“Para quê serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” A máxima do escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015) em As Palavras Andantes (1993) ajuda a explicar por que algumas das 55 metas e ações propostas no Plano Municipal de Cultura, cujo texto foi aprovado sábado, pelo Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC), são, no mínimo, audaciosas.
Após ser finalizado com apontamentos surgidos durante a 5ª Conferência Municipal de Cultura de Caxias do Sul, no sábado, o texto será encaminhado ao Legislativo para aprovação dos vereadores e consequente transformação em lei. Posteriormente, será publicado e disponibilizado para a comunidade, em formatos impresso e online.
Parte das metas envolve a manutenção de espaços, programas e aparelhos culturais já existentes, cuja demanda surgiu nas escutas ativas com representantes de diferentes segmentos culturais. As mais ousadas, no entanto, que envolvem criação de novos programas, editais e espaços, são aquelas que o próprio Conselho admite serem utopias a serem perseguidas ao longo dos próximos anos e das próximas gestões municipais.
– Tudo que trata de criação envolve novos orçamentos na pasta, algumas criações de leis, por isso são metas de viés mais utópico. Mas é por isso que se faz a divisão por ano, para que se possa ir buscando os recursos. Estarmos com a gestão da Aline (Zilli) na Secretaria nos dá muita segurança de que o plano será olhado com carinho, mas não sabemos que gestão termos daqui a quatro anos – destaca o vice-presidente do CMPC, Darlan Gebing.
Uma das metas ousadas do plano – e cuja realização impacta no cumprimento de muitas outras – é conseguir acrescentar 0,20% ao ano no montante destinado à cultura no orçamento do município, a fim de recuperar o percentual de 2,5% em 10 anos. Também estão entre os objetivos a criação de uma rua coberta para feiras e atividades artísticas (até 2030); a implementação de um Centro Cenotécnico e da Casa da Capoeira (ambos até 2028); e a garantia do reconhecimento da Maesa como um complexo cultural, contemplando e atividades artístico-culturais.
– Sentimos a classe muito unida em prol desses objetivos, sabendo que o plano é um norte, mas que colocá-lo em prática depende da nossa atuação como agentes culturais, produtores e artistas, e, principalmente, do Conselho de Política Cultural como fiscalizador – acrescenta Darlan.
Em formato virtual, a Conferência reuniu quase 400 pessoas, entre espectadores e participantes da sala de reunião. A secretária de Cultura, Aline Zilli, destaca o engajamento da comunidade cultural não apenas no sábado, mas ao longo dos cinco meses de escuta ativa, cujos encontros fizeram surgir as demandas que embasaram a revisão e elaboração do documento:
– Foi um exemplo de prática democrática. Esse trabalho desenvolvido contribuirá para que a cultura ganhe um espaço de protagonismo no planejamento da cidade para os próximos anos.