Se vivesse na nossa época, é bem provável que a princesa Pauline Bonaparte (1780-1825), irmã de Napoleão, curtisse passar seu tempo livre conferindo as novidades da Netflix. Afinal, é o que quase todo mundo faz, não é mesmo? Na exposição Ícones: O digit@al invadindo o clássico, essa realidade imaginada se torna verdade por meio do olhar artístico de Clayton Macedo. Com abertura marcada para esta quarta (8) em Caxias, a mostra apresenta registros fotográficos de esculturas — entre elas a de Pauline, obra de Antonio Canova atualmente exposta em Roma — com intervenções digitais que sugerem um link com a contemporaneidade. Além da irmã de Napoleão, povoam a exposição outras esculturas barrocas e neoclássicas bem conhecidas, todas interagindo de alguma forma com elementos do nosso dia a dia, como os onipresentes emojis.
Apesar de fotografar há cerca de três décadas, Clayton não se considera profissional. Diz ser mais apegado às possibilidades do tratamento digital do que à técnica de captar a imagem em si. A possibilidade de apresentar uma nova roupagem ao que a câmera registra costuma ser um objetivo perseguido por ele.
— Pela foto não se consegue reproduzir a beleza de uma obra de arte, por isso gosto de fazer intervenções, dar o meu contexto, deixar diferente — justifica.
Macedo atua como médico endocrinologista em tempo integral, mas utiliza a fotografia como uma válvula de escape para relaxar e criar. Um de seus passatempos preferidos é justamente registrar esculturas ao redor do mundo, exercitando ângulos inesperados. Com um grande acervo dessas imagens em mãos, captadas em lugares como Paris, Nova York, Boston, Roma e Firenze; Macedo pensou em dar um novo sentido aos rostos e expressões retratados justamente acrescentando ícones dos nossos tempos. As conexões propostas pelos trabalhos do artista são povoadas de humor e criatividade:
— Imaginei, por exemplo, algumas faces de esculturas em perfis do Linkedin, Tinder, WhatsApp.
Em outra sequência exposta, Macedo apresenta imagens em fragmentos, como se estivessem num demorado processo de carregamento de visualização.
— Quando elas foram para impressão, a responsável pela gráfica me ligou para dizer que havia acontecido algum erro, que o arquivo estava corrompido (risos). Expliquei a ela que esse era justamente o objetivo — conta o artista.
Um dos cuidados que o fotógrafo teve ao trabalhar em cima das imagens de esculturas icônicas foi padronizá-las em preto e branco para manter uma certa pureza, preparando o terreno para as divertidas intervenções digitais que viriam a seguir. O resultado é uma mostra que coloca o hoje a flertar com o antigo, podendo inclusive carregar a nobre função de apresentar históricas obras de arte às gerações mais jovens, fisgando-as por meio de uma linguagem menos erudita e mais divertida.
PROGRAME-SE
- O quê: exposição Ícones: O digit@al invadindo o clássico, com obras de Clayton Macedo e curadoria de Jane de Bhoni.
- Onde: Galeria de Arte Gerd Bornheim, na Casa da Cultura de Caxias (Rua Dr. Montaury, 1333).
- Quando: abertura nesta quarta (8), das 18h às 21h. Visitação até o dia 1º de outubro, de segunda a sexta, das 8h às 18h; e sábados, das 10h às 16h.
- Quanto: entrada gratuita.
- Visita online: por meio do https://sites.google.com/view/uavdigital.