Anunciado oficialmente na última quinta-feira como secretário da Cultura de Caxias, Paulo Périco (MDB) assume um setor bastante sacrificado por decisões da última gestão. Mesmo com orçamento para 2020 já aprovado, e escasso, Périco planeja organizar a secretaria contando com a ajuda dos servidores, de parcerias com a iniciativa privada e com os próprios artistas.
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O cenário aponta para alguns cortes inevitáveis, que ainda serão estudados para causar o menor impacto possível, conforme o novo secretário. Ainda sem definir se permanecerá o ano todo no cargo _ existe a chance de que ele saia para concorrer a vereador _, Périco pensa em ações que possam ser desenvolvidas ao longo do ano com o objetivo de entregar uma secretaria melhor resolvida à próxima gestão.
A seguir, confira a opinião do novo secretário sobre temas pertinentes à área cultural.
Orçamento
“A questão financeira está sendo revista. Temos a verba orçamentária que foi aprovada pela Câmara, mas o dinheiro em si ainda não temos em caixa. Agora vamos falar com o secretário Paulo Dahmer (de Receita e Gestão e Finanças) para ver como podemos não cortar ou cortar menos. A gente não quer prejudicar o Coral, a Companhia de Dança, a Orquestra”.
Problemas de estrutura física
"Continuam os problemas de infiltração na Cidade das Rolhas e no Museu Zambelli. Há também infiltração na Sala de Teatro Professor Valentim Lazzarotto. Na Casa da Cultura, foi perdida verba de uns R$ 500 mil... O João Uez (que assumiu a secretaria de Cultura interinamente) não teve condições de ir a Brasília assinar e manter essa verba. Eu fiquei sabendo depois. Como o Ministério da Cultura ainda estava com o Ministério da Cidadania, existia esse projeto. Agora, o Ministério da Cultura está com esse ponto de interrogação. Falei com o Osmar Terra (deputado federal) e nem em Brasília existe definição. Seria uma verba para a Casa da Cultura, que está usando uma mesa de luz emprestada pelo Centro de Cultura Ordovás, por exemplo. Além disso, temos questões dos PPCIs (Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio), o único prédio da secretaria que tem isso encaminhado é o Ordovás. Já estamos atrás disso".
Cortes
"Cortes podem existir, talvez em número de ensaios (da Orquestra, Coro, Companhia de Dança) e de pessoas talvez também. Mas a ideia é que se possa manter o máximo. Coloquei uma palavra muito minha, porque venho da iniciativa privada, que é produtividade. O município não pode mais se dar ao luxo de não agregar valor da cultura para o cidadão, que é quem faz o investimento. Temos que ver qual é a produtividade dos museus, das companhias, o que elas e nós da cultura estamos levando para o cidadão".
Diálogo
"Com Conselho de Políticas Culturais já fiz um pré-papo, mas quero uma reunião oficial com eles. Nós também vamos hoje (sexta-feira) de tarde lá no Ceu (Centro de Artes e Esportes Unificados), no Cidade Nova. Quero conhecer aquele ambiente todo, temos um cineteatro lá e temos que montar ele. Só que essa licitação não saiu ainda. Pretendemos nos reunir com todas as pessoas que, de certa forma, tiveram envolvimento com a cultura e que tiveram a experiência de quando Caxias foi capital da cultura. Nós perdemos tudo isso".
Entrave
"Tem projetos na Cenlic (Central de Licitações) de abril do ano passado e que estão lá parados. A cidade estava parada e a gente começa a descobrir. O secretário tem autonomia orçamentária, mas nos últimos dois anos, essa central passou a questionar absolutamente tudo. Não faz sentido a Câmara (de Vereadores) aprovar um orçamento para depois o secretário não ter autonomia de administrá-lo. Os pedidos estão parados, tem que destravar a cidade e voltar a autonomia para os secretários".
Verbas
"Um problema sério de Caxias do Sul é a nossa folha de pagamento, que compromete cerca de 80% do orçamento. A primeira rubrica é a saúde, a segunda é a educação e a terceira é a folha. Vai chegar o momento que o município vai trabalhar como o Estado trabalha, para pagar a folha".
Alternativas
"Temos que buscar parcerias com empresas, com sindicatos. Nós poderíamos fazer o Natal na praça junto com CDL e Sindilojas, como era feito. Por que o município tem que fazer ele um Natal sozinho? Então, temos que abrir as portas e fazer com que a comunidade possa efetivamente fazer parte da cultura.
Queremos fazer trabalhos em conjunto com outras secretarias também. Percebi que os setores da cultura não se comunicam. Um exemplo disso é que para manutenção de corte e de grama era chamada a Codeca e nós temos duas roçadeiras no Ordovás e profissionais da área da manutenção disponíveis, então, por que chamarmos a Codeca? Para este ano estava estimado um gasto de R$ 103 mil com isso, valor quase igual ao do Financiarte. Isso eu já cortei ontem (quinta-feira)".
Carnaval
"Já me reuni com os blocos de Carnaval, vamos voltar ainda a conversar com eles. Vamos dar todo apoio. O pessoal do Carnaval de rua pediu um palco para colocar na Plácido de Castro, vai ser um Carnaval fixo, é a primeira proposta deles. Eles teriam que ter trabalhado um ano inteiro para criar os carros e tudo mais. Vamos disponibilizar um palco para eles, mas a questão toda é o som. A cotação é de abril de 2019 e está trancada lá na Cenlic".
Rentabilizar
"Minha visão é de que a cultura traz dinheiro para o município, através de ações culturais como os blocos de Carnaval, por exemplo, que movimentam cerca de 100 mil pessoas em uma semana. Muitos hoje chegam a deixar de ir para praia para passar aqui o Carnaval, isso prevê geração de emprego e de renda. Então, essa é a visão que temos que ter da cultura, ela é sim um ponto de rentabilidade do município, e não de custo. A gente tem que arrecadar para o município".
Financiarte
"Está no orçamento do município R$ 105 mil para o Financiarte, mesmo valor do ano passado. Estamos pensando em tentar fazer outra coisa. Queremos revisar as leis, pensar em leis mais atuais e mais modernas. São leis feitas há muitos anos atrás. Vamos revisar essas leis, para tentar modernizar e ver o que podemos alterar de forma legal para que se possa viabilizar mais ações".
Maesa
"Existe todo um planejamento feito, montado, pago e, infelizmente, ficamos três anos parados. No início da administração do Daniel Guerra, a primeira vez que falei com o Fabris (Ricardo, ex-vice-prefeito), ele me disse que já tinha ido falar com o ministro da Cultura sobre a Maesa e que era para encaminhar o projeto porque dinheiro tinha. Isso faz três anos e ficou tudo parado. Então, acho que temos que fazer alguma coisa, mas o município não tem verba, nenhum deputado da nossa região, o próprio cenário da cultura a nível nacional está conturbado...".
Dívidas
"O caixa está zerado, negativado. Temos ainda estouros do Natal, e um cachê da Feira do Livro para pagar. Temos em torno de R$ 50 mil de dívida. Esses valores estavam empenhados, mas acabaram entrando no caixa único e sendo usados para pagamento da folha dos servidores".
Feira do Livro
"Já assinei um documento ao secretário de Planejamento para que disponibilizem profissionais que montam a estrutura lá na praça. Já vamos marcar com o pessoal da Biblioteca Pública porque sabemos que existe um projeto para 2020. Vamos ver o que está encaminhado e buscar parcerias e empresas que venham nos ajudar a captar patrocinadores. Ano passado, não foi conseguido captar todo valor".
Participação de Maria Inês Périco (esposa do secretário que já esteve ligada à Secretaria da Cultura na primeira gestão do ex-prefeito José Ivo Sartori)
"Gostaria de aproveitar o conhecimento dela, mas existe uma questão mais ética e moral de não fazer nepotismo. Vou convidar ela para ser voluntária e nos ajudar, tanto é que ela já tinha oferecido ajuda para o próprio prefeito Cassina. Ainda não tenho ideia em qual área ela iria, mas vai ser voluntária, consultora".
Sair para concorrer
"O planejamento tem sido feito pensando na Secretaria da Cultura, para um ano, não é a pessoa Paulo Périco, se vai sair ou ficar. A equipe é experiente, servidores que estão há anos aqui. Quero rever as leis, modernizar as leis, abrir as portas da secretaria para todas as ações culturais, sem absolutamente nenhum tipo de discriminação, e fazer o planejamento para o ano todo. A minha palavra é produtividade. O que nós podemos agregar ao município, temos que criar valor para o nosso cidadão, ele tem que voltar a ter orgulho da cidade".
Parada Livre
"A gente pode ver a Parada Livre como um evento que traz recursos ao município. A Parada não agride ninguém, não ofende ninguém, é aberta. Isso como todas as paradas, tudo é cultura, sem nenhuma discriminação".
Objetivos
"Para levantar a cultura não se tem condições em um ano. O que a gente pretende é deixar pelo menos algumas coisas preparadas para a nova administração, qualquer que venha a ser. Que pelo menos tenha já um caminho, que a gente contribua, deixe a casa organizada. Queremos trazer o pessoal do grafite para nos ajudar a trabalhar pela fachada da Casa das Máquinas, que a gente coloque arte nos prédios tombados e também na Praça das Feiras. Queremos tornar esse ambiente alegre e permitir que os artistas trabalhem junto com o município".
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