Caxias do Sul não é só a terra natal de Ítala Nandi, 79 anos. Foi na cidade que, ainda adolescente e estudante do colégio São Carlos, ela se interessou por teatro pela primeira vez. Entrou de cabeça nesse universo e lembra com carinho das irmãs Gerda e Cecília Bornheim, suas parceiras nessa empreitada ao mundo novo. A paixão pelos palcos impulsionou Ítala por caminhos muitos especiais dentro da arte e ainda hoje tem lugar cativo em meio às inúmeras atividades por ela realizadas.
– Considero que o teatro é a vida eterna– define ela.
Prestes a completar 80 anos – celebrados no próximo dia 4 – é claro que a atriz escolheu a linguagem teatral para revisitar a própria história. A peça autobiográfica Paixão Viva será apresentada em Caxias neste domingo (29), Teatro do Sesc. O espetáculo está estreando nacionalmente no Rio Grande do Sul, algo inédito na história da artista.
Ítala viveu em Caxias do Sul até os 16 anos, depois mudou-se para Porto Alegre, outro lugar que ajudou a abrir possibilidades em seu horizonte:
– Foram dois anos marcantes porque peguei todo movimento de legalidade. E lembro que havia um grande desejo do Fernando Peixoto, meu marido que era crítico de teatro, e do P F Gastal, que era crítico de cinema, em criar o Festival de Cinema Gramado. Essas reuniões eram todas feitas no meu apartamento, praticamente.
Em Paixão Viva, Ítala narra momentos e histórias que ajudam a compreender as muitas facetas de sua persona. Um dos assuntos abordados é a influência que a artista teve num processo bem demorado e ainda em curso:
– Fui uma libertária pelas mulheres, influenciei muito com entrevistas que fiz na (revista) Realidade questionando por que um homem que transa com muitas mulheres é um machão e a mulher que transa com mais de dois é uma puta. A Leila Diniz e eu fomos muito libertárias nesse sentido – reflete.
O teor autobiográfico de Paixão Viva também conduz o público pelo contato estreito de Ítala com o cinema e a telenovela, dois universos pelos quais ela circulou muito. Inclusive, uma das histórias que a caxiense mais tem repetido em entrevistas recentes envolve justamente essas duas linguagens. É que, com o sucesso do remake da novela Pantanal, a atriz muito tem sido questionada sobre sua experiência vivendo a Madeleine na primeira versão da obra, de 1990. A morte da personagem foi incluída na história porque Ítala precisou sair da tevê para encabeçar um projeto como diretora de cinema. Na época, ela recebeu um prazo apertado do governo da Índia para filmar o longa Índia, o Caminho dos Deuses.
– Quando estou fazendo Pantanal, o embaixador da Índia no Brasil me liga e diz que eu tinha que filmar até o final do ano. Chorei para c*, porque eu adorava fazer a Madeleine, a história dela era linda. O Jayme Monjardim me entendeu muito bem, mas o Benedito Ruy Barbosa não fala comigo até hoje. Acho até que ele tem razão, porque depois percebi o quanto a personagem fez falta – conta.
De seus primeiros contatos com os palcos, ainda em Caxias e Porto Alegre, até sua passagem pelo icônico Teatro Oficina de São Paulo, Ítala foi se reconhecendo como artista em cada atividade que exerceu. Sua história inclui ainda participação em mais de 20 filmes, passagens pelos maiores festivais de cinema do mundo, e a popularidade garantida por meio de produções televisivas icônicas como Direito de Amar, Que Rei Sou Eu? e A Casa das Sete Mulheres. No ano em que completa 80 anos, ela ainda estará em mais três filmes, incluindo um com roteiro assinado por ela mesma. Essa ânsia pelo contato incessante com arte tem justificativa simples e densa.
– A arte é a única saída – sintetiza.
Programe-se
- O quê: espetáculo Paixão Viva, com Ítala Nandi.
- Quando: neste domingo, às 20h.
- Onde: Teatro do Sesc (Rua Moreira César, 2462), em Caxias do Sul.
- Ingressos: R$ 30 (geral) e R$ 20 (usuários do Cartão Sesc/Senac nas categorias Comércio e Serviços ou Empresários, estudantes, classe artísticas e idosos).
- Classificação: 14 anos
- Duração: 90 minutos