"Um dia Beatle". É assim que o escritor e professor mineiro Gilvan Moura definiu o próximo sábado (7) em Caxias do Sul. Isso porque ele estará na 39ª Feira do Livro para falar do livro A Liverpool dos Beatles, além de outras obras do fab four das quais Moura participou da tradução. Tudo isso ele vai contar no bate-papo Ticket to read: uma conversa sobre Beatles e livros, com a mediação do jornalista e escritor Marcos Fernando Kirst. À noite, o músico Marcelo Gross traz sua banda ao Stage Music Bar para um show especial com repertório dos Beatles, motivado pela presença do amigo Gilvan.
Antes de ser professor de inglês, Gilvan é colecionador e se declara beatlemaníaco. Em Ouro Preto (MG), onde mora, dá aulas de inglês avançado e tem como atividade paralela o canal Beatles School, no YouTube. Com mais de 51 mil inscritos e 600 vídeos, o professor produz o conteúdo em casa, em um cenário repleto de antiguidades e artigos relacionados à banda inglesa, nos quais discute sobre fatos históricos desde a infância dos quatros integrantes até as novidades que continuam a ser produzidas pelo grupo.
Com o canal, Gilvan ficou conhecido entre os beatlemaníacos, e recebeu convites da Editora Belas Letras, de Caxias, para trabalhar no livro Paul McCartney: As Letras, com a produção de vídeos para a divulgação, e na revisão técnica da tradução do The Beatles Tune In: Todos esses anos (Mark Lewisohn, 2013) e do 1964: Os olhos do furacão (Paul McCartney, 2023).
Neste sábado, o mineiro viaja quase 1,3 mil quilômetros para chegar a Caxias e contar, por uma hora, a história do seu livro e dos seus artistas favoritos — John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr. Em entrevista ao Pioneiro, ele falou sobre a produção do próprio livro, o trabalho com a obra dos ídolos e o interesse quase infinito dos fãs, de diversas gerações, pelos Beatles.
Como será o bate-papo deste sábado?
A gente vai falar sobre livros dos Beatles, mas principalmente sobre os que eu tive participação, com foco no meu livro, A Liverpool dos Beatles. Eu tenho muito orgulho porque o primeiro livro que eu trabalhei com a Belas Letras foi o Paul McCartney: As Letras, que já estava pronto quando eles descobriram o meu canal. Eles pediram para que eu fizesse três vídeos de uma hora para quem comprasse o livro, três aulas de como apreciar o livro, comigo contando mais histórias que o próprio Paul, mais informação. E eles gostaram muito porque deu muito certo, e logo depois veio o convite para poder trabalhar no Tune In, do Mark Lewisohn. Eu não sei bem como vai ser o bate-papo, mas é bom que vai ter o Marcos Kirst me guiando, senão ficaria horas falando de histórias do Band On The Run (Wings, 1973).
Como foi participar da revisão da biografia Tune In?
É a mesma coisa que alguém pedir para eu revisar o Sgt. Pepper’s (1967). É meu livro de referência de todo o início da vida dos Beatles, sempre brinco que o Tune In é a melhor biografia do John, do Paul, do George, do Ringo, do Pete Best, do George Martin, do Brian Epstein, né? Então eu já tinha lido o livro várias vezes por causa da Beatles School. E com isso tive uma oportunidade, porque apareceram dúvidas que eu tive que discutir com o autor, com o Mark Lewisohn. E foi muito interessante, ele foi muito simpático e é como conversar com um ídolo.
Foi daí que surgiu a ideia do teu livro?
A Belas Letras me queria no projeto do Tune In, de alguma forma. Inicialmente, eles queriam um negocinho colado no livro, com os 10 melhores lugares para visitar em Liverpool, como se fosse um guia. Como eu já fui várias vezes, foi fácil, mas quis colocar um pouco de mim mesmo. Então fui escrevendo o que eu, como fã e historiador dos Beatles, achava legal para um beatlemaníaco que fosse a Liverpool ver o que aconteceu de relevante em cada lugar, além de ter sido a casa de infância do John Lennon. Aí o editor, o Germano Weirich, e o CEO da Belas Letras, o Gustavo Guertler, elogiaram e disseram que iam lançar um livro desse material. E ainda tá vendendo muito livro, eu jamais imaginaria isso, mas não é pelos meus dotes literários e, sim, por conta do canal. Não foi uma ideia minha, fiz quase como um exercício.
E como é essa relação com os beatlemaníacos?
Os beatlemaníacos me adotaram como uma coisa que eu não quero ser de jeito nenhum, que é como se fosse um representante dos Beatles. Eles me atrelaram ao assunto, então eles têm esse carinho por mim, que realmente é algo que eu jamais imaginaria. E eu só consigo ver isso quando eu saio de casa. Eu moro em Ouro Preto (MG). Então quando saio e vejo aquela multidão de pessoas querendo apertar a minha mão e tirar foto, isso é muito bacana, é lindo. Os Beatles te proporcionam isso, porque, como as músicas falam de amor, de paz, de compreensão, isso acaba passando pro psicológico das pessoas, e elas acabam sendo legais também.
Os beatlemaníacos me adotaram como uma coisa que eu não quero ser de jeito nenhum, que é como se fosse um representante dos Beatles.
GILVAN MOURA
Professor e escritor
Como foi a experiência de trabalhar em um livro do próprio Paul McCartney?
No final do ano passado começaram a pipocar para a Belas Letras algumas fotos dos Beatles, enviadas pela MPL, a empresa do Paul, eu vi que eram quatro fotos distintas, mas eu consegui fazer um link entre elas. Vi uma em Paris, outra em Nova York, outra em Miami, e entendi que era entre janeiro e fevereiro de 1964. E depois veio o livro, 1964: Eyes of the storm (em português, 1964: Os olhos do furacão), do próprio Paul. A Belas Letras me perguntou o que eu achava, se teria mercado, e falei que o público seria o mesmo do Paul McCartney: As Letras, pessoas interessadas em fotografia e em informação, mas tudo vindo do cara. Então fiz a revisão técnica da tradução, e fiquei muito envaidecido de meu nome estar lá: escritor, Paul McCartney, revisor, Gilvan Moura. Aí você fala "uau", agora só falta apertar a mão do homem. Todo dia de manhã eu me belisco para ver se eu acordei. Realmente, é muito estranho. Para mim foi muito emocionante, mas é algo que você meio que esquece, você fica tão preocupado com o lado do business da coisa que, por exemplo, o meu livro vendeu para caramba e eu só sinto a emoção quando eu encontro beatlemaníacos.
Como é o processo de trazer um livro desse patamar para o Brasil?
São livros caros, tem que fazer uma tiragem que seja confortável, que dê lucro, para primeiro poder pagar os direitos do livro, que são caríssimos. É livro do Paul McCartney mesmo, não é do Zé da Esquina, não é do Gilvan Moura. É livro do cara, e o Tune In também, de um cara respeitado no mundo inteiro. São projetos que têm que se pagar. Tem que ter uma responsabilidade muito grande do que você coloca no mercado. A primeira coisa que a gente tem que fazer é a tradução. Os direitos autorais são caríssimos, se for lançamento, então, Deus me livre. E aí tem a revisora da parte de português, tem um revisor técnico, tem um cara que vai fazer arte, tem cláusulas no contrato de que até o papel tem que ser específico porque tem que ser igual ao original. Você tem que fazer um lançamento em igual qualidade.
Por que os Beatles ainda fazem sucesso quase 60 anos depois do fim da banda?
A geração que viveu os Beatles, hoje em dia, são vovôs, são pessoas que hoje estão, no mínimo, com 70 anos. Beatles é uma coisa meio parecida com futebol, parece que Beatles é uma das poucas bandas que os avós passaram pros filhos e os filhos passaram pros netos, é como se fosse uma coisa cultural. Eu vivi isso na minha família. Eu não tenho filhos, mas meus sobrinhos todos gostam de Beatles. Então eu acho que os Beatles é uma coisa muito fácil de você passar adiante. Os ex-Beatles e suas famílias, a viúva do George e a viúva do John, têm sido muito espertos ao longo das décadas, que de três em três anos vem alguma coisa, um documentário aqui, um relançamento ali, então os Beatles, mesmo não existindo mais há quase 60 anos, eles estão muito presentes. Os Beatles foram muita coisa, foi moda, foi música, foi comportamento e isso é muito difícil acontecer de novo.
E quais são os próximos projetos?
Nós temos alguns livros que a Belas Letras tá correndo atrás dos direitos autorais. A gente tenta e também dá uma olhada no público, pra ver o que interessa. Na Beatles School, se eu fizer vídeo de fofoca, aí bate 15 mil, 20 mil visualizações, e um vídeo histórico só três mil. Eu queria que as pessoas aprendessem mais, curtissem mais os fatos históricos do que a fofoca, mas é o YouTube. Nós temos, sim, alguns projetos. Eu tenho um projeto de um de um próximo livro, a Londres dos Beatles. Está sendo um livro muito prazeroso, até mais prazeroso do que o de Liverpool, que eu tive que fazer muita pesquisa, esse de Londres tenho 90% aqui dentro da minha cabeça, eu morei lá, fui lá várias vezes, então eu já vi o local e o que eu tenho que fazer agora é informar as pessoas. Eu já comecei a fazer uma lista dos locais porque é muito mais história. Agora a gente vai pra outra fase dos Beatles, porque a história em Liverpool termina em março, abril de 1963. Meu sonho é A Liverpool dos Beatles ser colocado em inglês e ser vendido em Liverpool, isso seria, para mim, "uau, consegui".
Programe-se
Bate-papo com Gilvan Moura
- O quê: Bate-papo "Ticket to read: uma conversa sobre Beatles e livros", com Gilvan Moura e Marcos Fernando Kirst.
- Quando: sábado (7), às 17h.
- Onde: Palco da Feira, na Praça Dante Alighieri.
- Quanto: Entrada franca.
Especial Beatles com Marcelo Gross
- O quê: Marcelo Gross (Cachorro Grande) toca Beatles + abertura de Henri Franzoi Trio.
- Quando: sábado (7), às 22h (abertura do bar às 19h).
- Onde: Stage Music Bar (Rua Garibaldi, 988).
- Quanto: Antecipados a R$ 20. Na hora, R$ 30.