Vinte de Novembro é dia da Consciência Negra. Os negros, orgulhosos de quem são, e em paz com sua identidade e ancestralidade, tornam-se modelos para além da moda, porque são modelos para a vida.
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A seguir, fotos e depoimentos de negros e negras que moram em Caxias e que foram clicados em um ensaio especial, produzido pelo Estúdio JH. Os retratos são do fotógrafo do Pioneiro, Antonio Valiente.
“O dia 20 de novembro é a celebração do dia da morte do guerreiro Zumbi dos Palmares que lutou pela liberdade dos negros, um marco na nossa história. No entanto, o racismo ainda é presente em nossa sociedade. Seja ele disfarçado em forma de um elogio ou até um agrado forçado. Pode ser ainda social, porque o negro pobre é deixado de lado em diversas situações”, argumenta Andriele Pinheiro da Silva, estudante de Direito, 21 anos.
"Eu, particularmente, sou um prato cheio para os preconceituosos. Além de mulher negra, sou gorda, portadora de deficiência, feminista, de esquerda, lésbica e da umbanda. É forte o babado pro meu lado. O racismo é latente na sociedade caxiense e acredito que está longe de ser superado. O combate precisa ser de responsabilidade de todos, não só dos negros. Porque não precisa ser negro para lutar contra o racismo, apenas ser humano", defende Ângela Martins, 60, membro da Marcha Mundial das Mulheres e do Movimento Negro Raízes, de Bento Gonçalves.
"A minha família foi quem quebrou o preconceito em Palmares do Sul. Lá havia o Clube Primeiro de Maio, que era dos brancos. E o outro, era o Serapião, que fazia baile só para os negros. Só que eu estudava numa boa escola e tinha muitos amigos brancos. Tanto que na minha formatura de segundo grau, fizeram a festa no clube dos brancos, porque esquecerem de que tinha um negro. Aí não me deixaram entrar. A polêmica toda foi que a minha turma toda saiu do baile por causa disso. Na semana seguinte, foram levar uma carta para o meu pai, pedindo desculpas e oferecendo um título de sócio no clube dos brancos. Foi legal porque meus amigos se posicionaram", recorda João Batista Netto Boeira, 57, músico e professor de musicalização em escolas de educação infantil.
"Eu já fui muito de brigar, mas hoje prefiro a militância com amor, empatia e respeito. Tem a ver com o conceito filosófico Ubuntu, que diz: 'sou o que sou, porque somos juntos'. Essa tem de ser a ideia principal, se não for assim, vamos estar apenas batendo-cabeça. Meu discurso hoje é pelo afeto. Estamos em um momento tão ruim, que eu acredito que a empatia é a chave pra tudo", acredita Rodrigo Moraes, 25, jornalista.
"Não é só o negro que precisa de consciência da sua identidade. Como diz uma amiga: "Chegou a hora de os brancos terem a consciência negra, porque nós estamos cansados", defende Carla Vanez, 39, bailarina e atriz, diretora artística do Bloco da Ovelha e coordenadora de dança do Maracatu Baque dos Bugres.
"Aqui em Caxias é tudo uma questão de sobrenome. As pessoas ainda me perguntam: 'Tu é de que família?'. Caxias é uma cidade extremamente preconceituosa, mais do que Canoas, de onde viemos", observa a professora pós-graduada Carla Padilha, 41.
"Eu fundei uma escola de samba, Embaixadores do Ritmo, e fui 10 anos campeão, lá em Rosário do Sul. Os ensaios eram lá em casa. Mas o Carnaval de Santa Maria era muito melhor. Só uma vez que eu senti preconceito, de um chefe, no trabalho, mas depois ele foi transferido e ninguém foi no churrasco dele", recorda Alcidney Josende da Rosa, 81, marido de Therezinha (foto abaixo).
"Eu não tenho queixa do meu casamento, nos divertimos muito! É uma maravilha de vida!", conta Therezinha Xavier Josende, 81, sobre os 59 anos de casada, com Alcidney (foto acima).