Fosse no papel de produtor, nos estúdios da gravadora Acit; fosse como guitarrista (canhoto!), nos palcos de tantos rodeios e bailantas, a presença de Edison Campagna jamais passava desapercebida. O talento musical genuíno e o sorriso largo que era uma de sua marcas contribuíram para que o caxiense — que morreu neste domingo, vítima de um câncer no fígado — conquistasse inúmeras amizades. Um de seus companheiros de jornada foi o gaiteiro Gilney Bertussi, filho de Adelar Bertussi, com quem Campagna dividiu palcos durante 15 anos.
— É um grande companheiro que nos deixa, um colega das antigas. O Edison e a família dele foram minha segunda família quando eu fui, na minha adolescência, para Caxias. Ele é que nem meu irmão mais velho. Meu coração e alma estão de luto com esta que é uma grande perda para nossa música gaúcha — lamenta Gilney.
O acordeonista Luiz Carlos Borges também mantinha uma amizade de longa data com Campagna. Ele lembra da primeira vez que viu o guitarrista em ação:
— Eu devia ter uns 24 ou 25 anos e ele era quatro anos mais novo quando a gente se conheceu. Foi num baile que ele foi tocar com o Adelar Bertussi. Me surpreendi muito porque era um guitarrista magro, alto, canhoto, loirinho com cabelo escorrido. Era muito interessante (risos). Em algum momento do baile a gente conversou e começamos uma amizade.
Um dos episódios mais marcantes na trajetória dos dois foi uma turnê realizada em 1995, na Europa. Recrutado 20 dias antes da viagem, Campagna foi a escolha certa para o trabalho, que depois se transformou em registro fonográfico.
— Chegamos lá tão bem ensaiados que quando o produtor suíço nos viu tocando veio elogiar "que bom esse guitarrista, ele respira contigo". Tu vê o músico que ele era... Talvez esse convívio seja o episódio mais lindo da nossa amizade. A gente ficou 50 dias viajando, fizemos 25 shows, acho que foram uns seis ou sete países. Lançamos um disco disso pela Acit que eu tenho muito orgulho, é a prova de toda nossa sintonia — lembra Borges.
Abaixo, veja mais depoimentos sobre a perda de Campagna.
Chico Brasil - Os Monarcas
"Eu tive o prazer de conviver com o Edison na época que tinha os rodeios, gravações. Ele sempre esteve envolvido na parte cultural de Caxias do Sul. É uma referência, modernizou o modo de gravar as coisas, o sistema se modernizou e passou pelas mãos dele. Revolucionou alguns métodos de gravações, técnicas que ele aplicou e deu certo. É um dia bem triste para nós".
Cristiano Quevedo
"A música gaúcha perde uma referência, um trabalhador, um homem que dedicou a vida inteira à música. A história da música gaúcha não pode ser contada sem falar no nome deste grande produtor, amigo, irmão. Tive a oportunidade de gravar muitos anos na gravadora Acit. O Edison trabalhou incansavelmente na produção e direção musical do meu DVD. Como diz o Santo Agostinho, que "quem canta reza duas vezes", hoje, nosso canto, a música gaúcha, é praticamente uma oração para que Deus traga conforto à família e para que receba com muita luz e música o Edison Campagna".
Rafael De Boni
"O Campa foi uma das pessoas mais intensas com quem já trabalhei. Me deu grandes oportunidades nas produções que ele fazia, sempre com maestria. Detalhista, me ensinou que em estúdio não se brinca! Seu jeito irreverente e aquariano de ser vai ser lembrado para sempre como um grande produtor do sul do Brasil. Aproveitando um bordão dele, me indago: "porque correste, papai?". Ainda tínhamos muita coisa por fazer! Gracias por tudo, meu irmão. A música do RS vai sempre te reverenciar! Existe A.C. e D.C na música gaúcha".
Mano Lima
"Um grande amigo, um dos maiores músicos que eu conheci e a quem devo muito pelo trabalho que fizemos juntos. Um homem que tinha uma capacidade enorme de criar, de vestir uma música sem tirar da música a sua essência, a sua proposta. Fiquei muito triste, temos que continuar e pedir que Deus receba ele com todo carinho que ele realmente merece. Meus pêsames à Ivete, minha querida amiga, e a toda família do Edison. E dedico a ele uma música que fiz no meu último trabalho, que é a Saudade. É o que vamos ficar, com saudade deste grande amigo e grande músico que nos deixou".
Valdir Verona
"Quando o Edison produziu o primeiro álbum do Duo de Viola e Acordeon, em 2014, lembro que pude contar para ele sobre tê-lo visto tocar nos primeiros bailes que fui, nos anos 1970, em Vila Oliva. Ele era o guitarrista d’Os Reis do Fandango, banda de apoio do Adelar Bertussi. Junto com Oscar Soares, d’Os Mirins, e do Bonitinho, foi um dos pioneiros no uso da guitarra elétrica nos grupos de baile. Foi algo que trouxe uma nova linguagem para esse tipo de música. E como produtor, arrisco dizer que Campagna foi o nome mais importante no cenário da música do Sul do Brasil".
Lucio Yanel
"Edison Campagna era um rico músico, com grande capacidade. Depois que ele passou a se dedicar por inteiro à produção de discos, me animo a dizer, sem exagerar, que ele deu uma vida nova à produção musical do Rio Grande do Sul. Todos nós, artistas que estamos sediados no Estado, passamos pelas mãos da produção dele. Sem contar o amigo, o companheiro que sempre foi, muito gentil, cordial, sempre disposto. Ele tinha adquirido tanta experiência na mixagem, na equalização, que sempre que eu gravava algo, seja solo ou para acompanhar outro artista, pedia para ele ouvir e dar seu “sim” ou “não”. Foi uma grande figura. Estou muito triste e desejo conforto a toda a família".
Luiz Carlos Borges
"O RS está perdendo um grande músico, um enorme produtor, tenho certeza que o Edison deixa uma marca poderosa na área da produção fonográfica. São centenas de discos que passaram por ele. Eu acho que abriu-se uma brecha na música do RS com a falta dele".
Gilney Bertussi
"Não fiz nenhum trabalho que não fosse produzido pelo Edison Campagna. Do tempo do meu pai, também foram vários. Ele faz parte do contexto musical de todo o sul do Brasil. É difícil um músico gaúcho que não tenha passado pela produção musical do Campagna. Fez um grande trabalho em prol da música gaúcha, produzindo novos músicos e novos talentos, deixando trabalhos bem feitos que vão ficar eternamente".
Robison Boeira
"Muito triste a perda de um amigo, um dos maiores produtores do Brasil, que revolucionou a música gaúcha através de suas melodias e arranjos. Campagna sempre foi uma pessoa atualizada, buscando sempre inovação pra música, através de conhecimento em outros países. Eu fui um dos artistas que Campagna oportunizou trazendo para dentro da gravadora Acit para gravar com Baitaca, Mano Lima, entre outros. O Rio Grande com certeza perde muito com sua partida, mas ficaram suas obras eternizadas em nossos corações".