Caxias do Sul habita os versos do poeta Dinarte Albuquerque Filho há pelo menos 35 anos, desde que o cruz-altense mudou-se para cá. No livro Um olhar sobre a cidade - e outros olhares (lançado em 1995), ele descreve: "A cidade que me adotou me dotou de senso crítico, me despertou para os cheiros e impregnou-me de instintos".
De fato, foi em Caxias que um então amante dos livros na faixa dos 20 anos deu vazão a uma trajetória de vida pautada pelas letras. Caxias assistiu Dinarte se tornar escritor e foi palco para sua atuação como jornalista, mestre em literatura, professor da UCS e do Cetec, e até integrante do grupo de poesia musicada Nukitangi. Agora, a Caxias imortalizada nos versos, angústias e sonhos do poeta, o abraça como figura central de sua maior celebração literária. Dinarte será patrono da 36ª edição da Feira do Livro, marcada para ocorrer entre 27 de novembro e 13 de dezembro, na Praça Dante Alighieri.
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— Acabei criando vínculos, afetos, referências... a cidade está presente em praticamente tudo que eu escrevo, de uma forma explícita ou implícita. Afinal, todas minhas descobertas e quebradas de cara aconteceram aqui (risos). Minhas formações acadêmica, cultural, sentimental, todas passam por aqui — diz o poeta de 56 anos.
Dinarte aceitou o convite para ser patrono durante a tarde de ontem. O nome dele o de Paulo Roberto Fogaça — livreiro fundador da Fogaça Livraria das Ciências Jurídicas LTDA, que receberá o título de amigo do livro — foram escolhidos em reunião com representantes da Academia Caxiense de Letras, do Conselho Municipal de Política Cultural, da Associação dos Livreiros Caxienses, e da prefeitura (Biblioteca Pública, Secretaria da Cultura, Programa Permanente de Estímulo à Leitura e Casa da Cultura).
— Foi realmente aquele clichê de ficar sem palavras. É algo bastante gratificante, ainda mais no momento em que estou com livro novo — aponta ele, que lançou em maio Fissura no Asfalto (Liddo Editora), via LIC municipal.
O poeta será patrono de uma edição da Feira do Livro que promete ser histórica. Se a pandemia de coronavírus permanecer, a programação terá que se adaptar às regras de distanciamento social. E se a pandemia tiver cessado, a feira representará uma retomada da possibilidade do encontro. Mesmo sem conseguir prever qual cenário é mais provável, é claro que o patrono torce pela segunda opção.
— Tá difícil fazer planejamento de qualquer ordem, pensar em dezembro é algo provocador. Eu espero que haja essa margem possível para o reencontro. Se não, vai ser mais um aprendizado dessas novas formas de viver no coletivo, de compartilhar coisas boas como a literatura e a poesia, e como a nova arte do encontro — planeja.
Além de seu livro mais recente, Dinarte é autor ainda de Leituras na Madrugada (Liddo, 2014), Leminski, o "samurai-malandro" (EDUCS, 2009), 3, com Odegar Júnior Petry e Fabiano Finco (Liddo, 2005), Um olhar sobre a cidade - e outros olhares (ed. do autor, 1995) e Romã, com Fátima Jeanette Martinato (ed. dos autores, 1991). Das inúmeras antologias que participou, destaque para Misterioso Sul (Elos do Conto - Edição e Arte, 2018). Defensor do livro enquanto objeto de transformação, o patrono acredita que a Feira do Livro é sempre um momento de renovação da esperança no mercado literário e na valorização artística.
— Penso que esse momento que estamos vivendo, com todas essas restrições que foram impostas, também na mesma medida está proporcionando uma aposta maior em manifestações que favorecem o livro e a leitura. Até mesmo outras áreas indicam a leitura como uma maneira de a gente suportar melhor o momento. E, claro, apesar de sentir na pele as dificuldade de comercializar um livro e valorizar o livro diante de um quadro até perverso, acredito que ele sempre vai sobreviver, vai haver leitores sempre — argumenta.