Os protagonistas criados pelo caxiense Marcelo Andrighetti nos contos de Farol da Solidão habitam tempos distintos e lugares diversos, mas talvez pudessem todos se encontrar numa mesma sala de espera de um consultório de psicoterapia. A angústia que os une, e que dão à recém-lançada obra seu tronco comum, surge da mesma sensação de deslocamento: tanto em relação ao seu contexto, quanto da vontade de deixar lugares onde já não cabem ou aos quais não pertencem.
– Acho que o livro faz essa pergunta: onde tu escondes a tua solidão? Todos os personagens deixam transparecer essa dúvida e estão em busca de entender que existe um mundo pra dentro de si mesmo, onde é possível buscar as respostas e soltar as amarras que nos deixam mais sozinhos. A seleção desses contos tem muito isso: são personagens que querem se redescobrir e estão passando por fases que exigem deles essa busca – reflete o autor, de 32 anos.
Após uma carreira consolidada no mercado audiovisual, com mais de 500 roteiros comerciais assinados, Andrighetti se reencontra com a veia de escritor que despertou aos nove anos, quando o divórcio dos pais o fez questionar pela primeira vez seu lugar no mundo, e a escrita e a música surgiram como formas de se expressar e encontrar conforto. Antes de encontrar a voz narrativa que o fez finalmente querer publicar, bebeu na fonte de Charles Bukowski, Júlio Cortázar, Fernando Sabino, Paulo Leminski e Mário Quintana: escritores e poetas cuja influência se faz nítida em seus textos, nos quais prosa e a poesia se confundem.
– A simplicidade me atrai muito. Um leão na selva não precisa querer salvar o planeta, só quer salvar a própria pele. A mulher que publica contos eróticos não quer ser uma best-seller, só quer poder pagar suas contas no fim do mês. Nem todo mundo precisa ser épico o tempo todo – analisa Andrighetti, referindo-se a personagens de Faro da Solidão.
Ao explorar os limites entre prosa e poesia, o caxiense contrapõe de alguma maneira a paranoia sufocante de seus personagens à chance de respirar que o próprio texto oferece ao leitor:
– Valorizo muito o silêncio na literatura. O espaço em branco dá uma liberdade ao leitor de entender também o que não está sendo dito, as palavras que não foram escolhidas e que por isso também ajudam a contar a história.
O livro está disponível em formato físico no site da plataforma de autopublicação UICLAP (R$ 34), e também em e-book na Amazon (R$ 25).