O excesso de chuva e o uso inadequado de Inseticidas derrubaram a produção de mel em Caxias do Sul. Segundo a Associação Caxiense de Apicultores a queda chegou a 90%. Isso vai impactar diretamente o consumidor que aprecia a delícia. O preço do quilo deve saltar de R$ 10 para R$ 20 para a compra direto do produtor. Nos supermercados o reajuste vai chegar a 200% e atingir o valor de R$ 30 o quilo.
Esta é a terceira safra de mel que resulta em prejuízo para os cerca de 150 produtores do município, transformando o alimento em item valioso para venda. Além das condições climáticas desfavoráveis, associação aponta o uso incontrolado de pesticidas, que acabam exterminando todos os tipos de insetos, inclusive as abelhas
São dois períodos do ano em que é possível coletar o mel: em novembro e entre janeiro e março. A primeira retirada, no fim de novembro, resultou em praticamente 0. O motivo foi a ausência de temperaturas baixas no inverno e a chuva. A água acaba lavando a flor que não fornece néctar e pólen para as abelhas.
- A colmeia enfraquece e não consegue produzir - explica o produtor David Emenegildo Vicenço, 56 anos.
Apesar da expectativa para a segunda safra, produtores já descartam que os números se assemelhem à safra de 2015, que já contabilizava pouca produção. Vicenço lida com a cultura a 30 anos e conta com 38 colmeias espalhadas pelo interior de Caxias do Sul e São Marcos.
A capacidade média de produção de cada colmeia é de 25 quilos. A estimativa está longe de ser alcançada pelo técnico contábil e securitário, que tem o perfil do apicultor caxiense e se dedica à cultura apenas nos fins de semana. No lugar dos 950 quilos que pretendia colher, se sair da casa dos 100 já será encarado como lucro. Mesmo assim, produtores como Vicenço prometem não desistir da cultura e apostam em produzir alimento proteico para abelhas ao investir na nutrição artificial, objetivando manter os enxames vivos no inverno. Desta forma, as colmeias chegam fortes na primavera.
- Montamos uma espécie de lanche para a abelha e começamos a alimentá-la a partir de março - explica.
Responsável pela área técnica da associação, Antônio César Viapiana afirma que Caxias do Sul produz, em média, 200 toneladas de mel/ano. Para este ano, no entanto, a meta está longe de ser alcançada. Viapiana sequer arrisca um número, mas será uma safra inexpressiva.
- Esperamos ter as estações de inverno e primavera bem definidas, com índice pluviométrico normal para a próxima safra -avalia.
Inseticidas exterminam colmeias
Além dos problemas climáticos, outro fator importante é responsável pelo alto índice de mortandade das abelhas: o uso incorreto de inseticidas. A aplicação pulverizada é criticada pela Associação Caxiense de Apicultores, que alega que o produto contamina flores e, com o vento, é levado para florestas nativas ou exóticas. Ao se alimentar nestas flores contaminadas, a abelha acaba transportando o veneno para a colmeia, ocasionado a morte de todo enxame. Responsável pelo departamento técnico da associação, Antônio César Viapiana ilustra com duas situações as consequências do uso deste tipo de produto na cultura do mel.
Dois agricultores, um na Terceira Légua e outro na região de Santa Justina amargam a morte de 95 colmeias. Um laudo técnico confirmou que a causa foi a absorção de pelo menos quatro substâncias da família dos neonicotinoides. Aplicados erroneamente, estes venenos acabam eliminando todos os insetos que entram em contato.
Cada colmeia morta representa prejuízo de cerca de R$ 500. É para evitar este tipo de ocorrência que a Secretaria de Agricultura, a Inspetoria Veterinária do Estado e associações de agricultores devem começar a intensificar a conscientização com produtores para o manuseio correto deste produto.
- São dois casos confirmados e que os prejudicados levaram adiante. Mas sabemos que existem muitos outros prejudicados por aí - afirma Viapiana.
O secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Araí Horn, afirma que uma força-tarefa passará a distribuir material aos colonos para lembrá-los da importância de atentar para o uso do pesticida, a dosagem e o tipo de produto utilizado.
- Queremos lembrar o agricultor que a abelha não é só importante para a produção do mel, que já mostra força econômica para cidade, mas também o quanto o papel polinizador dela impacta em outras culturas, como da maçã, por exemplo - reforça.
Produção se mantém em Cambará
A região dos Campos de Cima da Serra é uma das que mais produz mel no Estado - e de qualidade aprimorada devido à área florada e arborizada, de acordo com Aroni Sattler, professor de Apicultura da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A região é uma das que entrega mais quantidade de mel nesta safra, considerando que o Rio Grande do Sul amarga quebra de 80%, segundo Sattler.
Em Cambará do Sul, ainda que apicultores reclamem de uma safra menor comparada com os últimos cinco anos, ela dispara quando a produção é o mel branco, "o filé do mel", como classifica o apicultor Irineu Santos de Castilho.
- É uma variedade que não tínhamos produzido nos dois últimos anos. E este ano, comparado a 2015, tivemos uma safra mais gorda - compara.
Castilho, que é um dos apicultores mais conhecidos de Cambará, diz que este ano produzirá 2 toneladas a mais que em 2015 _ deve chegar a 5 mil quilos. No entanto, o número acende o alerta para um declínio da produção que preocupa produtores: em 2013, colhiam-se dez toneladas. O ano da apicultura é compreendido entre julho/agosto até o fim da estação do ano seguinte. O último balanço completo estadual, divulgado no começo do ano passado, divulgava o desaparecimento de quase 250 mil colmeias no Rio Grande do Sul - o que equivale a uma mortandade de quase 50% do total. O estado é o maior produtor brasileiro de mel, o Estado foi drasticamente afetado pela redução da colônia de insetos.
EM NÚMEROS
:: Em Caxias do Sul, são 150 produtores que coletam em média 200 toneladas/ano. Em 2014, a safra foi de 60 toneladas. Para este ano, a Associação prefere não divulgar estima e usar a expressão "safra inexpressiva".
:: O Rio Grande do Sul registrou o desaparecimento de quase 250 mil colmeias no Rio Grande do Sul no ano passado. Este índice indica mortandade de quase 50% do total. Em anos considerados normais, a taxa de mortalidade aceitável é de até 15%.
:: Abelhas são consideradas os polinizadores mais eficientes da natureza. Além de dependerem das flores para sua própria alimentação e da cria, possuem o corpo coberto por pelos, o que facilita a aderência e o transporte dos grãos em pólen.