O romance O Quatrilho, escrito por José Clemente Pozenato ganha nova edição, comemorativa aos 35 anos do lançamento. Um dos elementos centrais da trama é a troca de casais, em uma metáfora ao jogo quatrilho. Contudo, a traição corrompe um dos sacramentos sagrados da fé católica. Desde aquela época e para todo o sempre. Se hoje, a traição entre dois casais de amigos ainda causa estranheza, o que dirá no contexto da colonização italiana no início do século 20.
Não por acaso, Pozenato também coloca o tema sob a ótica do pensamento dogmático da igreja. O padre Giobbe, personagem criado por Pozenato, é descrito no ensaio de Paviani como sendo "um homem ético e de fé, que mais compreende a natureza humana". No romance, o padre desfere sua sentença, fazendo uma alusão à metáfora do jogo.
"O Quatrilho é um jogo demoníaco. Ele faz viver a tentação da infidelidade. Em cada mão de cartas é procurado um novo parceiro. Talvez esteja nisso seu grande fascínio. O desastre acontece quando esse fascínio passa do jogo para a vida real".
Esse padre que andava de mula de um lado ao outro, tentando discernir com clareza onde estava o bem, o mal, a graça e o pecado, cobrava-se de que quanto mais velho ficava, mais confuso parecia estar. Então, Pozenato faz do pároco Giobbe justamente o protagonista do novo capítulo inédito, que encerra a nova edição de O Quatrilho. Giobbe se torna o elo de ligação entre a segunda e a terceira partes da trilogia, escrita por Pozenato.
— Depois de O Quatrilho, escrevi A Cocanha (2000) que acaba por ser o primeiro livro da trilogia e, por fim, A Babilônia (2006), que é a última — explica.
Ao preparar a nova edição de O Quatrilho, comemorativa aos 35 anos do lançamento, Pozenato considerou escrever uma passagem inédita.
— Então reli tudo e vi que não dava para enxertar nada — diverte-se.
— Aí resolvi fazer esse apêndice, esse capítulo final para fazer a transição d'O Quatrilho para A Babilônia e gostei disso. Escrevo uma passagem do padre Giobbe saindo da colônia, de automóvel. Acabei criando uma ponte, porque A Babilônia começa com o padre chegando na cidade, também de automóvel.
Breve trecho do capítulo inédito
Terminado o almoço, padre Giobbe foi até o quarto, para as últimas providências. Sua roupa já estava na mala, a mesma mala com que tinha atravessado o mar mais de quarenta anos atrás. Pois agora teria de atravessar outro mar, imaginando como seria viver na agitação da cidade. As invenções vinham uma em cima da outra. Delas até agora só tinha notícia, mas teria de passar a conviver com tudo isso. Era o rádio, o telégrafo, era o telefone, era o cinema. E o automóvel, que o esperava lá fora.
Ambrósio apareceu na porta do quarto, e se prontificou a levar a mala. Padre Giobbe pegou a bengala e seguiu atrás dele. Desceram a escada da frente da casa paroquial na direção do Ford de Bigode, parado na estrada empoeirada. Padre Mário já os esperava com a porta do carro aberta.
— Também parece uma aranha! — riu padre Giobbe ao chegar.
— Mas esta tem mais patas! — retrucou padre Mário, bem humorado.
Abraçaram-se e padre Mário beijou-lhe a mão:
— Não fique triste, padre Giobbe. O senhor vai gostar da vida moderna.
— Espero que não seja uma babilônia...
Como comprar
A nova edição de O Quatrilho custa R$ 47 e pode ser adquirida pelos telefones 54 3538.5762 e 99138.7551