O conteúdo do Casa & Cia é produzido pela jornalista Alessandra Rech (palavrear@gmail.com), especialmente para o Pioneiro.
Unir a arquitetura às artes está nas origens da carreira de Patrícia Pomerantzeff. Desde janeiro de 2017, esses talentos se somaram ao prazer em comunicar. O canal Doma Arquitetura, que leva o nome de seu escritório com sede em São Paulo ao Youtube, já alcança quase 900 mil inscritos e oferece conteúdos para quem busca dicas práticas e inspiradoras com a dose certa de informalidade e entusiasmo que cativam. A arquiteta também está presente, com vídeos mais breves, no Instagram.
O profissionalismo de Patrícia se traduz na busca por soluções que, muitas vezes, passam pelo reúso de materiais e a valorização de traços arquitetônicos originais, facilmente desprezados na ânsia por “tudo novo”. Agregar sentido aos espaços cotidianos é outro diferencial da arquiteta que a Casa&Cia compartilha com seus leitores por meio desta entrevista exclusiva.
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Almanaque: Você é muito comunicativa – prova disso está no sucesso do seu canal no Youtube, com quase 900 mil inscritos. De que forma a comunicação pode se tornar uma ferramenta cultural para o viver-bem?
Patrícia Pomerantzeff: Acredito que a partir do momento que temos algo a compartilhar devemos fazer isso, sempre. Todos ganhamos quando trocamos conhecimento, quem comunica e quem recebe a informação. É uma troca muito rica no convívio social, seja ao vivo ou pelas redes.
Que influências das Artes Plásticas, que fizeram parte da sua formação, você traduz na arquitetura?
Poderia citar uma lista enorme de nomes como Sandra Cinto, Tomie Ohtake, Adriana Varejão, Cildo Meireles, Yves Klein, Demien Hirst, Yayoi Kusama... Mas seriam muitos nomes. Prefiro dizer que a arte em geral é mais uma fonte de inspiração e boas referências para a arquitetura. Assim como viajar, conhecer uma nova cidade com toda sua cultura e costumes únicos, visitar um museu ou uma galeria de arte pode nos trazer o mesmo retorno: muita inspiração! No final das contas, o que vale é a experiência que sentimos com a arte, ou no caso da arquitetura, ao estar em um espaço.
O seu prazer em viajar, certamente, contribui criativamente com seus projetos. Que aprendizados se destacam na forma de viver e projetar inspirada por essas viagens?
Quando viajamos mergulhamos em universos completamente diferentes do que estamos acostumados. A comida é diferente, a língua falada é estranha, a moeda muda... Com a arquitetura, a experiência passa a ser inusitada também. Experimentar novas sensações é a melhor maneira de absorver uma informação, na minha opinião. Muito diferente de ver uma foto, estar presente num novo lugar e sentir a luz, perceber a acústica, a temperatura e as texturas é maravilhoso. Tudo isso para a ser referência para novos projetos.
Que tipo de projeto lhe dá mais prazer em executar?
Grandes transformações! Não no sentido da área ocupada, mas sim no impacto da mudança que acontece quando reformamos um lugar muito deteriorado. O maior impacto, e é onde fica meu maior interesse, é sempre na vida das pessoas que ocupam aquele lugar.
O que é luxo para você?
O luxo para mim é muito mais relacionado a uma cultura rica do que à ostentação. Apreciar um bom design, valorizar a arte e, sem dúvida, enaltecer a natureza em um projeto são características de uma intervenção luxuosa.
Você costuma dizer que a quarentena fez as pessoas se voltarem para suas casas, e isso potencializou reformas e mudanças em 2020. Que preferências e necessidades práticas você percebe que emergem desse momento de convívio e redescoberta do prazer de estar no lar e aparecem nos projetos mais recentes?
O local de chegada em casa, onde fazemos a higienização do nosso corpo e objetos, sem dúvida foi uma necessidade prática que transformou muitas casas. Foram criados muitos halls com sapateiras e chapelarias, não para guardar chapéus em si como antigamente, mas sim para apoiar as sacolas de compras e um bom frasco de álcool em gel. O maior tempo das pessoas dentro de casa foi essencial para perceberem suas prioridades por ali. Uma cozinha prática, um quarto aconchegante, uma sala ou varanda com plantas para aproximar da natureza foram pedidos comuns entre os clientes atuais.
Cada vez mais, os animais de estimação são parte das famílias. Como a arquitetura pode contribuir para a harmonia nesse convívio?
Existem muitas soluções na arquitetura para equilibrar a saúde dos pets com a praticidade dos cuidadores. Podemos começar com a escolha dos materiais, que devem ser mais resistentes, pensando nos dentes e unhas afiadas. A marcenaria inteligente também pode ajudar muito a otimizar o espaço das refeições e necessidades dos pets, sem atrapalhar a circulação dos humanos.
Quais os principais desafios ao projetar imóveis brasileiros?
Este ano, pela primeira vez tive a oportunidade de projetar para sete países diferentes. Foi uma experiência maravilhosa! Sem dúvida meu maior desafio por aqui é valorizar o entorno. Percebo que lá fora existe uma preocupação muito maior de a arquitetura se inserir na cidade de maneira harmônica. Outro desafio grande são as aberturas e pé direito reduzidos que temos por aqui. As construtoras cada vez mais diminuem as janelas e as alturas entre lajes para economizar e isso impacta diretamente no resultado do projeto de arquitetura de interiores.
“O Brasil não conhece o Brasil”. Essa frase faz sentido pra você? De que forma a arquitetura pode ajudar a evidenciar nossos valores e resgatar a brasilidade que se perde em meio a apelos de consumo diversos?
Procuro sempre usar materiais e produtos nacionais nos projetos da Doma, isso sem dúvida nos ajuda a evidenciar nossos valores. Além de serem pensados para o clima brasileiro, é uma maneira de contribuir com o crescimento econômico do país. Hoje em dia, os materiais brasileiros vão muito além da palha e da cerâmica, temos criadores incríveis desenvolvendo técnicas melhores a cada dia com materiais nacionais que nos surpreendem.