Alguns produtos
Champanha, espumantes, vinhos, sucos de uva e refrigerante de uva, sem álcool
Roteiro de visitação na empresa
Tanques de fermentação, pipas de madeira de guarda, barris de carvalho, espaço de guarda, museu de máquinas e papel, primeira cave subterrânea do Brasil e túnel histórico.
Visitação das 9h às 16h, todos os dias, mediante agendamento pelo telefone (54) 3462-1355 ou e-mail varejo@peterlongo.com.br. Para o varejo, todos os dias, das 9h às 17h30min. A visita tem duração de 50 minutos, com custo de R$ 15 (valor é revertido em compras de produtos, no varejo, ao final da visita). Endereço: Rua Manoel Peterlongo, 216, Centro de Garibaldi
A gentileza é uma das principais características dos franceses. Expressões como s'il vous plaît (por favor), pardon (com licença) e merci (obrigado) estão entre as mais usadas diariamente no país da moda e da culinária sofisticada. Mas é só falar em champanha fora do território de Napoleão Bonaparte que as boas relações dão lugar ao sentimento de "isso é meu e ninguém mexe".
Só que, embasada em fatos e provas históricas, a Vinícola Peterlongo, de Garibaldi, por meio da Justiça, tem direito de denominação de champagne em uma linha de produtos, que neste mês comemora o centenário da fabricação.
A história da empresa é que garantiu o uso do termo, decisão válida apenas dentro do Brasil. A Peterlongo produziu o primeiro champanha em 1913, período anterior ao registro de denominação de origem controlada, em 1927, na Região de Champagne, nordeste da França. Entre as provas que a empresa apresentou na Justiça está uma medalha de ouro que um champanha produzido na vinícola garibaldense conquistou em 1913.
Graças a isso, no próximo dia 26, a empresa da serra gaúcha festejará um século da bebida. Será um brinde a uma história de sucesso que começou no fim do século 17, com a chegada dos imigrantes italianos que colonizaram a região.
Entre os estrangeiros que chegaram ao país estava o agrimensor Manoel Peterlongo, conhecedor de terras e visionário o suficiente para detectar que a vila ou colônia de Conde d'Eu, hoje Garibaldi, era o lugar ideal para concretizar seu sonho de construir uma vinícola. Com a morte de Manoel, em 1924, o legado teve continuidade com Armando, o único filho homem - um dos costumes trazidos pelos imigrantes era de que os negócios da família precisavam ser conduzidos pelos sucessores do sexo masculino.
Armando cumpriu com esmero a missão deixada pelo pai. Dentro da sua gestão, um dos episódios mais marcantes foi na visita da rainha Elizabeth II, do Reino Unido, ao Brasil. Como Armando Peterlongo era muito amigo do então presidente Getúlio Vargas, em 1930, o chefe da nação encomendou um lote de champagne brut para oferecer para a rainha em visita que ela fez ao Rio de Janeiro, onde ficava a sede do governo antes da construção de Brasília.
Cerca de 10 anos depois, durante a Segunda Guerra, a Peterlongo conseguiu fechar um contrato de exportação para os Estados Unidos. A bebida era usada em batismos de aviões e navios de guerra, entre outras formas.
Todos esses episódios estão em fotografias e registros no Museu Manoel Peterlongo, dentro da empresa, um dos temas do roteiro de visitação turística aberto ao público em geral. As pessoas podem conhecer o processo produtivo atual e histórico da empresa, onde estão pipas ovaladas de madeira grapia, de 6 mil a 12 mil litros, adquiridas em 1950, mesmo ano da chegada da televisão no Brasil, quando Assis Chateaubriand criou a TV Tupi.
No passeio, o público também passa por pipas menores, de carvalho, onde há 10 a 12 anos repousa um conhaque. A empresa ainda está decidindo o que fará com a bebida, mas uma das hipóteses é de que ela seja engarrafada e vendida no rol de produtos em comemoração a outro centenário, em 2015, que marcará um século do registro do CNPJ da empresa (1915).
No museu estão livros e fichas de registros dos primeiros funcionários, entre eles, mulheres, o que era incomum para a época. Há fotos da linha de produção em que eles e elas aparecem lado a lado no trabalho diário.
- O Armando Peterlongo sempre dizia que a mulher trabalha com amor e dedicação - comenta a analista de marketing da empresa Jaqueline Camillo.
Rótulos de bebidas históricas estão expostos nas paredes. Entre eles, dois da década de 1920, um feito com pó de ouro e outro com pó de prata. Muitos eram desenhados pelo próprio Armando. Um bloco de anotações mostra a letra dele. Jornais da época, alguns deles estrangeiros, como o New York Tribune, estampam campanhas publicitárias da Peterlongo na década de 1940.
Antigamente, o champanha era embalado em caixas de madeira, antes da inserção do papelão, iniciada a partir do início da década de 1970. O último exemplar de madeira, com as respectivas garrafas originais, também está exposto. Há muitas fotografias e máquinas históricas utilizadas no processo de fabricação das bebidas.
A base da cantina foi construída com 10 mil metros quadrados de pedras basálticas, encaixadas manualmente uma sobre a outra. O material garante que o subsolo da empresa tenha uma temperatura constante entre 12° e 16°, desde quando foi construído, um ambiente ideal para as bebidas.
Na parte subterrânea do prédio fica a cave, onde até hoje são produzidos os champanhas no método champenoise, o mesmo utilizado pelo monge francês Don Pèrignon, descobridor destes vinhos efervescentes.
Centenas de garrafas descansam inclinadas com o bico para baixo em pupitres de madeira. Periodicamente, operadores e enólogos giram os recipientes de forma que as leveduras sejam levadas ao gargalo. O processo se chama Remuage, na qual a segunda fermentação é feita dentro da própria garrafa. Assim é feita a bebida na região francesa de Champagne.
- É uma função muito bacana e gratificante, porque, com o tempo, conseguimos acompanhar o resultado do nosso trabalho - relata o enólogo da empresa, Ricardo Morari.
Na cave estão fotos da construção da empresa da década de 1910, com as pedras basálticas, cada uma com cerca de 100 quilos, sendo acomodas. Ao lado das fotos, garrafas que serão comercializadas para a comemoração do outro centenário, em 2015, descansam à espera da comercialização.
A cave tem uma temperatura média entre 12°C e 14°C. A saída é por um túnel que o próprio Armando mandou construir. Ele é voltado para o Sul, e recebe um dos ventos mais frios característicos do Estado, o Minuano. A entrada constante deste ar ajuda a manter a temperatura da adega.
No túnel também há pupitres com champanhas que Armando selecionava para servir exclusivamente nas festas particulares que oferecia. As garrafas estão lá exatamente como ele deixou, antes de ter morrido durante uma viagem à Itália, em 1966.
Os descendentes de Armando deram continuidade da empresa até 2002, quando ela deixou de ser familiar e atualmente é administrada por um grupo de investidores. Nome e história da família precursora foram preservados.
Município ligado ao espumante
Garibaldi respira espumante. Vinícolas nasceram na cidade e outras de foram também se estabeleceram. O município criou a Rota dos Espumantes, onde o turista tem a oportunidade de degustar os espumantes em empresas pequenas e familiares até grande grandes multinacionais, como a francesa Chandon.
O bondinho que faz o roteiro turístico, um caminhão de guerra adaptado para o transporte de 40 pessoas, foi batizado de Tim Tim, em alusão ao brinde com taças de espumante.
Garibaldi tem uma Confraria do Espumante e o Bar do Joe criou um ambiente que foi denominado de Champanharia. No passeio de Maria Fumaça, que sai de Bento Gonçalves e vai até Carlos Barbosa, os turistas brindam com espumante, na parada histórica estação garibaldense.
Como todo este festival temático borbulhantes, claro que o município não poderia deixar de ter seu evento próprio, a Festa Nacional do Espumante (Fenachamp), que neste ano está na 13ª edição e será de 3 a 27 de outubro, de sexta a domingo.
Até na história da Fenachamp a família Peterlongo foi pioneira. A rainha da primeira edição, em 1981, foi Ana Beatriz Peterlongo Franciosi, filha de Eneida Peterlongo e uma das netas de Armando Peterlongo. Ambas residem hoje em Porto Alegre.
Na época, o evento recebeu o então presidente da República João Baptista Figueiredo, que foi o último chefe da nação do regime militar, antes da reabertura política no Brasil.
Uma das atrações da Fenachamp neste ano será o sabrage coletivo, que tem cerca de 300 inscritos. A meta é superar a própria marca já registrada no livro dos recordes, o Guinness Book, que é de 196 pessoas, também de Garibaldi.
O sabrage é uma tradição francesa para celebrar vitórias, em que o guerreiro Napoleão Bonaparte degolava as garrafas de champanha com um único golpe de sabre, uma espécie de espada curta.
A Fenachamp terá ampla programação cultural, com feira comercial e industrial. Confira a programação completa em www.fenachamp.com.
Champagne ou espumante
Por causa do tratado de controle de origem, apenas o produto feito na região de Champagne, no nordeste da França, pode ser denominado de champanha.
No restante do mundo, a bebida pode ser designada de espumante. A Peterlongo, por ter começado a produzir antes do tratado, em 1927, ganhou judicialmente o direito de usar a denominação champanha em um produto vendido no Brasil.
Em dezembro do ano passado, a presidente Dilma Rousseff anunciou que o Brasil reconhece oficialmente o registro de indicação geográfica Champagne apenas para os franceses. Mesmo assim, a Peterlongo se considera no direito de continuar usando a denominação, graças à decisão judicial.
Existem outras variações de bebidas semelhantes no mundo. Uma delas é o prosecco italiano, que, diferentemente dos champanhas, são feitos no método charmat, em que a segunda fermentação ocorre em grandes tanques de aço inox e não na própria garrafa.
Números da Peterlongo