Desde a infância, quando cheguei em Caxias do Sul, vindo de Bento Gonçalves, coleciono memórias da Rua João Paternoster, no bairro Rio Branco, onde brincava pelas esquinas seguras da cidade com meus irmãos, pelos pátios das escolas e desvendava um pouco do território progressista que se tornou um mundo todo e assim como eu, acolheu e acolhe imigrantes de outras paragens. Eleger um ponto específico deste espaço é desafiador. Primeiro, por conta da transformação da fisionomia do mapa de Caxias, depois, porque minha jornada sempre foi em torno das “gentes” que vivem neste lugar.
O passado e o presente se fundem no meu amor por Caxias do Sul. Repetidamente me imagino vivendo na Pérola das Colônias lá pelos idos anos da década de 1900, no início da construção da Estrada de Ferro, com a chegada do trem, ou nas glamourosas recepções que ocupavam os salões do Clube Juvenil e do Recreio da Juventude, instituições que frequento há muito. Esses traços de cultura e elegância herdados se refletem até hoje nestes ambientes. Pelas pesquisas nas quais me debrucei, essas agremiações serviram de palco para comemorar a história de conquistas da comunidade. Lembro das Festas da Uva, que me encantavam com os desfiles alegóricos na Rua Sinimbu, e das vitrines do Eberle. Tenho um prazer em vislumbrar a cidade através das janelas nos diversos endereços que frequento. Os meus espaços prediletos são sempre aqueles em que é possível observar traços arquitetônicos que representam o que Caxias foi e o que será. Canceriano nato, amo a conexão da Caxias de hoje com a dos velhos tempos.
Há endereços que norteiam minha memória saudosista como, por exemplo, o extinto Colégio Santo Antônio dos Freis Capuchinhos, o Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza, o charmoso distrito de Ana Rech, o bairro Cruzeiro, o Panazzolo e a Rua Alfredo Chaves, locais onde estudei, aprendi e vivi. A religiosidade é outro aspecto para o qual minha bússola interior sempre se direciona. A atividade profissional que dedico meus dias também impulsiona a aproximação com as icônicas igrejas de São Pelegrino, Nossa Senhora da Imaculada Conceição e a Catedral Diocesana. Nelas, testemunhei muitos casamentos, batizados e encontros de fé. Passear pelas avenidas e ir ao encontro das pessoas é a constatação de que Caxias é uma cidade grande, um marco para o desenvolvimento da Serra gaúcha.
O meu privilégio é caminhar por ruas arborizadas e repletas de canteiros que exibem a exuberante natureza local, que cada vez mais precisa de cuidado e, para isso, devemos repensar a maneira como agimos em relação ao meio-ambiente para preservá-lo às próximas gerações. Viver a Caxias do Sul deste tempo é construir a cidade do futuro, mesmo que nosso momento seja aqui e agora. Caxias do Sul é o meu lugar no mundo!