Simecs consegue monitorar o desempenho das atividades do seu segmento.
– Entendemos que o nosso banco de dados cumpre o seu papel, dado às devidas aferições realizadas, tornando-se importante para a contextualização da importância do segmento na região. Os demais dados são de característica individual das empresas, não sendo do interesse coletivo – diz a nota divulgada pela assessoria de imprensa.