“A imagem não é um certo significado expressado pelo diretor, mas um mundo inteiro refletido como que numa gota d’água”. A frase foi retirada do livro Esculpir o tempo, escrito pelo cineasta Andrei Tarkovski. A obra é mais do que um livro sobre cinema. É um mergulho filosófico em todos os aspectos da arte cinematográfica. Não por acaso, é citado pelo cineasta e artista plástico, Cao Guimarães, na entrevista a seguir.
Guimarães vem a Caxias do Sul pela primeira vez. Chega hoje para encarar uma jornada dentro e fora de uma sala de cinema. Ele participa de um master class, nesta quinta-feira (11), acompanha a sessão de seu longa-metragem Espera, sexta-feira (12) e, no sábado (13), coordenará uma oficina audiovisual.
Na abertura do master class, o público poderá rever ainda alguns dos seus curtas-metragens exibidos na semana passada. A programação gratuita é uma realização do Ponto de Cultura NAV – Núcleo Audiovisual FSG. Confira a seguir, as ideias do criador:
Como chegou a uma autoria, nesse cruzamento das linguagens do audiovisual com as artes plásticas?
É uma simples consequência de você ficar fiel ao seu impulso ou desejo criativo e não abrir concessões. E isso, naturalmente, gera uma assinatura ou uma mirada, um olhar original para o mundo, né? Sobre o mundo. Acho que sou um ser da imagem, que comecei desde cedo aprendendo o mundo através cinema. Foi o cinema que me abriu as portas do mundo e as diferentes formas de olhar para o mundo. Meu cinema foi crescendo junto com essa revolução tecnológica do vídeo, do digital. E fui abduzido, digamos assim, pelas artes plásticas, pelo universo dos museus, das galerias. Fui migrando, transitando entre esses dois mundos dos festivais de cinema e das exposições dos museus, das galerias.
Quais contextos ético-estéticos te interessam no mundo contemporâneo?
O que me interessa desde sempre é uma ação, digamos, quase política com relação ao tempo cinematográfico. Tentar aproximar o tempo cinematográfico do tempo da vida. A velocidade das coisas do mundo contemporâneo eu acho muito vertiginosa. A relação entre esse mundo virtual e a realidade virtual é a realidade física. Mas, principalmente, essa questão da temporalidade que o cinema é uma arte no tempo. É uma arte de imagem e som e o terceiro elemento é o tempo, né? Como dizia o Tarkovski, é “esculpir o tempo”.
Como as novas tecnologias, inteligências artificiais e realidades expandidas devem ser percebidas hoje?
Temos de ser muito cautelosos nessas relações com inteligência artificial e com realidade virtual. Primeiro, porque nós somos feitos ou constituídos de cinco sentidos. Se você passa a maior parte do tempo se relacionando com as várias realidades do mundo através de uma tela você naturalmente embota, não é? A gente não nasceu pra ver o mundo através de uma tela. Pelo contrário. Então é muito perigosa a quantidade de tempo que você passa intermediado por uma tela. E essa questão de inteligência artificial nem se fala. Eu sou muito reticente, quase pessimista, porque eu acho que é inevitável, mas eu não sei se a gente daria conta, né? É muito perverso o poder dessa inteligência artificial e a mesmice do ser humano. A graça do ser humano é justamente a alteridade, o outro, diferente de si.
Como é a experiência do diálogo via master class, sessão de cinema e oficina de criação?
Eu adoro fazer isso. Acho que são momentos de interação e de troca. O cinema, a arte de uma forma geral, não é igual às ciências exatas, não é igual à matemática, em que uma operação, como o teorema, sempre será o mesmo em qualquer lugar do mundo. Um filme em Caxias do Sul, ou em Uganda, ou no Japão, serão filmes completamente diferentes um do outro. Então, o debate é fundamental. É a magia.
Programe-se
- O quê: Masterclass com Cao Guimarães.
- Quando: Quinta-feira (11), às 19h30min.
- Onde: Teatro da FSG.
- Inscrições gratuitas neste site ou presencialmente no dia do evento.
- O quê: Exibição do longa-metragem “Espera”, com a presença do diretor Cao Guimarães.
- Quando: Sexta-feira (12), às 18h.
- Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia (Centro de Cultura Ordovás).
- O quê: Oficina Audiovisual com Cao Guimarães.
- Quando: Sábado (13), das 9h às 18h30min.
- Onde: Ponto de Cultura NAV - Núcleo Audiovisual FSG
- Inscrições gratuitas neste site.