A infância de Pedro Pastore, 12 anos, é semelhante a de qualquer outra criança das colônias. A exceção é o celular voltado para si mesmo, e isso faz toda a diferença para que o menino de fala e riso soltos, morador de Antônio Prado, conquiste até 20 mil novos seguidores a cada vídeo em que consola uma galinha depressiva, desce uma lomba numa chapa de metal ou corre dos estercos de vaca arremessados pelo irmão mais novo, João Pedro, seis, indignado pela zombaria de Pedro após não ter conseguido derrubar uma pinha de araucária com o bodoque.
Desde que criou a conta no Instagram, em janeiro, Pedro soma 250 mil seguidores, sendo a maioria pessoas que revivem, através dos seus vídeos, um pouco do que já foi a infância de cada um que cresceu ligado ao campo e aos animais, ou que se reconhecem em suas gírias carregadas de sotaque e termos em dialeto talian _ Antônio Prado, aliás, é considerada a cidade “mais italiana do Brasil”. Ao passar algumas horas com o menino, o que mais impressiona é sua espontaneidade: as respostas saem prontas, sempre com alguma graça.
- Pedro, depois dos 250 mil seguidores, a meta é chegar a um milhão?
-A meta é não perder todos - rebate, de primeira.
A família vive na localidade de Capela São Pedro, a 14 quilômetros da sede do município de 13 mil habitantes. Pedro estuda na 7ª série e gosta de cantar e desenhar, além de jogar futebol com os colegas e com os vizinhos. É com os amigos que exercita a veia humorística, desde que aprendeu a falar.
- A coisa que eu mais gosto é aprontar. A segunda é escutar “bandinha” - diverte-se, sob o olhar confirmador da mãe, Eliane Comparin, responsável por monitorar o perfil do filho na rede social.
Também é Eliane, 43, quem intermedeia as parcerias comerciais que passaram a surgir para o filho, que já é garoto-propaganda de uma marca de tratores e negocia um segundo contrato com outra empresa regional. Ela teve de aprender a lidar com as redes sociais para poder acompanhar mais de perto a rotina de Pedro na internet, embora ressalte que o menino tem personalidade para tirar de letra qualquer comentário preconceituoso ou agressivo.
_-Acho que se fosse outra criança ficaria até depressiva, porque alguns comentários são bem ofensivos. Riem do sotaque, ou dizem que ele passa vergonha só para aparecer. Mas ele sabe se defender muito bem - elogia a mãe.
Os Pastore vivem da produção e venda de frutas, como o pêssego e o caqui. Coelhos, galinhas, vacas, gansos e porcos só passaram a habitar a propriedade atendendo a pedidos de Pedro, que brinca e acarinha qualquer animal como se fosse um pet. Em diversos vídeos os bichos figuram como “escada” para as piadas do instagrammer, inclusive na que deu início à fama precoce. Foi ao indagar aos habitantes da cidade se eles sabem o que é uma “plantação de churrasco”, apontando a câmera para as vacas, que Pedro viralizou em grupos de WhatsApp.
- Eu gostava de pegar o celular e fazer videozinhos no TikTok, mas pra pouca gente. Era “oi, bom dia, tchau”. Um dia resolvi fazer a piada da plantação de churrasco e viralizou, mas não no meu perfil. Foi passando por grupos de WhatsApp, até que chegou no Badin, o Colono (humorista de Aratiba, no Norte do Estado, que também exalta a vida no interior). Quando ele compartilhou, pra nós foi uma festa. Foi ele quem me alavancou - recorda o menino, ajeitando na cabeça o inseparável chapéu de palha, a la Chico Bento.
O encontro da mente fértil de uma criança criativa, com o cotidiano ao mesmo tempo simples e inusitado da colônia, permite a Pedro sair pela propriedade sem a menor ideia do que irá gravar. Quando chega no açude e resolve provocar os moradores da cidade, indagando se suas piscinas também dão peixe, é tão espontâneo quanto o é ao pegar uma vara de salames e brincar de halterofilismo, falando que academia é para os “fracos”. Esse “empoderamento colono”, uma forma bem humorada de exaltar a vida no interior em comparação com a vida na cidade, é outro ponto que ajuda a explicar a popularidade que Pedro ganhou tão rapidamente. Alguns dos seus vídeos chegam a ter mais de 3 milhões de visualizações.
Tão simples quanto o filho, o pai, também Pedro, 46, se entusiasma com o sucesso do primogênito. No início, admite, costumava repreendê-lo por usar demais o celular da mãe. Tempos depois, no entanto, foi ele quem deu o primeiro aparelho:
- O que as pessoas veem nos vídeos é exatamente o que ele é. E tudo que a mãe dele e eu queremos é que ele continue assim, simples.
Pedro concorda com o pai:
- Minha vida é isso aqui mesmo. Não é porque passei a fazer uns videozinhos que vou mudar. Se ganhei alguns seguidores, foi porque as pessoas da cidade também gostam disso aqui.