Toquinho é um dos artistas remanescentes de uma geração icônica da MPB. Viu de perto a popularização da bossa nova e compartilhou criações com nomes como Vinicius de Moraes e Chico Buarque. Mas se tem uma expressão com a qual o cantor e compositor paulistano de 73 anos não se identifica é “bons tempos aqueles”. A ode ao passado celebrada e defendida por muitos não interessa a Toquinho, que prefere difundir uma frase do amigo Paulinho da Viola: “eu não vivo no passado, o passado vive em mim”. Dono de uma trajetória de mais de 50 anos em cima dos palcos, Toquinho só se mantém na ativa porque prefere olhar para frente. É esse entusiasmo pelo agora que o artista deve mostrar em São Francisco de Paula neste domingo (19), como atração de encerramento do Paralelo Festival. O show está marcado para as 21h e a entrada é franca.
– Bons tempos são esses, agora. Eu canto as canções de uma forma nova, não nostálgica. Minha carreira está sempre começando hoje. O que me preocupa é o aqui e agora – reforça ele, em entrevista ao Pioneiro por e-mail.
Prova desse arrebatamento pelo hoje são os inúmeros projetos que Toquinho tem encabeçado nos últimos tempos. Um dos mais recentes é uma parceria com o poeta e compositor carioca Paulo César Pinheiro, com quem deve fazer um disco previsto para ser lançado ao logo deste ano.
As parcerias, aliás, são um capítulo muito importante da biografia do artista, basta lembrar de Vinicius de Moraes, a mais emblemática delas. No CD e DVD Toquinho - 50 Anos de Carreira, lançado em 2018, a lista de convidados conta com nomes da nova geração como das cantoras Tiê, Verônica Ferriani e Anna Setton. O critério utilizado na escolha, segundo ele, é bem simples:
– Meus parceiros sempre foram antes grandes amigos. Acho que não escolhemos com quem queremos trabalhar. A vida se incumbe disso, oferecendo oportunidades e aproximando as pessoas.
Outra característica importante na obra de Toquinho é sua capacidade de dialogar com diferente públicos. As crianças, por exemplo, representam uma parte muito importante de criação artística. Foi nesse contexto, aliás, que Toquinho criou um de seus sucessos mais conhecidos, Aquarela – quem não lembra das propagandas da Faber Castell embaladas por ela? – e que aprendeu lições importantíssimas para a vida.
– É preciso ter muito humor pra se fazer músicas infantis. Quem não tem humor é melhor nem tentar. Outra coisa: há que ter humildade, despojar-se de coisas que se aprendeu, escalas, harmonias, teorias musicais. E fazer o que o som pede, o que a canção pede para ficar audível, agradável. E essa linguagem é muito difícil porque não se pode subestimar a criança e não se pode fazer qualquer bla-bla-bla. A criança prima pela espontaneidade – aponta Toquinho.
Essa humildade é levada a sério pelo músico também nos palcos. No show que fará em São Francisco de Paula, o compositor garante que estará à disposição do público.
– Eu vou ver o que o público quer. Se o público estiver curtindo o lado instrumental, vou tocar mais. Se o público gostar de cantar, vou cantar canções conhecidas. É um ato de amor o show; é que nem um homem ser egoísta e não pensar na mulher no ato sexual. O show é como um ato sexual. Quando vou cantar uma música nova, eu peço perdão, licença, para o público. Toda essa gama de procedimentos é que faz uma carreira tão longa e sempre renovada – justifica.
Outra garantia da longevidade de Toquinho como artista é sua relação íntima com o violão, instrumento que o acompanha desde o início e que, certamente, abriu muitos caminhos por meio de dedicados acordes.
– O violão me faz dialogar com Deus, e a música é a escritura desse diálogo. Tocar violão, para mim, é respirar com as mãos, e a música é o ar em forma de acordes. Minha transpiração tem o odor da madeira que encosta ao meu peito e a frequência de meu coração se regula pela vibração das cordas do instrumento. O violão é meu psicólogo, meu amuleto, minha trincheira – poetiza.
:: Programe-se
O quê: Paralelo Festival.
Quando: neste sábado e domingo.
Onde: às margens do Lago São Bernardo, em São Francisco de Paula.
Quanto: entrada franca.
Shows: no sábado, 50 Tons de Pretas (18h), MOIO (19h20min), Fiero (20h40min) e Milongas Extremas (22h); no domingo, Luciano Leães & The Big Chiefs (17h), Trabalhos Espaciais Manuais (18h20min), Dex Romweber (19h40min) e Toquinho (21h).