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A manutenção da proibição da extração de areia do Rio Jacuí por três empresas abastecedoras de boa parte das obras de Porto Alegre e da Serra agrava cada vez mais a situação das distribuidoras de areia de Caxias. Os estoques vazios elevaram o preço em mais de 60% desde maio. A esperança é a intervenção do governo estadual, que encaminhou à Justiça Federal uma petição para que seja autorizada mineração no Jacuí até que novo zoneamento seja feito pela Fepam.
Enquanto o impasse se mantém, quem vê o preço aumentar e a oferta diminuir são as distribuidoras. O impacto, naturalmente, se dá no bolso do consumidor. Para buscar areia, empresas de Caxias têm percorrido 600 quilômetros até Cristal (Sul do Estado), que é banhada pelo Rio Camaquã. A cidade está sendo tão procurada por distribuidoras gaúchas que os caminhões amargam esperas de até dois dias.
- Na terça-feira, logo cedo, saiu um caminhão para buscar areia. O motorista chegou lá às 9h e me ligou avisando que tinha fila e que só carregaria na quarta, então estou sem areia. As construtoras me ligam para vir buscar, mas não tem - explica Valderez Telh, proprietário da distribuidora Telh Areia e Brita, do bairro Medianeira.
A principal demanda do mercado é por areia regular e grossa, normalmente empregada em pisos, assentamento de tijolos, concreto e reboco grosso. A areia média lavada, para rebocos mais delicados, ainda é encontrada no mercado. Antes de maio, as distribuidoras de Caxias buscavam areia em Sapucaia do Sul (Região Metropolitana), com matéria-prima do Jacuí.
Apesar das dificuldades, o proprietário da Pinto Comércio de Materiais de Construção, Ivan da Silva Pinto, afirma que tem conseguido atender os clientes sem deixar faltar areia.
- Com essa situação, foi aumentando o preço. Eu acredito que quem está perdendo mais somos nós, pois nosso custo aumentou. As lojas de material de construção têm vendido a R$ 110, R$ 120 o metro cúbico - afirma Pinto.
Enquanto o momento é desfavorável para a tradicional areia de rio, quem trabalha com areia de brita, a chamada areia industrial, tem observado crescimento nas vendas. O artigo, obtido a partir da trituração de rochas de basalto, pode ser empregado em diferentes misturas no canteiro de obras. Em alguns casos, pode substituir 100% a areia comum.
Na Brita e Concreto Caxiense Fagundes, o último mês apresentou incremento de 30% nas vendas da areia de brita. Segundo o gerente geral da empresa, Clóvis Aires de Alencar Neto, o manejo do produto é semelhante ao da areia de rio, porém as proporções empregadas em cada traço (a receita do concreto) são definidas pelo responsável pela obra.
- Embora a areia de rio possa ser substituída pela de brita, existe ainda a questão cultural. Quem trabalhou durante muitos anos com a de rio, acaba apresentando resistência natural ao novo produto - explica Alencar Neto.