Entre a esperança e a ação, o trabalho em causas humanitárias, seja por mãos voluntárias ou profissionais, espalha pelo mundo a solidariedade em seu sentido mais profundo, de tornar mais sólidas as relações entre povos, independente de etnia, cor ou credo religioso.
Entre as imagens que marcaram o recém-terminado mês de agosto, estão as de um terremoto que devastou o Haiti, no dia 14, atingindo principalmente as cidades de Cayes e Jérémie e deixando mais de dois mil mortos, e a retomada do poder pelo regime autoritário do Talibã, no Afeganistão, no dia 15, data em que o grupo extremista tomou a capital, Cabul. Desde então, mais de cem mil pessoas fugiram do país, em busca de refúgio. Muitos buscam a fuga pelo mar, e parte morre durante a travessia. Aos que sobrevivem, resta uma vida de incertezas. Desde o início do ano, quando iniciou a ofensiva dos talibãs, mais de meio milhão de afegãos deixaram o país.
Junto às vítimas do Haiti, ou junto aos refugiados de territórios em conflito como a Síria e o próprio Afeganistão, estão pessoas que saíram de Caxias do Sul para prestar sua ajuda. Ao mesmo tempo, em Caxias do Sul grupos de voluntários constroem uma rede de ajuda a refugiados da crise econômica e social na Venezuela. Na Serra, os venezuelanos já conseguem encontrar trabalho, moradia, escola para os filhos e mais dignidade para levar a vida.
A seguir, reunimos relatos de pessoas que se dedicam às causas humanitárias, além de uma mãe de família venezuelana acolhida em Caxias do Sul há cinco meses. Em comum, ajudantes e ajudados só querem um mundo melhor, mais justo e mais pacífico.
O caxiense Vinícius Poletto coordena um grupo de voluntários organizados em um coletivo que, como o próprio nome diz, resulta da união de diversas pessoas e também diversas outras entidades que se juntam para fazer o bem a quem necessita. Um dos focos da atuação é o trabalho junto a população de venezuelanos que desembarcam em Caxias do Sul em busca de uma vida mais digna, longe do país que atravessa uma grave crise econômica. O coletivo se mobiliza para ajudar com abrigo, alimentação, emprego, escola e outras necessidades mais pontuais. Mas deixemos que o próprio Vinícius explique no relato a seguir:
"O Coletivo Social ELO sempre deixou aberto para que a intenção viesse até nós, e não nós até a intenção. Temos 20 pessoas em nosso núcleo mais fixo, e outras 100 pessoas que ajudam, fora os amigos dos amigos e outros grupos.
Começamos atuando junto a moradores de rua, junto a comunidades carentes, e a causa venezuelana veio na minha vida primeiro, depois foi abraçada pelo coletivo. Frequento um templo budista em Três Coroas, e lá tinha duas jovens venezuelanas acolhidas. Mais tarde acolhi elas na minha casa, por três ou quatro meses, agora uma está em Gramado, outra no Uruguai.
A gente viu o conflito de Pacaraima, com muitos imigrantes sofrendo na fronteira da Venezuela com o Brasil, e montamos um projeto de acolhimento. Mandamos para a Organização das Nações Unidas (ONU) e fomos o primeiro grupo de amigos credenciados a fazer o acolhimento. A ONU deu as passagens e nós trouxemos nove pessoas, numa casa alugada por nós. Eles ficaram um tempo, arranjaram empregos e já conseguem se virar.
Outros foram vindo. Hoje administro um grupo de WhatsApp com cerca de 160 venezuelanos em Caxias. Sou o único brasileiro neste grupo. Eles dizem o que precisam e a gente tenta ajudar. Eventualmente a gente consegue tudo, algumas vezes não. O CAM também nos ajuda, assim como outros grupos. A primeira questão é o abrigo. Para que as pessoas não fiquem na rua.
Aumentou muito a vinda de venezuelanos de um ou dois meses para cá. A grande maioria já passou por outras cidades brasileiras e encontra aqui melhores oportunidades e mais respeito. Sentem-se à vontade. Pouquíssimos pensam em sair de Caxias, menos ainda voltar para a Venezuela.
São pessoas que têm suas profissões, que vêm com muita experiência de trabalho e nosso mercado absorve: construtoras, supermercados, frigoríficos. Estão muito dispostos a trabalhar, porque têm crianças, porque têm que ajudar os familiares. Eles vêm muito dispostos a fazer dar certo. Alguns já cresceram nos locais de trabalho, estão se aprimorando, aprendendo a língua. Por isso que, normalmente, as empresas que me procuram pela primeira vez voltam a pedir indicação.
Meu sonho é que nenhuma pessoa passasse fome, que todos tivessem emprego. A gente quer que eles consigam ser cada vez mais capazes de construir as próprias melhorias em suas vidas, resolvendo suas questões, indo atrás, mas tendo a nossa ajuda para questões mais pontuais.
Com a vinda dos migrantes e refugiados a gente ganha culturalmente e ganha pessoas muito boas no que fazem para trabalhar. Deixo uma reflexão: 1,2% da população brasileira é migrante. Londres tem 10% de migrantes. A gente tem três vezes mais brasileiros morando fora do país do que estrangeiros vivendo aqui. É mito que eles vêm tomar nossos empregos. E muitas vezes aquele que fala isso não pensa no seu filho, ou no seu sobrinho ou parente que está no exterior também atrás de uma oportunidade."
Uma das famílias venezuelanas acolhidas pelo Coletivo Social ELO é da Elianny Castañeda, 32, e do José Caripe, 41. Eles chegaram no Brasil há quatro anos, passaram por Boa Vista-RR, Curitiba-PR e há cerca de seis meses desembarcaram em Caxias, atrás de melhores empregos para José e para a mãe de Elianny, Luisa, 54. A jovem fica em casa para cuidar dos filhos Viviana, 12, Josué, 10, Moisés, 8, e Samuel, 5. Ela conta sobre os cinco primeiros meses da família em Caxias:
Quando nós, imigrantes, deixamos o nosso país, é para poder dar um futuro melhor para os nossos filhos. Nas outras cidades que passamos não tinha emprego com carteira assinada, nem benefícios para as crianças. Foi esse sonho que nos trouxe para Caxias, por sugestão de um familiar. No início, porém, foi complicado. Tivemos problemas que nos obrigaram a sair da casa desse familiar, que nos abrigava, e não teríamos outra opção a não ser dormir na rua, se não tivéssemos conhecido o pessoal do Coletivo.
O Vinícius (Poletto) recomendou meu esposo para uma empresa de construção, que é a área que ele sempre trabalhou, como pedreiro. Hoje ele está fazendo curso para poder começar a trabalhar. Ele também recomendou minha mãe para um restaurante, onde ela está trabalhando há quatro meses. Ela começou lavando a louça, mas já passou para auxiliar de cozinha. Está evoluindo. A dona fala que ela está indo muito bem.
Os filhos já estão na escola e já estão adaptados ao português. Os mais novos, quando eu coloco um filme para eles assistirem, eles pedem para eu trocar o idioma para o português, porque compreendem melhor.
Nossa família que ficou na Venezuela, na nossa cidade de Maturín, ainda está numa situação muito difícil. O salário que se ganha lá, convertendo a moeda para poder comprar em dólar, dá US$ 50. Um quilo de carne custa US$ 15 ou US$ 20. Foi também para ajudá-los que encaramos a viagem de 18 horas de ônibus até Boa Vista. Parte do que meu esposo e minha mãe recebem de salário eles mandam para lá, para ajudar minha sogra.
Minha intenção é permanecer em Caxias. Tenho a esperança de que meu pai também venha. Meus sogros, com são mais velhinhos, teriam que vir de avião. Meu pai, que mora em Táchira, está mais longe. Ele está viajando para Maturín,ainda não sabe se vai ficar por lá. Depende de conseguir emprego. Ele trabalha com refrigeração.
Estamos há quatro anos sem nos ver. Conseguimos nos comunicar por vídeo às vezes, quando a internet lá ajuda. Meu caçula olha para a tela e pergunta: "quem é esse?" Tenho que explicar que é o avô dele.
Os voluntários foram anjos em nossas vidas. Nos ajudaram muito rapidamente. Com casa, com móveis, com cestas básicas, com as indicações para trabalho. Em troca disso nós combinamos de fazer pequenas reformas na casa, pois, como estava fechada, estava deteriorando. É como diz minha mãe: "quando uma casa não tem calor, ela se estraga rapidamente. Nós temos muito calor (risos)"
Tânia Peruch, 55, é membro do Coletivo Social ELO e dona da casa cedida para a família de Elianny e José, no bairro Universitário. Tânia mora no andar de cima e cedo o primeiro piso aos venezuelanos, que retribuem assumindo o compromisso de fazer pequenas reformas na estrutura do imóvel. Não são as primeiras pessoas a receber o acolhimento da caxiense, que nos últimos anos já havia cedido o espaço para outros necessitados. Tânia comenta o que a motiva a fazer o bem pelo próximo.
"Sempre gostei de estar envolvida em ações sociais. Participo de alguns grupos de filantropia, de ajuda, e já participava do Coletivo quando surgiu a demanda dessa família.
Já acolhi um imigrante russo, dois hare krishna, um casal de artistas de rua, que a menina é de Buenos Aires e o rapaz é de São Paulo. Cedo o primeiro piso, enquanto eu moro no segundo. Por último surgiu a questão dessa família, que é mais numerosa, mas eles toparam ficar mais 'apertadinhos' para morar aqui. No momento estou mais ausente, porque passo mais tempo cuidando da minha sogra, que está doente, na casa dela. Por isso estamos ainda vendo uma forma de talvez eles puderem ocupar aos poucos o andar de cima, redistribuindo a mobília deles e a minha.
Não há preço que pague a sensação de ajudar. No inverno, por exemplo, pensar que eles estão dentro de casa, debaixo de um teto, mesmo que numa casa simples. E o fato de ter crianças, de ter barulho de crianças...eu sou mãe de uma menina já adulta, que mora em Porto Alegre, e dia desses foi muito bonito eu ver um dos filhos da Elianny brincando pendurado no portão, para a frente e para trás, com os olhinhos fechados e a mente viajando, bem como eu assistia minha filha fazer quando tinha a idade dele, naquele mesmo portão. Acho que poder proporcionar às crianças ter uma casa, poder sonhar, é algo muito positivo. Se tu tens um espaço que tu podes ceder, não tem porque deixar vazio".
Uma missão que vai além da religião
Freira e jornalista, Eléia Scariot, 48, é natural de Ibiaçá, no Norte do Estado, mas foi em Caxias do Sul que construiu a maior parte da sua trajetória religiosa, junto à Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu. Graduou-se em Jornalismo na UCS e foi presidente do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM). Atualmente mora na Itália, onde coordena o projeto Chaire Gynai, que significa "Bem-vinda, mulher!", nascido de um pedido do Papa Francisco e que acolhe mulheres fugidas de guerras e conflitos, com filhos pequenos. Em agosto, em seu período de férias, Eléia esteve na ilha de Lesbos, na Grécia, em uma missão de ajuda a refugiados sírios e, principalmente, afegãos. A seguir, ela traz as suas impressões sobre a experiência.
"Como missão específica, tenho a direção de um projeto de semiautonomia voltado a mulheres refugiadas com crianças, em Roma. A missão em Lesbos foi num período de férias. Uma missão intensa, de acolhimento a refugiados do Afeganistão e também da Síria.
Meu trabalho se fundamenta nos quatro verbos apresentados pelo Papa Francisco: acolher, proteger, promover e integrar. São palavras muito concretas, que falam da trajetória que nós realizamos quando acompanhamos pessoas migrantes e refugiadas, que são os migrantes forçados, que migram por sobrevivência sua ou dos seus familiares.
Acredito que nós precisamos ir ao encontro da pessoa que foi forçada a deixar a própria terra. Ir de coração aberto, com olhar acolhedor e destemido, com os ouvidos atentos e as mãos abertas para servir. Vem em mente o que dizem os salomistas: como são belos os pés dos mensageiros". Porém, eu digo: "como são belos os pés de quem sai do seu comodismo.
Na minha experiência pessoal encontro minha razão de viver na missão. Quando estabelecemos relações, nós temos a possibilidade de mudar a nossa vida, de fazer o mundo um lugar melhor para se viver. Porque a vida por aqui é muito breve. Essa pandemia nos diz como a vida é fugaz. E fazer o bem aos semelhantes é o que é realmente essencial, na minha opinião.
Fazer o bem aos irmãos que fogem da guerra, da miséria, da violência, é missão da igreja e de nós, de cada ser humano. Todos temos um lugar importante na sociedade e podemos fazer algo de significativo para mudar o lugar em que vivemos.
Tento me colocar na pele dessas pessoas que tive a oportunidade de escutar. Os relatos de dor e sofrimento, nesses tempos de espera, me fizeram pensar: "como nós temos possibilidades, como somos beneficiados". Porque você encontra pessoas que não têm essas mesmas oportunidades, que vivem na "periferia existencial", como diz o papa Francisco muitas vezes.
Quando você deixa tudo para servir ao teu irmão ou a tua irmã que está nessas condições, para a sociedade isso é uma perda de tempo. Eu chamo de "viver a cultura da ternura". Acolher o outro sem pressa, estabelecer um vínculo afetivo positivo, com ternura, com bondade. São valores quase esquecidos, mas que são fundamentais nas relações com as pessoas.
Sou religiosa, da religião católica, mas nós atendemos a maioria das pessoas que são muçulmanas como refugiados, pois é a religião da maioria deles. Temos que olhar para as pessoas além do credo que professam, sabendo que somos todos irmãos.
Ao escutar as histórias de vida de tantas pessoas que foram forçadas a sair de sua terra natal, a maioria por causa da guerra, percebi que é muito importante conhecer para compreender melhor. E a partir disso é possível agir, tomar decisões, tentar trabalhar em rede. Eu acredito que é preciso criar uma rede de solidariedade internacional no sentido da acolhida, integração e proteção dos refugiados.
Nesse momento da história, principalmente os afegãos necessitam desse acolhimento de um modo muito dinâmico, muito veloz, muito atento. No campo de refugiados conversei com pessoas, com jovens em cadeiras de rodas, atingidos por bombas, que viram suas casas e todo seu vilarejo ou cidade ser destruída. Eles trazem consigo um passado de terror, de muita dor e sofrimento. Vivem a angústia do presente e ao mesmo tempo a espera do futuro que é incerta. Nesse horizonte nós precisamos colocar esperança e também ação, e, também, como nos pede o Papa Francisco, temos que rezar para que a paz seja uma realidade em todo o mundo. Toda essa tragédia que acontece na humanidade é porque falta a paz. A paz começa dentro dos corações e eu espero que ela possa cada vez mais crescer, e que nós possamos ser solidários."
União de esforços pelos haitianos
O frei capuchinho Lori Vergani, 64, caxiense da 4ª Légua, está desde junho em missão humanitária no Haiti, país em que os desastres naturais se somam à turbulência política e à crise econômica para formar um cenário de desespero para a população. É justamente na tentativa de mitigar esse desespero, com palavras, mas também com ações práticas, que se dá a atuação do religioso e de seus colegas de diferentes congregações no interior haitiano. Vergani já estava no país centro-americano quando houve o mais recente terremoto, em 14 de agosto. Confira a seguir o seu relato?
"Vivi no Haiti de 2007 a 2016. Retornei há dois meses e meio para a mesma localidade, que fica a cerca de 13 quilômetros de Les Cayes, cidade que foi muito atingida pelo terremoto. Estou com as irmãs da Congregação de Santa Catarina, que são de Novo Hamburgo e do Rio de Janeiro. Elas estão, sobretudo, distribuindo água para a população e fazendo comida para as pessoas virem buscar. É pouca coisa, mas é muito para quem perdeu tudo. Aqui na nossa vizinhança praticamente todas as casas foram atingidas. Muitas caíram por terra, não há nada a fazer a não ser reconstruir.
Tive a má chance de vivenciar os dois terremotos, embora no de 2010 estivesse mais longe do epicentro e não tivesse sentido muito os tremores. Dessa vez, foi pra valer. As nossas casas, dos freis e das irmãs, felizmente não tiveram danos maiores. Mas as dos vizinhos, praticamente todas foram atingidas.
O desafio maior é fornecer alimento. Se a gente recebesse ajuda para comida, que a gente não consegue produzir e não encontra pendurada nas árvores, seria mais fácil. Mas alguma coisa está sendo feita. Os Capuchinhos de Caxias do Sul, Vila Flores, Veranópolis, Marau, Flores da Cunha estão mobilizados para recolher gestos de solidariedade. Essa manhã fui no banco e veio um valor de US$ 2,8 mil, que para a reconstrução de uma casa é mínimo, mas para alimentação é uma boa ajuda.
O Haiti, de fato, passa por uma situação difícil desde sempre. Ciclones, terremotos com diferentes epicentros. Esses dias atrás nós tivemos o assassinato do presidente, por uma questão política. Misturado a isso, há muitas gangues que bloqueiam as estradas e impedem a circulação de mercadorias. Esses tempos, antes do último terremoto, havia também bloqueio de gasolina, que a gente só encontrava para vender em galões, pelo preço acima do dobro das bombas. Mas acho que, devido ao terremoto, pelo menos a gasolina as autoridades conseguiram que as gangues fizessem circular, porque é só o que movimenta o país.
Tivemos a presença muito significativa e honrosa da ministra da embaixada do Brasil no Haiti, Marissol Romaris, e de fuzileiros navais, que vieram visitar os brasileiros atingidos e trouxeram para nós a mensagem de que, para ajudar aos outros, também precisávamos ajudar a nós mesmos. Eles trouxeram alimentos para nos ajudar.
É o momento mais delicado de todos que já vivi aqui, porque atingiu o país num momento em que muitas famílias ainda não conseguiram se levantar dos danos do ciclone Matthew, de 2016. Ou seja, é situação sobre situação.
Quando morei alguns anos na França, fui a uma visita na República Centro-Africana, e lá encontrei com os freis franceses que lá estavam há quase 50 anos. Perguntei a um deles: 'frei, o senhor viu alguma coisa se modificar nesse tempo todo?' E a resposta foi: 'sim, para pior'. Então, questionei: 'mas por que vocês ficam aqui, se a situação não melhorou nada?' E a resposta foi: 'porque a gente acredita na vida'. A minha resposta sobre o Haiti é a mesma: a gente continua aqui, sendo que podíamos voltar, porque acredita na vida. Não é nesse momento que vamos fugir. É o momento mais importante para as pessoas com quem nos encontramos. Se ao menos com a nossa presença aqui, uma ou duas pessoas puderem viver com maior dignidade, creio que nossa existência valeu a pena".
Nascido em Barracão, no Norte do Estado, o sargento do 5º Batalhão de Bombeiros Militar, com sede em Caxias do Sul, Rodrigo Picoli, 38, é membro da Força Nacional de Segurança Pública (FNSN) desde 2016. Está no Haiti em sua segunda missão internacional. Foi enviado pela FNSN em uma equipe designada a prestar ajuda humanitária no país que tenta se reerguer após o terremoto de magnitude 7,2, que matou mais de 2,1 mil pessoas, no último dia 14. Picoli conta ao Almanaque sobre o trabalho que ainda deve durar mais uma semana:
Cheguei a Porto Príncipe no dia 21 de agosto, em missão prevista para durar até 12 de setembro. No momento estou na cidade de Les Cayes, mais ao sul da ilha, a cerca de 160 quilômetros da capital.
Estou cedido pela Força Nacional, na qual entrei em 2016 após 10 anos de tentativas. Desde então, tive a oportunidade de trabalhar nas Olimpíadas e Paralimpíadas, e também em missões no Acre, Ceará, Rondônia, Rio de Janeiro e Moçambique, na África.
Essa é, portanto, minha segunda missão internacional, a primeira no Haiti. Antes da chegada, os relatos que chegavam eram bem graves. A situação ainda é bem crítica, mas o povo tem um poder de recuperação muito forte, é muito guerreiro e persistente. Infelizmente, é uma população acostumada a lidar com as catástrofes que acontecem no país. O cenário já é de reconstrução, de tentativa de volta à normalidade.
O foco inicial era a busca e resgate em estruturas colapsadas. Num segundo momento, estamos retirando fontes de perigo e prestando ajuda com distribuição de alimentos, construção de tendas e atendimento médico e de enfermagem.
O mais impactante, sem dúvidas, é ver como a força da natureza pode ser tão devastadora.
Cada dia por aqui vivemos é uma emoção diferente. De cada missão saio com mais aprendizado e grato pela vida, que nos ensina com cada circunstância.