A crise econômica fez muitos estudantes mudarem de escolas particulares para públicas nos últimos dois anos, mas, para algumas famílias, o investimento na educação de um filho ainda é prioridade. Entre os motivos para os pais apertarem o orçamento e manterem seus filhos em colégios privados estão a qualidade do ensino e a garantia do cumprimento do calendário escolar.
Além do valor da mensalidade, que varia de escola para escola, os pais precisam incluir no orçamento do mês o dinheiro do lanche e o gasto com o transporte escolar. Mas os gastos vão além – no início do ano letivo, é preciso comprar o material escolar exigido pela escola, os livros de apoio e o uniforme.
O Pioneiro realizou levantamento sobre o preço das mensalidades para 2017. O valor mais barato é para alunos da Educação Infantil e no Ensino Fundamental (do pré ao 4º ano) que custa R$ 586. Do 5º ao 9º ano, o menor valor é de R$ 590 e, no Ensino Médio, a mensalidade mais em conta sai por R$ 726. Algumas escolas preferiram não informar o valor de suas prestações mensais.
Para o próximo ano, o aumento das mensalidades vai fazer os pais ajustarem ainda mais o orçamento para manter as contas em dia. A média do reajuste nas escolas caxienses é de 11,7%. De acordo com dados do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS), as instituições de ensino privadas devem reajustar as mensalidades em 11,5%, em média, em 2017.
50% da renda mensal com estudo das filhas
Vitalino e Elenita Rech, ambos de 53 anos, também optaram por proporcionar boas condições de estudo para as filhas, Juliana, 15, e Andréia, 24. Mas, no final do ano passado, o pai – modelista em uma metalúrgica – perdeu o emprego e ficou somente com o salário da aposentadoria. Assustado com a redução da renda familiar, precisou reorganizar as contas da família e transferiu a adolescente, que estudava no Colégio Madre Imilda, para a Escola Estadual Professor Apolinário Alves dos Santos.
– Não terminei o 9º ano porque estava caro e tinha que pagar a faculdade da minha irmã – diz a adolescente.
Porém, o anúncio de greve nas escolas estaduais na metade do ano preocupou a estudante de boas notas, que pediu para retornar a uma escola particular.
– Sei que não é fácil pagar uma escola privada, mas queria um estudo melhor para mim. É o que mais importa.
Convencido pela filha, Vitalino procurou uma escola particular com mensalidade mais baixa e, em junho, transferiu a filha para o 1º ano do Ensino Médio no Colégio Murialdo. Para adequar o orçamento, Vitalino precisou reduzir os planos dos telefones celulares e do fixo, os almoços e jantas em restaurantes e também cancelou a assinatura da TV a cabo.
– Gosto muito de assistir ao futebol. Mas tudo bem, já vi muito futebol e posso ficar sem.
Além da mensalidade no valor de R$ 654, Vitalino ainda paga R$ 850 por mês para a filha mais velha que estuda bacharelado em Educação Física. Com uma renda de R$ 3 mil, as duas mensalidades custam R$ 1,5 mil – a metade do orçamento é comprometida para o pagamento dos estudos das filhas.
Com as contas apertadas, Vitalino retornou ao mercado de trabalho, mas dessa vez como segurança patrimonial em um hipermercado, e a esposa começou a trabalhar para ajudar nas contas da casa.
Além da mensalidade, o pai da adolescente lembra que pagou R$ 500 de uniforme e mais quatro prestações de R$ 200 para os livros de apoio. Juliana, consciente do esforço para continuar estudando em uma escola particular, contribui como pode.
– Eu sei que o lanche no bar (da escola) é caro e levo fruta para economizar.
Mesmo com o orçamento apertado, Vitalino faz um esforço para manter Juliana estudando inglês – que custa R$ 400 por mês.
– O estudo dela ninguém tira. Ela aprendendo, está bom para mim – diz o pai.
Família investe na educação de Ingrid
Para Alexandrina Grespin de Andrade, 29 anos, a educação da filha Ingrid, 7 anos, é prioridade. A proprietária de um salão de beleza e o marido, o motorista Robson Luis Santos, 30, decidiram investir na educação da menina, que estuda no Colégio Murialdo de Ana Rech.A renda mensal do casal é de R$ 6 mil e o investimento na educação da menina é de R$ 768 por mês, somando a mensalidade, o transporte e o lanche – o valor representa 12,8% do orçamento da família.
– A gente discutiu bastante porque não teríamos renda para matricular em colégio particular. Não está sobrando dinheiro.
Alexandrina conta que, neste ano, gastou R$ 300 em material escolar e R$ 400 com uniformes de verão e de inverno.
– As roupas do uniforme compro separadas no início do verão e do inverno para não gastar muito.
Para espremer o orçamento, Ingrid fica no salão de beleza da mãe pela manhã. Para descontrair e passar o tempo, assiste a desenhos no YouTube e brinca com uma maleta de maquiagem. Alexandrina diz que não teria condições de pagar uma cuidadora ou turno integral na escola.
A empresária conta que decidiu matricular a filha em escola privada devido à qualidade da educação, além do acompanhamento de monitores e da segurança. Alexandrina lamenta as carências na qualidade de ensino nas escolas públicas.
– Eu e meu marido estudamos em escolas públicas e conhecemos as carências. Não têm a mesma qualidade e as mesmas oportunidades.