Em uma participação recente num debate transmitido pela internet, Monja Coen cita uma batalha de rap que assistiu em Bento Gonçalves, durante uma Feira do Livro, como exemplo de que mudanças positivas são possíveis através de educação, cultura e inclusão. A recordação carinhosa da monja não chegou a entrar em Nem Eu Sei Tudo, devido à autorização do uso da imagem não ter chegado a tempo, mas está no teaser do documentário que estreia nesta quinta-feira, e dá uma dimensão da importância do trabalho desenvolvido por uma galera que fez uma pequena revolução cultural na Capital da Uva e do Vinho, através do hip hop.
Produzido pela Ancora Produções, o documentário tem como gancho a história do coletivo NEST Panos (sigla para Nem Eu Sei Tudo), que surgiu e se mantém como uma marca de roupas, desde 2009, e do festival Battle in the Cypher, criado no ano seguinte pelos mesmos idealizadores e que hoje é um dos principais eventos de hip hop no Brasil, com edições espalhadas por diversos estados e também países vizinhos (ironicamente, em 2020 só foi possível realizar as edições descentralizadas, sendo que a de Bento teve de ser suspensa por conta da pandemia).
– “Nem eu sei tudo” é um nome que tem a ver com a forma como o coletivo surgiu, de uma galera que tinha um sonho e não sabia como realizá-lo, mas foi aprendendo no processo, dando um passo de cada vez. Bento sempre teve força no breakdance (passo de dança característico do hip hop) e aos poucos o coletivo e o festival contribuíram para fazer aparecer na cidade o pessoal que grafita, os DJs, os rimadores. É uma comunidade que envolve umas mil pessoas na cidade, entre quem está no palco, quem quer chegar ao palco e a plateia, além das centenas de visitantes que vêm para o evento – comenta Pedro Ramon Festa, um dos idealizadores do NEST ao lado de William Sarate Ballestrin.
Ao longo de 50 minutos, Nem Eu Sei Tudo mostra um pouco do ambiente dos festivais, das ações nas escolas e das batalhas de rua, unindo a estes registros depoimentos de participantes da cena. Histórias que, como bem sintetizou Monja Coen, mostram transformação pela cultura e pela linguagem das periferias urbanas. A direção é co-assinada por Pedro Festa, William Ballestrin e Diego Gheno, enquanto roteiro, direção de arte e fotografia são de Fernanda Turchetto.
– Acho que o principal mérito do documentário é que ele não faz uma propaganda do coletivo, mas sim conta sobre pessoas que deram o melhor de si para fazer acontecer aquilo que elas acreditavam que era possível. O hip hop em Bento sempre esteve às margens, mas aos poucos foi conseguindo ocupar mais e melhores espaços, oferecer melhor estrutura e ter mais visibilidade do poder público e da mídia. Isso de deve muito ao Fundo Municipal de Cultura, um importante instrumento que nos apoia desde 2014 (e que viabiliza o próprio documentário) – acrescenta Pedro.
Por conta do distanciamento social imposto pela Covid-19, não será possível realizar a sonhada estreia de Nem Eu Sei Tudo em praça pública, numa celebração da comunidade hip hop. Contudo, a internet oferece a chance de fazer o material chegar ao mundo todo e espalhar ainda mais a mensagem, que é o que mais importa. O documentário estará disponível a partir das 18h de amanhã, no site nemeuseitudo.com.br. Conteúdos extra, como os teasers, podem ser conferidos no canal da Ancora Produções no YouTube.