Depois de mais de um ano sem conferir uma apresentação de orquestra, o maestro Gilberto Salvagni sentiu-se novamente arrebatado pelo poder da música quando esteve na plateia de um concerto da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), há cerca de um mês.
– Me emocionei muito e pensei: “como é importante a gente ter esse contato com a música, como isso estava fazendo falta para a minha vida”. Nesta hora, quis que as outras pessoas também pudessem ter essa mesma sensação, de comprovar que a presença da música faz diferença para a saúde mental – conta Salvagni.
Foi nesse clima que o maestro formatou junto aos músicos da Orquestra Municipal de Sopros de Caxias do Sul o espetáculo Sopro de Esperança. O repertório – que ocupará o Teatro Pedro Parenti neste sábado (11), domingo (12) e na segunda (13) – foi montado justamente com o intuito de saudar o poder da arte e a aproximação de dias melhores.
– O programa é quase uma narrativa musical deste momento – define o maestro.
A primeira parte do espetáculo será um pouco mais densa, e a segunda mais popular. O concerto abre com Cloudburst, de Erick Whitacre, obra inspirada no poder purificador de uma tempestade. A apresentação segue com a execução de Rest, de Frank Ticheli, que embasa sua narrativa num poema sobre o descanso eterno. Conforme Salvagni, é uma maneira também de lembrar das pessoas que morreram durante a pandemia, mas sempre evidenciando que a vida tem continuidade. A terceira peça do espetáculo é Clair de Lune, composta por Claude Debussy durante um estágio de profunda depressão. Porém, de dentro de seu apartamento em Paris, o compositor se deixou iluminar pela luz da lua.
– É um facho de esperança – reflete Salvagni, sobre a obra.
A primeira parte do espetáculo completa-se com Spring, de Johan de Meij, que celebra os primeiros raios de sol após um inverno muito rigoroso.
– A música vai clareando aos poucos, passando do sombrio para o eufórico. É um pouco a nossa expectativa de uma primavera logo mais em relação à pandemia, de podermos voltar aos poucos para vida – compara o maestro.
Após essa espécie de catarse sugerida por meio da música, a orquestra fará um pequeno intervalo. A segunda parte do espetáculo Sopro de Esperança contemplará melodias mais conhecidas do público, como as trilhas dos filmes Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões e Sete Homens e um Destino. Encerram o repertório Ponteio, de Edu Lobo, e Novo Tempo, de Ivan Lins. Essa última, escolhida justamente por seu clima de resiliência.
– É uma música de renovação do ânimo que tem tudo a ver com o momento – sugere o maestro.
Grupo menor
Gilberto Salvagni assumiu a orquestra em julho, após a saída de Fernando Berti. Apesar de já ter estado à frente do grupo entre 2009 e 2016, desta vez o maestro precisou lidar com um pesado desafio. Por conta da crise econômica, o corpo de músicos passou de 54 para 35. Segundo ele, a mudança se deu também para poder comportar a orquestra em palcos como o Teatro Pedro Parenti – onde ocorrem os concertos Sopro de Esperança – respeitando os protocolos sanitários.
– Os palcos não comportam o distanciamento necessário entre os músicos. O público também precisa manter um espaço entre si, e este é um dos motivos de estarmos fazendo três sessões do espetáculo desta vez – comenta o maestro.
Salvagni diz que a expectativa é que o grupo possa voltar a readmitir músicos a medida que a crise for atenuada.
Programe-se
- O quê: concerto “Sopro de Esperança”, da Orquestra Municipal de Sopros.
- Quando: neste sábado (11), domingo (12) e segunda (13), sempre às 20h.
- Onde: Teatro Municipal Pedro Parenti (Rua Dr. Montaury, 1.333).
- Quanto: a entrada é franca, mas é necessário retirar os ingressos na Casa da Cultura, mediante a entrega de um quilo de alimento não perecível. Ainda há ingressos disponíveis para os três espetáculos – cada pessoa pode retirar até duas entradas. Se houver disponibilidade, a bilheteria do teatro abrirá duas horas antes de cada espetáculo.