A reclusão sempre fez parte da rotina da artista plástica caxiense Daniela Antunes. A diferença é que os dias passados no silêncio da bucólica localidade de Monte Bérico, onde une casa e atelier, perderam a poesia quando o isolamento passou a ser imposto pela pandemia do coronavírus. Aquilo que parecia passageiro virou uma preocupação que só aumenta, conforme o país mostra dificuldade em combater o vírus:
- Não estamos em condições de poetizar uma situação difícil como a que a gente está vivendo. Mesmo com a dificuldade de perder trabalho, estou isolada em minha casa, com conforto. Penso em quem não tem esse mesmo privilégio, que precisa trabalhar nas empresas, enfrentar a cidade. Tenho me sentido muito angustiada. A única resposta sincera é que achei que fosse passar mais rápido, mas não vai. O momento é de priorizar a saúde - reflete.
A perda de trabalho foi brusca. As vendas de suas obras caíram 90% desde março. Em abril recebeu R$ 70. Em maio, outra encomenda rendeu R$ 300. Para a artista, cujas peças em cerâmica costumam alcançar valores superiores a R$ 1 mil, pesaram o fechamento de lojas e a preocupação financeira dos clientes, que no momento priorizam as despesas básicas. Também teve de parar de dar aulas, uma vez que o ensino das artes plásticas requer o contato presencial.
- As pessoas estão conscientes de que o pior da crise ainda nem veio. Se têm dinheiro agora, temem que possa faltar lá na frente. Muitos dizem que irão voltar a comprar após a pandemia. Uma loja de Florianópolis, que fez uma encomenda muito boa no início do ano, teve de fechar. Também perdi um curso que iria ministrar em Vacaria e a possibilidade de uma exposição em Flores da Cunha - conta.
Uma forma que alguns artistas caxienses encontraram de minimizar a crise foi comprar obras uns dos outros, vendidas a valores mais acessíveis. Uma rede de apoio mútuo, define a artista, que recentemente adquiriu um quadro do pintor Sérgio Luiz em uma exposição virtual.
Por considerar que há pessoas mais necessitadas, Daniela evitou pedir o auxílio emergencial de R$ 600 do Governo Federal. Conta com a ajuda do marido, que trabalha como despachante, para segurar as pontas.
Desenho para distrair e novas ideias
Produzindo com os materiais que já tinha em casa, Daniela Antunes aproveita o período também para se aprimorar em uma nova linguagem, o desenho com lápis de cor. Tanto nas criações a lápis quanto nas esculturas, retrata o sentimento dos dias atuais:
- O artista expressa aquilo que sente e vê, então não tem como não trazer pra arte essa sensação melancólica desses dias. Aqui onde moro tem muitos cavalos, então tenho criado bastante em mulheres deitadas sobre cavalos. O desenho tem sido a distração necessária.
Entre as ideias para buscar soluções num futuro próximo estão a de produzir peças menores, que possam ser vendidas por valor menor do que a sua produção habitual, e a criação de um site pessoal para comercializar seu trabalho, que está sendo desenvolvido com a ajuda de um sobrinho. Enquanto o site não vai ao ar, suas obras podem ser conhecidas e adquiridas no seu Instagram: @danielaantunes399. Além de novas peças, há esculturas remanescentes de exposições passadas, como “Daniela Através do Espelho”, que esteve na Galeria Gerd Bornheim em 2017.