Não se fala em outra coisa na internet, o Clubhouse, uma nova rede social de conversas por áudio, onde os usuários podem entrar em salas de bate-papo com duração pré-determinada e participar de assuntos de interesse, é a bola da vez. O aplicativo foi lançado no primeiro semestre de 2020 por Rohan Seth, ex-funcionário do Google, e por Paul Davidson, empresário do Vale do Silício, nos Estados Unidos, mas explodiu mesmo no início deste mês, quando o bilionário, CEO da Tesla, Elon Musk, participou de uma das salas e acelerou sua popularidade. No Brasil, as buscas pelo termo que dá nome ao app no Google saltaram, entre 30 de janeiro e 6 de fevereiro, em 525% em relação a semana anterior. Além disso, a plataforma já está avaliada em mais de US$ 1 bilhão.
Disponível apenas para celulares com sistema iOS, o Clubhouse lembra muito um podcast, só que mais interativo. É de fácil navegação e, ao contrário das outras redes sociais, não tem apelo visual, espaço para curtidas ou comentários e não permite edições por ser ao vivo – as conversas não ficam armazenadas. Para ingressar, é necessário baixar o aplicativo e ficar em espera até que algum usuário da sua lista de contatos autorize sua entrada ou envie um convite. Ao fazer login, além de preencher um perfil pessoal, é possível selecionar os “tópicos de interesse” e, deste modo, o aplicativo já sugere salas de conversas que estão acontecendo de acordo com as preferências elencadas.
Nas salas, que comportam até cinco mil participantes simultâneos, se dividem moderadores, speakers (quem está falando) e os listeners (ouvintes). O criador do bate-papo controla e autoriza o uso dos microfones. Ou você está falando ou está ouvindo alguém. Discussões sobre posicionamentos de marca, cultura do cancelamento, marketing digital, futebol, covid-19 e Big Brother Brasil foram alguns dos assuntos que pautaram as conversas nos últimos dias. Um dos facilitadores do Clubhouse é poder usar o celular para outros fins e continuar ouvindo os grupos, sem que o áudio ser interrompido.
O mais interessante, na minha percepção, nesses cinco dias em que venho tentando entender a ferramenta, é a ideia de conexão, de senso de comunidade e de informalidade. São rodas de conversas que possibilitam a construção de um raciocínio sobre um determinado tema de forma espontânea, natural, batendo papo mesmo. Você pode, por exemplo, estar em uma sala com heads de áreas distintas, artistas, celebridades ou colegas de profissão. Ali todos estão no mesmo papel, ouvindo ou emitindo opiniões. “Quando entra você já tem a sensação de que tem algo diferente com essa rede social, porque ela não te apresenta um feed infinito com posts de pessoas ou empresas tentando se vender (ou te vender). Ou seja, não é sobre pessoas e seus egos. É sobre comunidades e temas de interesse”, disse Bia Granja, uma das maiores especialistas em influência digital do Brasil, ao YOUPIX, consultoria de negócios para influence economy da qual é cofundadora.
Mas nem tudo são flores. O fato de estar acessível somente para usuários do iPhone e a falta de um recurso que transcreva os áudios para surdos têm sido alvo de críticas.
– Eu baixei o Clubhouse e realmente não é acessível, não é inclusivo, assim como a maioria dos apps digitais, desenvolvidos por equipes homogêneas, por empresas que determinam exatamente quem é o seu público, mas para pessoas pretas e periféricas ou com deficiência isso não é nenhuma novidade – disse Karen Santos, Ceo do Ux para Minas Pretas, em entrevista à reportagem pelo Instagram.
Os responsáveis pela rede social já afirmaram que estão “trabalhando para tornar o app disponível para o mundo”. O Clubhouse, certamente, pode ser um novo lugar não só para pessoas, mas também para marcas criarem estratégias de humanização de forma inteligente e promover debates e trocas construtivas, mas ainda é cedo para conclusões.