Com a previsão do tempo indicando mais uma semana chuvosa, agricultores ainda contabilizam os prejuízos provocados pelo clima nos últimos dias. Inundações causadas pela alta do Rio Caí e pelo excesso de precipitações castigaram produtores da parte mais baixa de Caxias do Sul.
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A região que abrange o distrito de Vila Cristina é a que registrou prejuízos mais consideráveis, avalia Rudimar Menegotto, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias. Sensíveis às intempéries, as hortaliças folhosas (como alface, chicória e repolho) foram as mais prejudicadas pelo excesso de água:
– Em algumas propriedades de Vila Cristina, as perdas envolvendo as folhosas chegam a 100%. Nas outras culturas, os danos não parecem ter sido expressivos – relata Menegotto.
Nesses casos de prejuízo total, os agricultores terão que plantar todas as mudas danificadas novamente. O ciclo das folhosas dura, em média, até 60 dias.A principal cultura da Serra – a uva – não demonstra ter sofrido danos com a chuvarada. Ao menos por enquanto:
– A uva está em fase de brotação, então, é difícil avaliar os impactos. Uma análise melhor poderá ser vista na floração, daqui a 15 dias ou mais. O excesso de umidade nas parreiras pode ser ruim por estimular os fungos – analisa Menegotto.
Preço deve subir
As perdas nas hortaliças folhosas devem refletir no bolso do consumidor. Nos últimos dias, a alface já ficou um pouco mais cara na Ceasa/Serra.
– O preço da dúzia estava saindo por R$ 5 ou R$ 6. Agora pulou pra R$ 8, R$ 9. Antes da chuva, o preço estava abaixo da média, já que estávamos com muita oferta. Agora normalizou – observa o gerente-técnico operacional da Ceasa/Serra, Antonio Garbin.
Além da alta imediata, outra elevação deve ser observada nas próximas semanas, à medida que o abastecimento das hortaliças for ficando menor do que o normal. Garbin não acredita, porém, que preços exorbitantes sejam registrados:
– Com a crise e as demissões, o consumo caiu cerca de 20% na Ceasa no último ano. Os compradores seguem vindo, mas compram menos, até porque caiu o movimento de restaurantes e mercados – explica o gerente-técnico.
Remildo Basso nunca tinha visto tanta chuva
Mesmo trabalhando há décadas na agricultura, Remildo Basso, 58 anos, assustou-se com a chuvarada da última semana. Morador da Linha Sebastopol, ele viu o Caí subir rapidamente e muita água inundar a lavoura:
– Alagou até onde o rio não chegou, porque caía muita água. Nunca tinha visto tanta chuva em tão pouco tempo – destaca.
Seu Remildo tem seis hectares de plantação, que mantêm com a ajuda da esposa e dos filhos. No geral, define que cultiva "um pouco de tudo", desde uva, tomate e pimentão, até vagem, alface e aipim. A produção é vendida pela família na Feira do Agricultor e no Ponto de Safra. O meio hectare destinado às folhosas foi o mais atingido na propriedade de Basso. Na plantação de alface, por exemplo, os prejuízos superam 90%:
– Faltava uma semana para a gente colher as alfaces. Elas estavam vindo bem, saudáveis. Infelizmente, vamos ter que replantar quase tudo – lamenta Basso.
O mesmo ocorre com o espaço reservado para a vagem. A área estava cheia de mudinhas da planta e foi totalmente alagada pela chuva. Já nas parreiras, que ocupam cerca de um hectare, ainda é cedo para saber se houve impactos. No ano passado, devido à geada tardia, apenas 20% do previsto da produção de uva de Basso chegou a ser aproveitado.