Através da janela há sinais de uma estranha primavera, cinzenta, pálida e chuvosa. Na contramão dessa apatia e desconcerto da natureza, a Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim, em Caxias do Sul, recebe as obras da artista plástica e professora Jane Toss De Bhoni, cujas telas vertem cores e flores, na esperança de uma bem-vinda e, já tardia, temporada solar.
O nome da mostra, Bege não é cor, é uma sacada bem-humorada, em tom de sutil deboche de uma fase em que na decoração, design e moda imperava o clean, em uma cartela de cores flertando em nuances do branco ou tons pastéis, beges e terrosos.
— Felizmente, de um tempo pra cá, com muita força há uns dois anos, quando da Feira de Milão, a cor voltou com mais força. Então, na Europa, começaram a dizer: "bege não é cor" — explica Jane.
É por isso que o fundo das 18 telas à mostra na Galeria Municipal é justamente em tom bege, afinal, nem, é cor. Mas não se trata de uma tela como se vê por aí, que se compra em qualquer papelaria. Foram quase dois anos de intensa pesquisa até que Jane pudesse entregar as peças para a exposição. Deste período, pelo menos oito meses foram despendidos para testar tecidos que seriam usados de fundo da tela.
— O que mais deu certo foi um veludo alemão, mas era caríssimo e desisti. Aí encontrei essa espécie de lã, que é um tecido com acabamento em velour _ revela Jane.
Este velour pode ser um desconhecido pra maioria das pessoas, mas é amor à primeira vista. Haverá uma extrema dificuldade do espectador em não tocar na tela. É que a textura suave e macia é irresistível ao toque. Impressas nessa tela estão as mulheres da Jane, que ela pinta há cerca de oito anos. Mas nesta nova série, ela inseriu o design da moda de uma forma mais conceitual, mesmo que já estivesse presente em outras obras anteriores.
— Desde que eu trabalho com as mulheres, tenho buscado referências de estilo e de roupa. Esta série, por exemplo, nasceu por causa das estampas. O design de superfície sempre foi forte no meu trabalho, sempre gostei de trabalhar com isso. Mas desta vez, fui fundo mesmo, tem referência de tecidos e tapeçarias, sim, mas o principal é a moda — revela Jane, cujo empurrãozinho para os braços da moda foi dado pelo curador e amigo, Sérgio Lopes.
Bege não é cor foi concebida com paciência e fez Jane perceber uma sutileza no trato da tinta sob a tela, que ela mesma desconhecia. É que qualquer pingo de tinta à óleo que escorresse fora do traço seria um desastre. Porque, revela Jane, não há como retocar. Ou seja, quando o espectador se deparar com as obras poderá perceber a sutileza do traço, que deu muito trabalho à Jane.
— Primeiro, eu pintei a indumentária das 18 modelos retratadas nas telas. Depois, em uma segunda etapa, pintei os rostos, braços e pernas. E por fim, pintei os cabelos de todas elas — diz a artista plástica, que trabalhou de forma seriada.
No texto de apresentação da exposição, Ana Mery Sehbe De Carli, doutora em Comunicação e Semiótica, escreve: "Nos detalhes, Jane declara sua preferência por alguns designers, como Gucci e Dolce & Gabbana para os óculos de sol e, nos bordados com arabescos rococó, a referência é a designer chinesa Guo Pei que, segundo a crítica, 'costura junto, sem emendas aparentes, moda e arte'".
Confirma a segui um álbum com algumas das imagens das obras:
AGENDE-SE
O quê: Bege não é cor, de Jane Toss De Bhoni
Quando: abertura quarta-feira, dia 6 de novembro, às 20h. Visitação até o dia 30 de novembro, de segunda a sexta-feiras, das 8h às 18h. Sábados, das 10h às 16h.
Onde: Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim (Casa da Cultura - Rua Dr. Montaury, 1.333 - Caxias).
Quanto: Entrada franca
Curadora: Sérgio Lopes