O cenário cultural de Caxias do Sul começa 2024 em luto com a morte do bailarino, intérprete e diretor Ney Moraes, aos 58 anos. Com uma carreira consolidada de mais de 30 anos, ele deixa um legado para o desenvolvimento da dança na cidade. O artista lutava há cerca de três anos contra um câncer no pescoço e faleceu em decorrência da doença por volta das 20h de domingo (31).
Valdecir Jorge Silveira Moraes, que depois ficou conhecido como Ney Moraes, nasceu no dia 10 de junho de 1965 em Caxias do Sul. A carreira na dança começou em 1989. No mesmo ano, foi atuar no Equador, onde conheceu Verônica Gomezjurado Zevallos, que se tornaria sua esposa. Eles se casaram nos dois países.
Após o casamento, o casal foi convidado por Sigrid Nora para retornar a Caxias e auxiliar na criação da Cia. Municipal de Dança, em 1997, que no futuro serviu de exemplo para o surgimento de outras iniciativas no Rio Grande do Sul e no Brasil. Junto com a Cia, foi criada a Escola Preparatória de Dança, que ajudou na formação de inúmeros alunos e contou com papel fundamental de Ney.
Sigrid e Ney se conheceram ainda na década de 1980 quando eram bailarinos do Grupo Raízes, que levou o nome de Caxias do Sul para todo o Brasil. Eles também trabalharam juntos no Ney Moraes Grupo, coletivo do próprio artista.
— Além de bailarino, era um excelente professor. Todo esse sucesso, essa visibilidade que ele criou ao redor dele, não foi apenas como bailarino, mas principalmente como professor — descreveu Sigrid.
A ausência de formação acadêmica não impediu Ney de inovar. Com inúmeros cursos técnicos realizados ao longo da carreira e, principalmente, com o talento único, ficou muito conhecido com a dança contemporânea. Antes disso, atuou como mestre de capoeira.
— As características do trabalho dele foram mais um ponto de destaque, porque ele seguiu um caminho até antes não trilhado por ninguém, ele criou uma técnica própria de dança. O que ele criou em termos de técnica era muito personalizado, não eram passos feitos, ele investia nas possibilidades corporais dos bailarinos.
Emocionada, Sigrid disse que o amigo sempre estará com ela:
— De muita amizade, pessoalmente e profissionalmente. Somos, porque para mim continuará sempre esse vínculo, muito amigos — finalizou.
Gratidão pelos ensinamentos e cuidados
A comoção entre amigos e admiradores do trabalho de Ney Moraes evidencia que, além de grande profissional, era uma pessoa amada e querida por aqueles que o conheciam. Atualmente morando em Viena, na Áustria, Evandro Pedroni relembra com carinho de Ney Moraes. Na Europa desde 2010, conta que o sucesso na carreira está ligado ao artista que, em 2000, foi seu primeiro professor na Escola Preparatória de Dança de Caxias.
— Além do ensinamento na dança, Ney me ajudou a amadurecer e crescer como ser humano. Me ensinou a importância do comprometimento e da disciplina quando se quer algo e a sempre dar o melhor no momento presente. Se hoje estou trabalhando com dança aqui na Europa, foi porque o Ney investiu e acreditou em mim. Grato sempre por seus ensinamentos e pelo seu cuidado — descreveu.
A secretária municipal da Cultura, Cristina Nora Calcagnotto, que foi aluna de Ney e Verônica na década de 1990, relembra com carinho do artista. Segundo ela, o artista foi fundamental para o cenário cultural da cidade e para levar o nome de Caxias do Sul para além das fronteiras gaúchas. Eles também trabalharam juntos na Cia. de Dança, quando ela foi diretora entre 2009 e 2015, e coordenadora da Escola Preparatória de Dança, de 2007 a 2009.
— Ele é reconhecido não somente no nosso país, mas em termos internacionais também. Ele trabalhava com um formato de dança que era único, tinha a marca dele, a chancela Ney Moraes. Para Caxias é uma perda lastimável não só na área da dança, mas para além disso, muitos profissionais da área da cultura que se aconselharam com ele, tiveram ele como mestre. Caxias não perde só um artista, perde um profissional com que contribuiu em muitas outras áreas. Dificilmente terá um outro Ney Moraes.
Ney Moraes era casado com a equatoriana Verônica Gomezjurado Zevallos e, além da esposa, deixa amigos, familiares e admiradores do seu trabalho. Às 16h dessa segunda-feira (1º) haverá cerimônia de despedida e cremação no Memorial Crematório São José.