Com uma trajetória artística que praticamente se confunde com a trajetória da Orquestra Municipal de Sopros de Caxias do Sul, o maestro Fernando Berti anunciou sua saída do grupo. Ele pediu exoneração do cargo que ocupou, primeiramente, entre 1997 e 2008, e depois, de 2017 até agora. Em conversa com a coluna, Berti disse que sua volta à orquestra, neste segundo momento, teve o intuito de promover um "retorno à cena", com concertos marcantes, grandes convidados, parcerias. Conforme ele, o objetivo foi alcançado, porém, em paralelo a isso, também começaram a ocorrer perdas.
— Quando você faz um trabalho artístico relevante, a expectativa é que se ganhe condições e não que se perca. Não é fácil estar tomando esta decisão, mas eu não via mais muito sentido em estar à frente de um grupo sem poder colocar em prática minhas aspirações e as ideias que eu tenho com relação ao que é possível fazer com essa formação — justificou Berti.
Ela cita a diminuição no número de encontros da orquestra e até mesmo a pandemia como agravadores da situação.
— A pandemia foi um agente bastante complicador porque nos tirou de cena e, se já era difícil requerer nossas demandas fazendo as realizações artísticas, imagina com a orquestra saindo de cena. Isso acelerou esse processo todo de percepção da minha parte no sentido da dificuldade de continuidade do trabalho — apontou o maestro.
Antes de sair, Berti chegou a sugerir alguns nomes que talvez possam ocupar o cargo deixado por ele. O maestro não acredita que haja alguma possibilidade de extinção da Orquestra Municipal de Sopros neste momento, mas preocupa-se com a continuidade e manutenção do projeto — que no ano passado foi reconhecido pela Câmara de Vereadores como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial de Caxias do Sul.
— O que a gente tem que se perguntar é que tipo de perfil e representatividade a orquestra vai continuar a ter frente ao município sem as condições necessárias para que se realize um trabalho minimamente artístico e representativo, essa que é a questão — questionou.
A secretária da Cultura de Caxias, Aline Zilli, informou que ainda não há um nome definido para substituir Berti, e que o objetivo agora é realizar conversas com os músicos.
— Vamos começar agora um processo de escuta, passando pelos próprios integrantes da orquestra. A gente tinha alguns nomes, conhece alguns nomes, e então vamos também ventilar essas possibilidades — disse Aline.