Lutar contra um inimigo invisível não é novidade para o ser humano, e não me refiro a epidemias anteriores. A maravilhosa mente consciente, dotada de subjetividade e criatividade, que nos permitiu ter queijo frito e banho quente e ficar alegres por isso, também nos deu o fardo de lidar com emoções por demais complexas, que se tornam a nossa pior inimiga quanto menos as conhecemos – o que talvez explique a razão de certas vezes nos pegarmos invejando nossos gatos e cachorros em sua adorável plenitude.
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Certo autor budista, numa alegoria que gosto muito, descreve que as emoções, a partir do momento em que passamos a conhecê-las minimamente, são como uma criança que passa a caminhar acompanhada de um irmão mais velho. A emoção desassistida, acrescento eu, por sua vez é uma criança que caminha perdida no escuro, em meio a uma multidão.
As emoções estão à flor da pele e não é para menos nesses tempos em que nossa resiliência é testada com mais força a cada dia, como se a cada vez que acordamos alguém tivesse aproveitado para acrescentar um peso a mais sobre nossos ombros já tão sobrecarregados. Não ficar maluco numa pandemia parece coisa de maluco.
Manter a lucidez requer uma atenção aos sentimentos que não somos acostumados a dar no cotidiano da pressa, da ansiedade e das expectativas. Temos pouca intimidade com a natureza do medo, da raiva, da angústia. Aceitamos que, assim como do nada eles vêm, do nada eles também vão. Alguns buscam controlar seus demônios com remédio, outros com terapia, outros com meditação. Todo caminho honesto é válido, mas a caminhada será sempre demorada.
Em que mundo viveremos após o coronavírus? Não sabemos. Mas podemos parafrasear Jean Paul Sartre: mais importante do que aquilo que a pandemia fizer conosco será o que fizermos daquilo que a pandemia fizer conosco. A crise é inevitável, mas ela pode ser encarada. O primeiro passo é não deixarmos nossa mente no piloto automático a percorrer uma estrada que será tão sinuosa.
Não compro o discurso de que sairemos dessa purificados e prontos para a beatificação, mas acredito, sim, que seremos mais atentos ao que sentimos e à vulnerabilidade do outro. A necessidade da revolução interior já era um caminho que se desenhava e o vírus veio para nos fazer acelerar. Ela virá com honestidade para enfrentar as angústias e humildade para pedir ajuda.
*o colunista Ciro Fabres, que escreve às quartas-feiras, está em férias
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