Uma história que parecia se encaminhar para um feliz teve uma triste reviravolta. O antigo Moinho Covolan, prédio histórico no centro de Farroupilha, foi desocupado nos últimos dias, cumprindo uma decisão judicial do último dia 2 de dezembro, que dava como prazo de saída até esta segunda-feira, sendo que a sentença autorizava a desocupação compulsória, com autorização para arrombamento e uso de força pública.
Gustavo Covolan, que morava e mantinha um bar no local, que também abrigava um museu, conta não ter tido outra saída. Além da ordem para desocupar, Gustavo e seu pai, Álvaro, 92, único filho vivo do patriarca Antonio Covolan, também terão de pagar aos demais herdeiros valor de aluguel retroativo a 2008, por serem os únicos ocupantes do imóvel, além de arcar com os custos processuais.
_ Parece ter havido alguma pressão, porque de repente nosso espaço já não cumpria as exigências, como as de PPCI, e não era mais visto como seguro. Junto com isso veio a interdição e a ordem de desocupação. Fico muito mais abalado por ter de desmanchar o que tínhamos aqui dentro do que por ter de sair _ lamenta Gustavo.
A Associação Moinho Cultural questiona a forma como se deu a saída, a partir de imagens que circularam pela internet ao longo do final de semana. São registros que mostram, na visão da Associação, desrespeito à preservação do imóvel, que em novembro de 2021 teve parecer de tombamento volumétrico favorável do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Compahc). O tombamento ainda depende de assinatura de um decreto pelo prefeito.
_Consideramos urgente que os órgãos de defesa do patrimônio e a Administração Pública Municipal vistoriem e avaliem tecnicamente a extensão dos danos causados ao bem histórico e a dimensão da retirada dos acervos estruturais contemporâneos do Moinho Covolan (janelas, portas, pavimentos, vigas metálicas, escadas, calçadas, estruturas de madeira etc.), inclusive para ter-se um diagnóstico fundamentado sobre as implicações estruturais que o prédio poderá sofrer com o desmanche de parte de sua estrutura interna e de seu entorno _ diz trecho da nota emitida pela Associação na tarde de segunda-feira.
Gustavo Covolan rebate as críticas e diz que se limitou a tirar as intervenções que ele mesmo fez no imóvel:
_ Tirei as portas de emergência, as janelas, o piso e o barroteamento, que apresentava risco. É claro que as imagens parecem agressivas, mas a estrutura original não foi comprometida.
O Compahc afirma ter recebido as mesmas fotos que circularam pelas redes sociais, mas diz não caber aos conselheiros a fiscalização. O órgão enviou um comunicado ao Executivo pedindo que a situação seja averiguada:
_ O Compahc é um órgão de cooperação, que tem por finalidade auxiliar a administração municipal na orientação, planejamento e julgamento de matéria de sua competência. Formalizamos um comunicado ao Poder Executivo sobre as informações e fotos recebidas, para que os gestores tomem as devidas providências _ destaca a presidente do Compahc, Maristela Pessin.
O imóvel deve ir a leilão uma terceira vez. Na sentença em que obriga a desocupação, a juíza Cláudia Bampi aponta que o uso para fim comercial estaria ajudando a deterioração e prejudicando as tentativas de venda judicial do imóvel. Gustavo Covolan comenta que um possível comprador teria colocado como condição o prédio já estar desocupado para dar seu lance.
Em meio a este imbróglio, o futuro do imóvel é incerto, assim como o da entidade que puxou as mobilizações para a sua preservação, e que ao longo dos últimos anos perdeu integrantes e passou a conviver com desavenças internas, que se acentuaram diante de oportunidades de venda do imóvel, cujas contrapartidas de ceder parte do espaço desagravada uma parte dos envolvidos.
Gustavo Covolan espera poder abrir em outro espaço o Muinho Club, negócio que mantém desde 2008. Também espera poder abrigar a salvo e em local aberto ao público o acervo do museu que conta a história da família e do casarão centenário, que corre sério risco de voltar a ser uma ruína no centro de Farroupilha.