A pandemia foi um momento de encontros e reencontros muito especiais para a artista plástica Elisa Zattera, especialmente as aproximações que teve consigo mesma em seu atelier no centro de Caxias do Sul. Aos 56 anos, sendo os últimos 20 de dedicação exclusiva às esculturas, a caxiense buscou aguçar o olhar para as próprias imperfeições e para as exigências que toda mulher sofre de ser perfeita na sociedade machista. E assim surgiu a série “In-perfeita”, cuja peça mais recente, de quatro já produzidas, irá adornar o espaço comercial a ser aberto pela filha em breve.
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– É uma discussão que precisa estar cada vez mais presente em termos sociais: por que existe essa cobrança para que a mulher tenha o corpo perfeito? Qual o espaço da beleza natural? Ao mesmo tempo, isso dialoga com a minha própria forma de trabalhar, menos preocupada em lixar a obra à exaustão, até porque meus braços sentem o passar dos anos. Diante disso, por que também a arte não pode buscar ser mais natural, sem tanta busca pelo acabamento perfeito? Estou muito feliz nessa fase, por poder abordar essa temática e também me permitir ser imperfeita – comenta a artista.
Outro reflexo da pandemia nas criações de Elisa foi a produção de obras que trouxessem duas figuras, ao invés de formas que remetem a indivíduos solitários. Foi uma resposta interna às limitações de contato físico impostas pelo distanciamento social, motivada pela saudade de abraçar pessoas queridas. Assim, surgiu, por exemplo, O Abraço, escultura já vendida em uma galeria.
– Sempre trabalhei explorando o meu universo, os meus vazios. Mas ter ficado todos aqueles dias sem poder ver a abraçar muitas das pessoas que eu gosto me motivou a transformar esse desejo em arte, explorando a duplicidade e a relação com o outro – explica Elisa.
Explorar a abstração em uma nova série foi um impulso não apenas criativo e existencial, mas também ajudado pela boa resposta do mercado da arte após um início muito complicado nos primeiros dois meses de pandemia. Elisa, que no início desde ano deu início às obras de um atelier no terreno da sua residência, investindo os recursos das boas vendas do ano passado, teve de suspender o trabalho e chegou a desanimar diante do cenário de galerias fechadas e vendas estagnadas. A rápida recuperação do segmento, porém, surpreendeu:
– Foi um início muito preocupante, mas a partir do segundo mês houve uma virada. Muitas pessoas que não perderam poder aquisitivo, e passaram a ficar mais tempo em casa, sem gastos com jantares ou viagens, por exemplo, viram que podia ser bacana investir na decoração dos seus ambientes. A produção voltou com tudo, o que é ótimo para o artista e para as galerias.
Com obras à venda em galerias de Caxias do Sul (Arte Quadros), Gramado (12b), Porto Alegre (Delphus) e Curitiba, onde é representada pela marchand Maria Elena Toigo, recentemente Elisa passou a integrar também o acervo de um novo espaço de arte em Bagé (AZ Galeria). A expectativa para o futuro é chegar ainda mais longe, onde haja o público mais receptivo à arte abstrata, que é onde está “a melhor Elisa”, como ela mesma diz:
– Minha obra se divide em duas linguagens: a abstração, que é onde viajo mais, e o figurativo, que é o que vende mais. Principalmente o público caxiense ainda tem um olhar mais para esse lado, procura menos o abstrato. Mas era uma volta na minha carreira que talvez eu precisasse mesmo dar até chegar a esse ponto. Tenho feito bons contatos com galerias de outros lugares, especialmente São Paulo, para poder viajar mais na abstração, que é onde me realizo.
Para conferir as novidades e o acervo da Elisa, além dos sites das galerias, ela está no Instagram @elisazattera e no Facebook (/artistaelisazattera).
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