Para a professora Flávia Boschetti Rabelo, 35 anos, 2019 foi o ano de realizar um sonho antigo. Um sonho, aliás, que se transformou em quatro. Há tempos Flávia almejava ser mãe, mas foi surpreendida com uma gravidez de quadrigêmEos. Ícaro, Kael, Noah e Théo chegaram, exatamente nessa ordem, no dia 21 de maio, no Hospital do Círculo, em Caxias. A família, formada ainda pelo pai, Maximiliano Borges, foi tema de reportagem no Pioneiro em novembro, quando as crianças já estavam em casa depois de um período de recuperação no hospital. Agora, o quarteto e os papais de primeira viagem viverão a experiência de compartilhar o primeiro Natal juntos.
Analisando a importância que 2019 teve em sua vida, ela tira uma lição que cabe a diversas situações:
— Eu queria muito mesmo ser mãe e olhar para trás me faz pensar como é importante ter fé no que a gente acredita, não desistir. Mesmo que, às vezes, o resultado demore mais do que a gente espera. Sinto que Deus me abençoou — diz ela.
Os quadrigêmios nasceram prematuros, de 27 semanas, o que acarretou em alguns momentos de apreensão para toda família. Noah chegou a passar por cirurgia devido a um sopro no coração, e ficou quatro meses internado. A saúde dos pequenos é ainda um fator de muita preocupação para a jovem mãe.
— Tenho muita preocupação pelo bem-estar deles, às vezes dá uma angústia. Mas é uma alegria ver eles crescendo, ver a evolução deles — amima-se.
Mesmo acostumada à rotina agitada que a presença de quatro bebês implica, Flávia conta que todas as semanas a família passa por alguma adaptação diferente. O que costuma mesmo ser igual em todos os dias é a alegria da mamãe ao dar bom dia aos quatro guris.
— De manhã, com eles todos acordados e sorrindo, acho que é um dos momentos preferidos o meu dia. Ah, e também na hora do banho, porque eles adoram — conta Flávia.
A partir da chegada dos bebês à residência, a mamãe foi captando as principais características da personalidade de cada um. Hoje, já sabe que Théo é o mais calmo, Noah é o mais sério, Kael é o mais agitado e Ícaro é o curioso da turma, sempre observando todos ao redor. No ano que vem, Flávia certamente descobrirá muitas novas facetas de cada um. Enquanto torce para todos cresçam cheios de saúde, a mamãe também pensa sobre o futuro profissional dos filhos:
— Gostaria que eles buscassem uma formação que pudesse ajudar outras pessoas, assim como eles também tiveram a ajuda de tanta gente desde antes de nascer.
Quando falou com a reportagem, na última quinta (19), Flávia também estava preocupada com uma decisão do plano de saúde da família, que vetou o atendimento domiciliar de fisioterapia que antes era oferecido aos meninos. O problema que terá de enfrentar nos próximos dias — já que as crianças precisam de atendimento três vezes por semana e sair com eles todos juntos é sempre uma aventura — fez Flávia pensar em um desejo para 2020:
— O que precisamos é de mais empatia, que as pessoas se coloquem mais no lugar uma das outras.
Amanda quer repetir bons momentos de 2019
Ainda era possível ouvir a queima de fogos que saudava o Ano Novo quando Helena nasceu, à 0h12min de 1º de janeiro, no Hospital Geral. Filha da vendedora Amanda Fagundes Fernandes e do motoboy Leandro da Costa, a primeira caxiense de 2019 chegou pesando 2,915 quilos e medindo 48 centímetros.
Depois de dois abortos e uma gravidez de alto risco, o nascimento de Helena só trouxe alegrias para a família, que ficou ainda mais unida. Para Amanda, um presente carregado de esperança, capaz de transformar os últimos doze meses no "melhor ano da minha vida":
— Foi um aprendizado enorme, tanto para mim quanto para o Leandro, que participa de tudo. Posso dizer que não mudaria nada que aconteceu no ano, até porque a Helena era muito esperada. Ela é o nosso milagre e temos que agradecer todos os dias.
Prestes a completar o primeiro aninho, a menina já ensaia alguns passos, ainda cambaleantes. Segundo a mamãe do ano, Helena é tranquila, dorme a noite inteira e come de tudo, sem fazer cara feia.
— Ela me fez mudar, principalmente a sensibilidade com as coisas do dia a dia. Hoje eu reparo e cuido muito mais dos detalhes, até por me colocar no lugar dos outros. Aprendi a ver a vida de outra maneira — constata Amanda.
Diante de um 2019 recheado de boas surpresas, como projetar o ano que vem pela frente? A resposta está em mais um ensinamento que a pequena trouxe: aproveitar o momento e deixar as coisas fluírem ao ritmo natural.
— Antigamente, eu costumava colocar metas. Agora, procuro ficar mais calma, sem tanta pressão. Como nosso ano foi maravilhoso, não teria problema que 2020 continuasse do jeito que está. O que eu desejo é muita paz e saúde, isso é o mais importante — completa.
Jean quer ajudar ainda mais
Em junho deste ano, o Almanaque trouxe em uma reportagem de capa a história de moradores de rua de Caxias do Sul atendidos pelo projeto Café Solidário. Mais do que oferecer alimento, a turma que realiza o Café busca dar à população de rua a atenção que muitas vezes não vem junto com a marmita. Assim criaram o lema "Café, sanduíche e dois dedos de prosa". Seis meses depois, a excursão pelas ruas centrais continua ocorrendo a cada noite e madrugada de segunda-feira, somando três anos sem falhar uma semana sequer.
Idealizador e coordenador do Café Solidário, Jean Kullmann, 35, vibra com a possibilidade de levar o projeto ao seu quarto ano. A meta é amadurecê-lo ainda mais:
— Ao mesmo tempo em que o projeto ganhou uma notoriedade enorme, trazendo mais pessoas a contribuir e participar, nossa responsabilidade também se tornou maior. E com isso vem a necessidade de amadurecer ainda mais. Trabalhar junto aos moradores de rua não é fácil, pois ainda é uma população que enfrenta muitos julgamentos da sociedade. Mas estar conseguindo um poste melhor junto à comunidade e às autoridades é algo que também comemoramos.
Também como desejo para 2010, Jean, que trabalha como chapista em uma hamburgueria no bairro de Forqueta, quer ser ele mesmo uma pessoa mais atenta às necessidades das pessoas que ama. E espera que isso seja uma meta para a sociedade:
— Por tudo o que acontece no país, percebo que é cada vez maior o número de pessoas tristes e deprimidas. Perdi conhecidos por conta da depressão, que neste ano parece ter sido um problema muito mais forte do que já vinha sendo. Em 2020 a gente precisa de um olhar mais atento aos sinais de mudanças negativas nas pessoas que são próximas a nós e estar pronto a ajudá-las.
Ana sonha com expansão dos negócios
Não é exagero afirmar que o ano de Ana Ruzzarin foi mais saboroso que um ovo de Páscoa. Afinal, a chocolatier que comanda a Negro Doce abocanhou dois reconhecimentos de peso. Em maio, a medalha de prata no Prêmio Bean to Bar Brasil com o chocolate 70% cacau. No mês seguinte, o bronze no concurso promovido pela Academy of Chocolate, de Londres.
Detalhe: Ana começou a fazer chocolate bean to bar há pouco mais de dois anos. A modalidade, totalmente artesanal, inclui desde a compra de cacau direto do produtor à embalagem manual, sem aditivos químicos.
— Nós ganhamos nosso primeiro prêmio nacional no ano passado, mas como ainda não tínhamos credibilidade no mercado, as pessoas acharam que foi sorte. Então, em 2019, nós pudemos provar que somos bons no que fazemos. Estamos aqui para colocar Caxias do Sul na rota do chocolate. Não interessa o que as pessoas digam, se você sabe o caminho, tem que acreditar e seguir em frente — orgulha-se a empreendedora.
Adepta das resoluções de fim de ano, desde que "abertas às surpresas", Ana planeja um 2020 com expansão do negócio e novidades para os clientes. A ideia é que as barrinhas, que já podem ser encontradas em Caxias do Sul, Porto Alegre, Florianópolis e São Paulo, tenham novos pontos de venda pelo país, além de chegarem ao e-commerce. Sempre, é claro, mantendo a excelência do produto.
— O objetivo é crescer profissionalmente, mas sem baixar a qualidade do que fazemos, sem precisar recorrer a outro tipo de maquinário que altere sabor e aroma. Também quero me lançar nos chocolates flavolizados, que são aromatizados com produtos naturais — antecipa.
Localizada no bairro Cinquentenário, a minifábrica produz cerca de 200 quilos de chocolate por mês. Os produtos custam de R$ 9 a R$ 28.
O cabeleireiro quer mais boas ações
No início de dezembro, a série de reportagens Rede Social RBS, que integra os veículos da RBS na Serra, mostrou como a solidariedade mudou a vida de diversas crianças PCDs de Caxias do Sul e também a do cabeleireiro Jhone Albano. Idealizador do projeto Pernas Solidárias, o caxiense que tem como hobby a corrida de rua uniu sua paixão à ação social, convidando 15 crianças com necessidades especiais a correr com triciclos, empurradas por um time de voluntários coordenado por Jhone.
— Trabalhar com essas crianças foi meu maior aprendizado de 2019. Me mostrou que a gente não deve olhar apenas para o próprio umbigo e reclamar que tudo é difícil. Elas e seus familiares enfrentam problemas muito maiores, com suas limitações físicas, às vezes agravadas por questões financeiras ou pela falta de tempo da família para dar o devido cuidado, e mesmo assim nos dão exemplo de superação. Que em 2020 estejamos mais dispostos a ajudar e mais abertos a olhar para o lado e se dar conta da nossa própria qualidade de vida e possibilidade de realizar tudo o que quisermos — comenta o cabeleireiro.
A perseverança dos participantes do projeto também inspirou Jhone em sua vida pessoal. Atrás de novos sonhos, em setembro o cabeleireiro deixou o salão em que atuava como comissionado para abrir seu próprio espaço, que já vai de vento em popa.
— Levo de aprendizado pra 2020 o que aprendi com os participantes do Pernas Solidárias, que neste próximo ano voltará ainda mais forte: é preciso perseverar, batalhar, baixar a cabeça e focar.