A cada mês, a biomédica Anaméli Lipreri realiza cerca de 250 procedimentos de ozonioterapia na clínica Ozone Zen, em Caxias do Sul. Em sua maioria são pessoas que já haviam recebido algum tipo de atendimento estético ou terapêutico anterior pela profissional e confiaram na prática — regulamentada e implementada no SUS como terapia integrativa em 2018 —, que pode ser utilizada como auxiliar em diversos tratamentos, desde flacidez de pele, redução de celulite e gordura localizada até crises de rinite, dores de garganta, inflamação intestinal ou dores agudas ou crônicas.
Os benefícios da aplicação da mistura de gás ozônio com oxigênio medicinal — em geral, em uma proporção de 95% de oxigênio e 5% de ozônio —, que caracteriza a ozonioterapia, se dão pela sua ação benéfica quando administradas no organismo. Quem explica melhor é a própria especialista, que também é mestre em biotecnologia:
— O ozônio é um potente oxidante, e é aí que entra em um paradoxo, pois, teoricamente, um oxidante seria prejudicial à nossa saúde. Esta lógica está correta, mas é justamente por ser um oxidante, que, em baixas concentrações, não prejudiciais à saúde, ou seja, na dose correta aplicada no local correto, ele consegue ativar mecanismos de defesa em nosso organismo, “acordando” o sistema imune, recrutando células pró-inflamatórias, ativando o potencial de resposta do nosso organismo.
Enquanto que na maioria dos procedimentos de finalidade estética a aplicação é feita por via direta, através de uma agulha fina no local, o uso terapêutico normalmente ocorre por outras vias, como a insuflação retal (através de uma sonda) e a auricular, através de um dispositivo projetado especialmente para a técnica.
Anaméli, no entanto, ressalta que o tratamento é coadjuvante e preventivo para situações em que as evidências científicas confirmam os benefícios, não devendo jamais substituir um tratamento convencional:
— Por exemplo, se uma pessoa apresenta uma condição de doença metabólica crônica, como diabetes, ela provavelmente irá conviver com ela para o resto da vida. Há toda uma regulação quanto a alimentação, além da medicação, e ela jamais deve deixar de fazer esse tratamento convencional. A ozonioterapia, no entanto, ajuda a colocar o organismo em ordem, fazendo melhorar a oxigenação tecidual, acelerar o metabolismo, fatores que vão colaborar para a obtenção de resultados melhores com o tratamento convencional. Há indicações que necessitam de liberação médica, ou mesmo da aplicação por um médico capacitado na técnica, e é preciso respeitar os limites de atuação.
Estudos sobre os benefícios da ozonioterapia como terapia complementar já foram e seguem sendo realizados contemplando mais de 250 doenças. Países como a Alemanha, por exemplo, realizam mais de 7 milhões de procedimentos por ano. No entanto, muita confusão ainda existe sobre a técnica, principalmente por conta de alegados fins milagrosos que ela ofereceria, que são mentirosos. Parte dessa desinformação, que fez aumentar a desconfiança em torno da ozonioterapia, se deu durante os primeiros meses da pandemia de covid-19. Mais especificamente quando foi sugerido publicamente em 2020 a utilização em massa de aplicações retais de ozônio.
— Não há ainda um estudo que demonstre a comprovação científica necessária da eficácia contra a covid-19, porém há diversas pesquisas sendo realizadas e os resultados se mostram promissores para uma possível utilização no futuro. Já é bem consagrada e comprovada cientificamente a administração da ozonioterapia no aumento do número de células imunológicas, melhorando a resposta do organismo a qualquer tipo de infecção em sua diferentes fases: ajuda a reduzir a replicação viral, fúngica ou bacteriana (primeira); depois atua no aumento das células imunes, que combatem o micro-organismo (segunda), e, finalmente, na fase de inflamação, reduzindo o processo inflamatório, oxigenando as células e melhorando a função dos órgãos afetados — ressalta Anaméli Lipreri.