O cerco dos órgãos de fiscalização à indústria da carne chegou à Serra Gaúcha. Nesta semana, o Ministério Público realizou uma operação que resultou na apreensão de 20 toneladas de carne imprópria para consumo em 13 açougues e supermercados de Bento Gonçalves. Os alimentos estavam estragados ou em locais inadequados para conservação, de acordo com as autoridades. Também havia outras irregularidades. Em meio ao cenário de denúncias, o consumidor se vê obrigado a redobrar os cuidados na hora de escolher o que botará no seu prato.
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A nutricionista da Vigilância Sanitária em Caxias do Sul, Fátima Vaz, salienta que, apesar de problemas pontuais, a indústria segue sendo confiável. Sendo assim, a especialista recomenda que o consumidor busque informações sobre os cortes que costuma adquirir.
– Não dá para se alarmar. O consumidor não precisa ver cada ponto de venda como um perigo – pontua Fátima.
Entre os consumidores, no entanto, há um clima de desconfiança.
– Há alguma apreensão, mas o importante é buscar uma casa de carnes confiável. Desconfio de carne muito barata – relata o empresário Ben Hur Stoker, que foi às compras sexta-feira para o churrasco do fim de semana.
Os efeitos da operação na cidade vizinha também respingaram nos estabelecimentos caxienses. O proprietário da Casa de Carnes Altas Horas, Adão Rodrigues, nota que os compradores têm feito mais perguntas sobre a procedência dos artigos. As vendas, diz ele, caíram 30% nos últimos dias.
Desconhecimento da lei
Apesar de grande parte da carne retirada dos mercados na força-tarefa ter apresentado sinais de estrago, uma parcela menor dos produtos foi apreendida por estar no lugar equivocado de conservação. Recentemente, as normas para a armazenagem dos alimentos de origem animal sofreram alterações no Rio Grande do Sul e alguns estabelecimentos ainda não seguiram as recomendações.
Esse foi o caso do Super Grepar, localizado na Avenida Osvaldo Aranha, em Bento. Na inspeção, a casa teve retidos salames, mortadelas e outros embutidos expostos no balcão de resfriados, algo que passou a ser proibido.
– Por ignorância nossa, colocamos no balcão, pois sempre vendemos desse jeito. Não contestamos a portaria, o consumidor vai ser o grande beneficiado com ela – explica o sócio-proprietário do Super Grepar, Paulo Bruschi.
O empresário afirma que o episódio deixou lições para o supermercado, que desconhecia a mudança nas regras e agora buscará se adequar à legislação vigente.
Recomendações ao consumidor
Condições do estabelecimento: Analise as condições do estabelecimento onde você está comprando a carne. Verifique a higiene do local, em especial a da seção de carnes. Evite comprar em locais onde a parte de açougue tenha luzes vermelhas ou paredes pintadas em tons rosados, pois elas podem maquiar eventuais problemas ao criar uma ilusão de ótica no consumidor.
Procedência: No caso das carnes compradas em açougue, pergunte a procedência dela ao atendente. Já com as carnes embaladas e disponíveis nas gôndolas de supermercados, cheque se a peça possui os selos de inspeção dos órgãos públicos competentes.
Momento da compra: Quando for ao supermercado, a carne deve ser a última coisa a ser comprada. Ao permanecer na temperatura adequada o maior tempo possível, a peça não perderá qualidade. Além disso, leia no rótulo do produto a temperatura ideal de conservação e veja se o local de armazenamento segue o recomendado na embalagem. Em geral, a carne não pode estar em um ambiente com temperatura acima de 4 graus.
Validade: Verifique a data de validade. Evite comprar carnes que tenham etiquetas sobrepostas e que não contenham dados sobre o frigorífico de origem. No caso do guisado, dê preferência a estabelecimentos que moem a carne no ato da compra.
Aparência: Mesmo que a carne tenha sido inspecionada, atente para a aparência dela. Caso esteja esverdeada, em um tom escuro, gosmenta ou exalando cheiro, o produto está inapto para consumo. Também verifique se a embalagem não tem furos ou bolhas de ar. Caso possua, o alimento começou a se decompor e pode causar problemas ao ser ingerido.
Fonte: Fátima Vaz, nutricionista da Vigilância Sanitária em Caxias do Sul, e Luiz Fernando Horn, coordenador do Procon-Caxias do Sul