É um paradoxo. Quanto mais conectados estamos uns com os outros, maior é a necessidade de buscarmos nossa conexão entre corpo e mente. Queremos o contraste. Combater o dia a dia barulhento com o refúgio silencioso ao final de semana, o cinza da cidade com o verde da natureza. À pressa das ruas, encontrar refúgio na preguiça debaixo de uma árvore. O silêncio, além de um anseio, é um produto rentável na mão de quem pode oferecê-lo.
Na Serra, as ofertas de turismo em propriedades rurais crescem como um contraponto às metrópoles e também ao litoral cada vez mais agitado. É como se fosse um retorno à vocação original, uma vez que, antes de ser destino procurado para desfrutar do charme do inverno, a região era recomendada pelos médicos para o veraneio, pela qualidade do ar aliada à beleza das paisagens. Em comum entre as diversas ofertas turísticas em fazendas, camping, vinícolas e hotéis está a preocupação com a sustentabilidade e a não maximização do lucro. É oferecer bem estar, mas desde que se possa estar bem com isso.
Há três anos, a Monã atrela a seu nome a tríade Hospitalidade, Natureza, Cultura. Propriedade da família Castelli no interior de Canela, na última década e meia serviu para os cursos de agroecologia da Escola de Hotelaria da família. Há três anos, Daniel Castelli, 43, e a esposa Aline Manea, 40, identificaram a oportunidade de transformar a propriedade para o turismo, oferecendo aos visitantes pouco além do que é o próprio dia a dia na Monã: a rotina em meio ao verde, aos animais, ao mínimo barulho e sem tempo para a pressa. Como até porque o acesso a internet é limitado, devido à condição do sinal, a ordem é desacelerar e desconectar.
– Nosso processo de comunicação é muito orgânico, tanto que a maioria dos clientes nos encontra, ao invés de nós irmos ao encontro delas. Começamos a lidar com pessoas que estavam em busca de um pouco de privacidade e de experiências verdadeiras, o que inclui saber a procedência do alimento, ser recebido e atendido pelos donos e estar em contato com a beleza da natureza, mas também suscetível às suas manifestações, como o frio, a chuva, a cerração. Nosso desafio é aliar essa proposta mais informal ao profissionalismo no atendimento – destaca Daniel, que também é o responsável por boa parte dos utensílios de madeira da hospedaria, que saem da sua marcenaria.
Além da hospedagem (a Monã oferece suítes para três pessoas e de duas casas para até quatro pessoas), o visitante pode participar dos almoços de domingo com som ao vivo, o chamado Brasa e Blues. Esporadicamente, são realizados em um salão multicultural eventos de nomes também auto-explicativos, como o Yoga Fit Zen e a Festa da Polenta. Mas se o turista não quiser participar das vivências coletivas, pode aproveitar a propriedade a seu modo, como se estivesse em casa e a sua casa fosse um pequeno pedaço de paraíso na Serra.
– Tem espaço para quem quer interagir e também para quem quer ficar quietinho. O foco é a agroecologia e a troca de energias positivas. A gastronomia, os eventos são parte do pacote, mas não o principal – comenta Aline.
Voltada para a sustentabilidade, chama a atenção a forma como a propriedade se retroalimenta, com os resíduos servindo de matéria-prima. A própria arquitetura, em taipas de pedra e madeiras de pinus e eucaliptos disponíveis na própria propriedade, dá mais vida ao espaço, como se mesmo as construções brotassem do chão. Oferecer uma experiência tão “raiz”, mas que ainda assim é turismo, ainda provoca eventuais ruídos entre clientes e anfitriões, mas que são resolvidos na conversa:
– É difícil colocar a Monã na caixinha de formatação de um produto a ser oferecido. Pois para receber crianças, por exemplo, não é um parque de diversões. Há riscos com aranhas, cobras, açudes. Também cabe aos pais interagir e protegê-las. Sou um pouco contra ter pracinhas, brinquedos, recreacionista. A gente oferece 132 hectares de natureza, mas também cabe aos pais estimular os filhos a aproveitá-la. E nisso eles se encantam ao ver como as crianças são criativas e capazes de se divertir com o mínimo de recursos, como dois gravetos ou uma pedrinha.
Serviço
O quê: Monã - Hospitalidade, Natureza, Cultura
Onde: Rodovia Arnaldo Oppitz, s/n, em Canela
Quanto: hospedagem a partir de R$ 450 (suítes), almoços aos domingo R$ 120
Mais informações: www.vivamona.com.br ou pelo telefone (54) 999193611
Descanso com vista privilegiada
Oferecer aos visitantes algumas horas para vivenciar plenamente o presente e contemplar o vai-e- vem das próprias emoções, como se fossem folhas que balançam nas árvores com o vento, é a proposta da Montanha dos Sentidos, em Bento Gonçalves. O projeto, iniciado em no segundo semestre do ano passado, é capitaneado pelo jovem casal Luiz Gustavo Dall’Agnol, 29, e Kelly Todescatto, 28. Guto, como é chamado o jovem, é instrutor de yoga e essa paixão permeia a experiência que se tem ao visitar a propriedade, num dos pontos mais altos do belo distrito de Faria Lemos.
Além (e antes) de ser Montanha dos Sentidos, a área, localizada a 14 quilômetros do centro de Bento, no Roteiro Cantinas Históricas, abriga a vinícola Estrelas do Brasil, que produz vinhos e espumantes com uma proposta bem artesanal. O proprietário é o pai de Guto, que sugeriu ao filho a ideia de oferecer práticas de yoga e bem-estar aos visitantes que chegam à vinícola para degustação e compras, e ficam deslumbrados com a paisagem.
– Acho que meu pai se conformou que eu não seria enólogo, mas encontrou uma forma de me ter aqui perto – brinca Guto.
Para apreciar uma vista incrível do Vale Aurora e de Monte Belo do Sul, a propriedade conta com mirantes instalados em diferentes pontos do terreno, onde é possível se demorar na contemplação (assistir ao pôr do sol com o som ao vivo da sitar - instrumento de cordas indiano - dá vontade de pagar o ingresso duas vezes). Um tablado para a prática de yoga, colocado sob um caminho de pés de nogueiras, é outro ponto forte do lugar. As sessões intituladas Yoga e Relax, que ainda ocorrem esporadicamente (vale ficar ligado nas redes sociais para se informar sobre as datas), são despretensiosas e não têm a intenção de aprofundar a prática, mas sim estimular a percepção do próprio corpo.
– As pessoas estão muito afastadas do mundo físico, cheias de projeções sobre o futuro, ansiedade, depressão. Trazer a ideia do turismo com a apreciação do momento presente e diminuição das expectativas é o nosso desafio. Principalmente porque, quando a pessoa chega com uma intenção de turismo, ela já chega cheia de expectativas – comenta Luiz Gustavo.
O casal quer ampliar a oferta para o próximo verão, com novos eventos ao ar livre. Um restaurante está sendo construído numa antiga casa de pedras, mas ainda não há estrutura para oferecer alimentação. Por isso, recomenda-se levar a própria comida para o piquenique.
Serviço
O quê: Yoga e relax ao ar livre na Montanha dos Sentidos
Onde: ERS-431, km 4,2 (distrito de Faria Lemos, em Bento Gonçalves)
Quanto: Valores a consultar. Qualquer visita deve ser agendada.
Mais informações: @montanha.dos.sentidos (Facebook e Instagram) e telefone (54) 99924.1016 ou (54) 99710.1016
Proibido barulhentos
Há 40 anos, uma deslumbrante área verde às margens da BR-116, no limite entre São Marcos e Caxias do Sul, foi transformada em camping pela família Pimentel. Até 2010, o espaço foi destino de fim de semana para centenas de pessoas que usufruíam do refúgio da cidade, em sua maioria moradores de Caxias do Sul. O Balneário Nossa Senhora das Graças foi um dos mais conhecidos da região, mas tornou-se vítima do próprio sucesso: com o passar dos anos, perdeu a identidade do lugar tranquilo e sereno que deveria ser, tomado pela música alta, excesso de bebidas e acúmulo de lixo a ser recolhido a cada segunda-feira.
Ao assumir a propriedade em 2013, três anos após a morte do pai e proprietário original do Balneário, Miriam Pimentel, 35, quis começar do zero. O objetivo era desfazer a imagem negativa que ela própria guardava do local e proporcionar aos visitantes um revigorante contato com a natureza, o mais livre possível do barulho e da bagunça. Um choque de gestão que assustou no começo:
– Optamos por transformar num lugar de descanso, para as pessoas espairecerem. Perdemos muitos clientes, mas fidelizamos outros tantos que se tornaram nossos amigos e ajudam a cuidar do espaço e também das pessoas. Se antes recebíamos mil pessoas por fim de semana, hoje vêm 300. Mas prefiro assim a receber visitantes que não entendem a nossa proposta. Muitas pessoas ainda veem o camping como o lugar para fazer o que não podem fazer na cidade.
Construído com material de demolição e princípios de permacultura, o cuidado com a preservação perpassa cada canto do camping. Entre as atrações, o espaço oferece banho no Rio Faxinal, trilhas por quatro hectares de mata nativa preservada (a área total da reserva é de 25 hectares).Há churrasqueiras, banheiros, chuveiros e energia elétrica. Quem quiser apenas relaxar sem grandes aventuras pode escolher uma rede para deitar ou apenas contemplar o cenário de árvores, pedras e água, ouvindo nada além do barulho provocado pelo vento e pelos animais.
O camping abre de terça a domingo e o cliente pode optar por passar o dia ou acampar. Esporadicamente ocorrem eventos como bazares e feiras de artesanato, além de encontros de yoga e meditação. Tudo voltado para proporcionar o encontro entre os visitantes e a natureza, estimulando a cordialidade no convívio.
– O que me impressiona é como resta pouco lixo para recolhermos. Os visitantes carregam consigo ou deixam em sacolas, nada fica no chão. É uma mudança de cultura que leva tempo, ainda nos obriga a dizer alguns “nãos”. O que nos deixa feliz é ver as pessoas saírem daqui felizes e relaxadas, com as energias recarregadas.
Serviço
O quê: Cheiro de Mato Eco Camping
Onde: BR 116, KM 132 (entre Caxias do Sul e São Marcos)
Quanto: visitação a R$ 10, camping a R$ 25 a diária por pessoa
Mais informações: (54) 99121.6112
Paz e quietude em Garibaldi
Na contramão da sofisticação e do luxo oferecido por concorrentes na região, o Hotel Mosteiro São José, em Garibaldi, transborda paz e história na mesma medida. A construção erguida no final dos anos 1920 para abrigar as freiras da Congregação das Irmãs de São José, que hoje ocupam parte da propriedade (outra parte virou sede da prefeitura e outra o hotel), convida ao repouso e ao silêncio em cada canto, literalmente. Isso porque muitos “cantinhos” foram transformados em aconchegantes áreas para vivências pessoais ou coletivas, com sofás, poltronas e mesas de estudo, como numa viagem a qualquer tempo intocado pela era digital (embora o serviço do hotel não deixe falar nada em termos de conforto).
Além de uma bonita capela em estilo gótico e de salas para oração, os corredores são adornados por diversas imagens sacras. A religião, contudo, é apenas parte da experiência, que tem mais a ver com a história do que com o dia a dia do hotel. Na área externa, o hóspede pode passear por um bonito jardim com imagens religiosas e belos ângulos da cidade de Garibaldi. Também no jardim é possível relaxar sentado em algum dos bancos posicionados quase como se estivessem escondidos, ideais para a leitura, o chimarrão ou apenas organizar os pensamentos, sem pressa e sem intervenções. Ao final do terreno ficam plantações de uva, milho, chuchu, figo, caqui, abacate a abobrinha, mantidas pelas freiras e que abastecem a cozinha do hotel.
Desde setembro do ano passado, a administração do hotel passou das irmãs pela rede catarinense CHA. Gerente do hotel desde então, Jonas Krüger, 29, destaca que a intenção é potencializar a aura de paz, modernizando sem perder a identidade.
– Agente percebe que as pessoas retornam motivadas por essa experiência de descanso e de tranquilidade que tiveram aqui outras vezes. Também é comum recebermos grupos que vêm para praticar meditação e reiki – destaca o gerente.
Para os mais interessados em conhecer a história, diversos espaços espalhados pelo hotel ilustram a sua própria história, através de móveis, utensílios domésticos, fotografias e documentos centenários. Se o hóspede pedir, pode ter a história contada por alguma das irmãs, conforme a disponibilidade delas.
Serviço
O quê: Hotel Mosteiro São José
Onde: Rua Buarque de Macedo, 3590 - Centro, Garibaldi
Quanto: valores a consultar
Mais informações: (54) 3462-4577 ou http://chahoteis.com.br/hoteis/hotel-mosteiro-sao-jose
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