Quem são esses homens e mulheres que se movem pela cidade? O que pensam, veem, ouvem, sentem? Que cheiro tem a cidade, suas esquinas, suas ruas? O que comem essas pessoas, para onde vão com tanta pressa, de que forma fazem amor? Sabem da existência umas das outras? Observo a cidade e o seu deslocar-se. Desloco-me também. As calçadas são corredores de passagem do anonimato. Entre tantos e todos somos mais um. Milhares de gentes cruzam o asfalto que rasga a cidade em quadras, pedaços. Passamos uns pelos outros, às vezes nos vemos, nos aproximamos, mas nem sempre nos reconhecemos, para tão rapidamente, nos afastarmos. Dançamos uma dança da ilusão de que por sermos muitos seremos menos solitários. A cidade é um corpo vivo e nu, cheio de marcas. Marcas deixadas pelo tempo, pela memória, pelos sonhos. Cicatrizes de recortes, aterros, remodelações, violências. Pisamos num chão soterrado de histórias de pessoas que jamais imaginaram que o futuro seria esse nosso presente. Somos parte de um rizoma que resiste à marcha e ao peso dos corpos que atravessam gerações.
Olhares sobre a cidade #2
Notícia
Adriana Antunes: a cidade sem fim
Consola-me pensar que um dia, anonimamente, seremos parte desta paisagem
Adriana Antunes
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