A técnica em eletrônica Letícia Andreis, 24 anos, ainda está chocada com baque que levou na manhã de ontem quando deu de cara com o portão fechado da empresa que pagava seu salário há quatro anos. Os 450 funcionários da Robertshaw voltavam de férias e foram surpreendidos com a notícia do fechamento quando chegaram na empresa. Um aviso no cartaz pedia para os funcionários se reunirem no ginásio. Letícia estava entre eles.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias, Assis Melo, os colocou a par do assunto e orientou os trabalhadores a não assinar as rescisões até que ocorresse a audiência de mediação, com representantes da empresa, por meio do Ministério do Trabalho. Aguardaram até as 10h por uma explicação da direção da empresa. Não aconteceu. Foram orientados a voltarem para casa e retornarem na segunda-feira.
A decisão impacta diretamente na vida de Letícia. Recentemente adquiriu um apartamento e está cursando a faculdade de Propaganda e Publicidade. Ainda não sabe como vai conseguir manter as contas em dia.
- O jeito é fazer o acerto da rescisão e batalhar por outro emprego. As dívidas já vão bater na minha porta - diz.
Ela conta que no final do ano passado surgiram alguns boatos de que a empresa seria transferida para Manaus. Questionados, os gestores dos departamentos negaram.
- Acreditamos. Só ontem descobrimos que era mentira - desabafa a jovem.
O presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), Getulio Fonseca, diz que o fechamento da Robertshaw é um símbolo dessa crise.
- Vale lembrar que ela é uma empresa americana. A decisão foi tomada de maneira fria, analisando números e balanços. Quem decidiu isso provavelmente não sabe nem onde fica exatamente Caxias - critica Fonseca.
Segundo ele, manter a empresa aqui representa um custo muito mais alto do que transferir tudo para Manaus. Os problemas de logística pesaram muito, já que está localizada longe dos fornecedores.
- Além disso, a mão de obra daqui, que é mais cara, fez a diferença.
Na audiência, que ocorreu também durante a manhã, Assis pediu que a Robertshaw apresentasse os motivos do fechamento.
- Há algumas situações que precisam ser esclarecidas, precisamos saber as razões que a empresa está encerrando as atividades em Caxias. Não é simplesmente chegar aqui, assinar as rescisões e está tudo resolvido. Isso não é ser uma empresa responsável - afirma o presidente do Sindicato.
O procurador da Robertshaw, Wilson Muniz, confirmou investimentos em Manaus e ressaltou que não há mais máquinas na empresa.
- A empresa realmente vai investir 60 milhões em Manaus nos próximos três anos.
Estamos estudando um produto novo. A fábrica de Caxias não tem mais condições de receber os trabalhadores, não há mais máquinas _ revela o procurador.
Para o Secretário de Desenvolvimento Econômico Francisco Spiandorello a decisão é um erro.
- A prefeitura nunca foi procurada para discutir qualquer problema que estivesse acontecendo na empresa. Nunca tivemos abertura para conversar. Agora, o melhor a fazermos é busca outra empresa que invista em Caxias - destaca Spiandorello.
Assis informa que há inúmeras questões envolvendo a Robertshaw que devem ser elucidadas: mudança de CNPJ, solicitação nos órgãos públicos para ampliação da unidade de Manaus, uma Portaria de setembro que beneficiaria a empresa com recursos e benefícios recebidos pela zona franca de Manaus.
- Vamos ouvir os órgãos do governo para saber o que está ocorrendo - enfatiza.
O presidente do Sindicato irá tentar contato com representantes do governo, em Brasília, e na próxima segunda-feira realizará uma nova assembleia com os trabalhadores em frente à empresa.