Se o tom místico de Raul Seixas tem feito sucesso na quarentena (as buscas pela canção O Dia em que a Terra Parou triplicaram no YouTube desde março), na literatura foram as obras distópicas que caíram no gosto popular. Ou seja, aquelas histórias que apresentam uma visão pessimista de futuro, com governos autoritários e repressão das liberdades civis.
Conforme levantamento do Sete Dias junto às livrarias caxienses que mantiveram serviço de tele-entrega, títulos como 1984 e A Revolução dos Bichos, de George Orwell, e Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, estão entre os mais vendidos desde que o distanciamento social começou. Ensaio Sobre a Cegueira, do português José Saramago, também ocupa lugar de destaque.
— Esses livros sempre foram bastante procurados, mas não como agora. Houve um boom, de uma hora para outra, assim como a pandemia. Tanto que alguns acabaram esgotando em questão de dias e tivemos que correr atrás para repor o estoque — conta Guilherme Martinato, gerente da livraria Do Arco da Velha.
O cenário é parecido quando analisamos o ranking dos mais vendidos da plataforma Amazon e do portal Publish News, que reúne dados e informações do mercado editorial brasileiro. Considerando apenas os títulos de ficção, excluindo obras didáticas ou de autoajuda, Orwell e Bradbury predominam.
Um dos romances mais influentes do século passado, 1984 conta a história de Winston, um funcionário público que vive sob a vigilância constante do Grande Irmão, uma das mais famosas personificações do autoritarismo na literatura. Já em A Revolução dos Bichos, também de Orwell, os porcos Napoleão e Bola-de-Neve lideram os animais de uma granja numa revolta para expulsar os humanos e implantar uma sociedade perfeita. O problema é que, com o passar do tempo, os novos governantes se mostram tão autoritários quanto o antigo fazendeiro — uma sátira do autor ao regime de Stalin, na União Soviética.
Na mesma linha, Fahrenheit 451 apresenta uma sociedade onde o pensamento crítico é considerado subversivo e os livros são proibidos – “bombeiros” são responsáveis por queimar os exemplares. Já no aclamado Ensaio Sobre a Cegueira, Saramago narra uma misteriosa epidemia que tira a visão de milhões de pessoas, abalando as estruturas sociais.
— A literatura é, entre outras coisas, uma forma de procurar respostas que não encontramos em outras linguagens. É possível que a busca por esses livros seja uma tentativa de entender o que está acontecendo no mundo. Embora a gente veja as distopias como projeções de futuro, elas dizem muito sobre o momento em que foram produzidas e dialogam com o presente — avalia o escritor Douglas Ceccagno, doutor em Letras e professor da UCS.
Embora não apareça entre os três mais vendidos, A Peste, do franco-argelino Albert Camus, também tem atraído leitores. Publicado em 1947, logo após a Segunda Guerra Mundial, o livro fala sobre uma epidemia na cidade de Orã. O personagem principal é Rieux, um médico que combate a doença desde o momento que ela começa a se espalhar, por meio dos ratos. O narrador também descreve a reação das pessoas, da indiferença à violência.
Mercado em retração
Mesmo com a grande procura pelas distopias, o mercado editorial brasileiro registrou queda de 4,09% no volume de vendas entre 29 de fevereiro e 24 de março, na comparação com o mesmo período de 2019. Os dados são do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, que aponta a pandemia como fator decisivo para a retração.
OS MAIS VENDIDOS:
Do Arco da Velha
1. A Revolução dos Bichos, de George Orwell
2. Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago
3. Fahrenheit 451, de Ray Bradbury
Colecionador
1. O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien
2. The Witcher, de Andrzej Sapkowski
3. It - A Coisa, de Stephen King
Sempre Ler
1. O Rouxinol, de Kristin Hannah
2. Coleção Capitão Cueca, de Dav Pilkey
3. A Revolução dos Bichos, de George Orwell
Amazon
1. A Revolução dos Bichos, de George Orwell
2. 1984, de George Orwell
3. Fahrenheit 451, de Ray Bradbury
Publish News
1. A Garota do Lago, de Charlie Donlea
2. A Revolução dos Bichos, de George Orwell
3. 1984, de George Orwell