Os Puntos Suspensivos que dão nome à exposição assinada pelo fotógrafo Paquito Masia Herrera são, na tradução ao português, reticências. Desta forma, as obras que compõem a mostra ganharam três bolinhas, acrescentadas digitalmente e que sugerem algo a ser preenchido pelo próprio espectador. É que as fotos mostram personagens ou objetos recortados de seus ambientes originais.
– Quando você olha para esses personagens, eles podem ser de qualquer lugar. Tirar eles do ambiente original é deixar que cada um permeie com seu imaginário o cenário dessas fotos – explica o fotógrafo.
A brincadeira de recortar os personagens e acrescentar fundos coloridos surgiu a partir de fotos realizadas em 2019, numa viagem à Itália. O artista gostou do resultado e resolveu apresentar para a amiga Sandra Petit, que o havia convidado para expor trabalhos em Montevidéu. Foi assim que a exposição Puntos Suspensivos foi formatada e ganhou estreia no Uruguai, terra natal de Paquito. Nesta sexta (18), a mostra virá a Caxias, repetindo o caminho que o fotógrafo e sua família fizeram em 1979. A exposição estará sediada na Galeria de Artes do Centro de Cultura Ordovás até o dia 11 de julho. A visitação presencial ocorre nas segundas, das 9h às 16h; de terças a sextas, das 9h às 22h; e nos fins de semana, das 16h às 22h. Em tempos pandêmicos, as obras também poderão ser conferidas no ambiente virtual UAV Digital. O formato virtual ganhará ainda um vídeo, disponível a partir do dia 1º de julho, no qual Paquito conversa sobre as obras com Gilmar Marcílio.
Numa alusão ao nome original da mostra, os personagens recortados por Paquito também representam fragmentos suspensos de sua própria memória. Para compartilhar algumas dessas relações, o fotógrafo criou textos que acompanham as obras. Por exemplo, a foto que mostra um peixe amarelo perdido na imensidão de possibilidades que as reticências sugerem é, para Paquito, uma representação da viagem feita com a família de Montevidéu para Porto Alegre, em 1975, aos nove anos.
– Lembro daquela viagem de noite, eu não entendia como a lua nos acompanhava durante todo o percurso (risos). Viemos no domingo e na segunda começava a aula, e eu só sabia dizer sim e não. Me senti um peixinho fora d’água – lembra.
Outra imagem, que registra uma senhora de costas caminhando ao lado de uma bicicleta, é uma homenagem à avó materna, que partiu da França para o Uruguai no pós-guerra, em busca de uma vida melhor. Essas ligações afetivas dão um caldo mais particular à exposição.
Além dos recortes realizados em imagens do acervo de Paquito, Puntos Suspensivos também integra cliques feitos no estilo retrato, em preto e branco. Nelas estão personagens de Caxias que, segundo o fotógrafo, “falam através de sua postura”.
– Mostrei para a Sandra e ela achou legal colocar essas fotos na mesma exposição, porque também apresentam pontos suspensivos, cada personagem com os seus. Elas são contraditórias à cor vibrante das outras. Choca um pouco com o lúdico das imagens recortadas, trazendo um olhar mais real mesmo – explica.