Hoje em dia, olhar para a roupa que vestimos e conseguir identificar qual a origem das inúmeras referências presentes nas peças é tarefa difícil. Isso porque as tendências vem e vão aos montes e de forma muito rápida. Mas e há 130 anos, como será que as informações de moda chegavam e eram absorvidas pelos habitantes da área urbana de Caxias? Essa é a investigação que a pesquisadora Véra Stedile Zattera conduz em sua mais recente obra, Vestindo Moda. O trabalho será distribuído gratuitamente em bibliotecas públicas e universitárias e ficará disponível para consulta no Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Autora de mais de 20 livros nos quais analisa particularidades da história da indumentária, em Vestindo Moda Véra resgata o modo de vestir durante os primeiros 100 anos de Caxias do Sul (a cidade foi fundada em 1890). Conforme ela, a primeira grande referência de moda internacional é a trazida pela corte europeia. Algo que não mudou tanto, se pararmos para pensar na influência de personalidades como Kate Middleton, por exemplo.
– Em toda a história, sempre a corte europeia deu o norte de como deveríamos nos vestir. A corte brasileira também estava espelhada nesta moda europeia e, automaticamente, a população de posses aqui no Brasil se espelhava nessa corte brasileira. A ruptura dessa maneira de se vestir é a Primeira Guerra Mundial, que obriga a encurtar as saias por falta de condições de comprar tecido. Acontece então, a partir de 1910, essa preocupação de ter uma vestimenta mais singela, com menos adereços, menos elementos – pontua.
Falando mais especificamente de Caxias do Sul, é a partir de 1940 que ocorre uma grande revolução fashion: a chegada dos catálogos de moda. As publicações eram oferecidas por vendedores de livros que passavam de porta em porta e traziam um mix de opções em tecidos, roupas, além de móveis, materiais de pesca, caça, entre outros. Véra guarda em casa, inclusive, um catálogo antigo que pertencia a sua sogra, além das primeiras revistas de moda com as quais teve contato, ainda adolescente. As revistas chegaram por aqui a partir de 1950 e foram responsáveis por um novo capítulo na indumentária local.
– Essas revistas eram muito versadas em cima do cinema, das atrizes – aponta ela.
Também não dá para falar da moda da região sem citar a forte presença da imigração italiana, que moldou traços identitários que persistem até hoje.
– Agora já estamos falando da população interiorana, a vestimenta italiana veio tão forte que não se desprendeu dessas mulheres até 1920. Ela marcou presença muito forte, com características como o corpo muito coberto e o avental sempre presente. Foram três ou quatro gerações usando a mesma roupa, acho que existia um receio de mudar, era um sentido de ter segurança, algo como “vou me vestir igual a minha mãe porque sei que estarei bem vestida” – contextualiza a autora.
Outra característica muito regional que acabou por marcar o perfil das vestimentas, conforme Véra, foi a presença maciça das máquinas de costura em praticamente todas as casas:
– Aqui em Caxias, pelo menos até a década de 1970, a moça que iria se casar costumava ter em seu enxoval uma máquina de costura. As mulheres sabiam costurar e faziam as roupas de seus filhos e de si mesmas, sempre espelhadas nesses catálogos ou nessas revistas de moda.
Talvez venha daí a tradição da cidade como berço de grandes costureiras. Nesse sentido, Vestindo Moda presta homenagem a nomes como de Corina Frigeri Wainstein, Lola Salles, Marta De Carli Fichtner, Ilse Adami, Ilda Lucena, Santa Camassola e Irany Segatto. Foi a partir delas também que a cidade preparou-se para desenvolver sua moda autoral, mas esse já é assunto para outro livro.
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