O salão era realmente grande, como sugeria o nome do estabelecimento. Um pouco brega, na minha opinião. Dificilmente, eu entraria em um lugar como aquele na minha cidade. Mas quando estamos em outro país, ah, aí é diferente.
Mal sentamos e pratos de palomitas surgiram na nossa frente. Uma cortesia da casa. "Quem serve pipoca na balada?", pensei. Pedi um mojito e fiquei surpresa quando chegou. O caneco era tão grande que foi suficiente para a noite toda.
Na pista, casais — apaixonados ou não, não dava para saber — se esbaldavam. Rapazes simpáticos, contratados pela casa, dançavam com quem não tinha par. O grupo, no palco, tinha visão privilegiada. Eu, da minha mesa, não enxergava tão bem o público, mas conseguia observar bem os músicos que ditavam o ritmo da festa.
Não pude deixar de notar, em especial, um deles. Ao lado do companheiro das maracas, tocava um instrumento de percussão bem diferente. Com uma espécie de varinha, esfregava os entalhes do objeto e um som de catraca era produzido.
De repente, a música parou e o vocalista anunciou um concurso: o da mesa mais animada. O prêmio? Uma garrafa da bebida símbolo do México, fabricada em Tequila, município a cerca de 70 quilômetros de Guadalajara, onde estávamos.
Nos olhamos e cada um no seu idioma disse: bora? Éramos um grupo de jornalistas de diferentes países da América Latina. Nos conhecemos naquela semana e havíamos concluído naquele dia um curso sobre jornalismo de saúde e dados. E estávamos dispostos a ganhar aquela disputa — os colombianos eram os mais empolgados.
Gritamos tanto na nossa vez de demonstrar animação que o prêmio não poderia ser de outra mesa que não a nossa. Corremos para o meio do salão com nosso troféu. Eu, que não queria beber mais nada depois de tanto mojito, precisei atender ao apelo da "multidão" que entoava meu nome e mandei ver num shot.
Aprendemos passos de salsa, nos divertimos ao som de reggaeton. Bailamos até depois das dez, até doerem os pés — Enrique Iglesias, peço permissão para essa versão. Nos abraçamos. Era nossa despedida. Em poucas horas, todos voltariam para seus países, para suas casas.
No dia seguinte, antes de regressar ao Brasil, passei no mercado de artesanato, no centro histórico, para as últimas compras. "Olha, o mesmo instrumento que um dos caras da banda tocava ontem no Gran Salón Corona!", pensei em voz alta ao ver o item pendurado em uma barraquinha. "É um guiro", me disse o vendedor, que até me ensinou como se tocava.
Volta e meia tiro o guiro da estante e tento imitar a banda que animou nossa noite naquele outubro de 2017. Em vão, claro. Mas a lembrança é tão boa que vale a pena tentar.