Inquietos por natureza, artistas não conseguem ficar parados por muito tempo. Não importa se há uma pandemia lá fora, dá-se então um jeito de criar sem sair de casa, nem que isso envolva mais de uma pessoa em mais de uma casa. Em quarentena desde março, o cineasta caxiense Le Daros, 51, experimentou a direção remota de um curta-metragem que deverá estrear até o fim de agosto, intitulado Intocável. Na obra ficcional, Daros dirige a atriz Duda Andreazza, que dá vida a uma musicista que se vê presa em casa com seu instrumento, sem poder subir ao palco.
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– O curta trata de uma situação que muitos artistas estão vivendo. Foi gravado da maneira mais simples, com celular, um gravador digital e uma câmera Go Pro emprestada, que eram os elementos que tínhamos em mão. Tudo o que faríamos no set, como os testes de luz, de posicionamento de câmera, foi feito remotamente. Foi uma válvula de escape, porque esse momento, ao mesmo tempo que nos gera angústia, também instiga a pensar e a criar algo em cima da nova realidade – conta o diretor de trabalhos como Le Blanc (2017) e Um Cara de Confiança (2016).
Além de adiar projetos autorais, como o lançamento do documentário O Guardador de Histórias - João Spadari Adami (“não abro mão de que esse seja feito presencialmente, no Arquivo Histórico e com a família dele presente”, diz), o coronavírus adiou o sétimo festival CineSerra, dos quais é um dos organizadores, previsto para abril. A mostra será realizada em novembro, de forma presencial ou virtual, de acordo com o andamento da pandemia. Enquanto prepara a sétima edição, a equipe também aproveita para disponibilizar no site, em etapas, os curtas, videoclipes e documentários de edições anteriores.
– Como já tínhamos realizado toda a parte de seleção e de avaliação dos trabalhos, estávamos aguardando o desenrolar da pandemia. Nos últimos dias chegamos à conclusão de que há uma possibilidade de realizar a mostra em novembro, se os dados da pandemia indicarem uma redução significativa. Mas se até lá ainda tiver uma situação sanitária difícil, vamos realizar as sessões e a premiação virtualmente – garante.
Daros não arrisca previsões sobre o futuro do audiovisual. Considera que qualquer impacto estará relacionado com a duração da pandemia, que já se estende por mais tempo do que o imaginado. Foi por não prever que não duraria tanto tempo que optou por dar um tempo na sua outra profissão, de professor particular de inglês. Mas já pensa em partir para as aulas online, para voltar a contar com uma fonte de renda importante:
– Acho que o futuro vai depender muito da duração da pandemia. Se a gente começar a entrar numa fase de redução significativa, consegue uma boa recuperação do audiovisual ainda esse ano. Como projetos nesta área costumam ser de longa duração, tenho alguns em fase de captação, outros de avaliação. Estão encaminhados. Vejo com mais preocupação a questão da captação, que vai ser um problema para toda a área cultural, devido à situação econômica das empresas. Mas o artista tem que continuar fazendo a sua parte, criando e propondo. A realização depende do que vai acontecer daqui pra frente.
Enquanto o vírus não permite a volta à normalidade, o cineasta se preocupa e se ocupa com o presente, dedicando-se ao roteiro de um longa-metragem, além das gravações de um podcast que participa com as jornalistas Gabriela Marcon e Silvana Gonçalves, intitulado Estúdio Contexto (pode ser conferido no perfil homônimo no YouTube). Três episódios já foram ao ar, com entrevistas e reflexões sobre temas como cultura e educação. Também procura dedicar um tempo semanal à bateria e revela que tem projeto para dar sequência à carreira musical (nos anos 1990 e 2000 Daros tocou e fez backing vocals em bandas como Nariz de Porcelana, Cartel, Vox Populi e Violeta Pop, além de cantar em carreira solo). Mas isso já seria papo para outra matéria.
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