Em meados de 1912, uma jovem poeta vinda de Porto Alegre despertou a curiosidade dos moradores de Criúva, à época distrito de São Francisco de Paula. Vestia roupas brancas, enfeitava-se com flores de laranjeira em homenagem ao sol, cavalgava pelos campos e brincava de costurar as folhas secas do outono de volta às árvores — o que não deixa de ser uma metáfora para sua luta contra a tuberculose.
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Vivita Cartier: homenagens em 1969 e 2019
Seu nome era Vivita Cartier. Morreu em março de 1919, aos 26 anos, deixando pouco mais de 30 poemas, duas cartas e meia dúzia de fotos. A escassez de material, no entanto, não impediu que se tornasse uma figura cultuada. É homenageada em duas academias de letras no Rio Grande do Sul, batiza o principal prêmio literário de Caxias e, recentemente, ganhou uma extensa biografia assinada pelo jornalista Marcos Fernando Kirst.
Lançado no centenário de morte, O Ocaso da Colombina (Editora São Miguel, 812 páginas, R$ 80) serviu de inspiração para o espetáculo Vivita - A Noiva do Sol, do Grupo Ueba Produtos Notáveis. A estreia é neste fim de semana, com sessões às 20h de sábado e domingo, no Centro Cultural Moinho da Cascata.
— Como a pesquisa histórica já estava no livro, o nosso trabalho foi o de criar as cenas e a linha dramatúrgica. O mais bacana é que a peça não tem uma narrativa linear, percorrendo vários períodos da vida dessa moça tão à frente de seu tempo — antecipa Jonas Piccoli, que assina a direção.
O espetáculo traz Aline Zilli no papel principal. A atriz, sempre lembrada pela atrapalhada palhaça Zoraida, recorreu a poemas e fotos para compor uma protagonista de personalidade forte e olhar travesso. Um misto de menina-mulher que, mesmo doente, manteve vida social ativa, viveu um amor proibido e forjou uma persona literária.
— Tem uma foto que foi essencial para a construção da personagem. Todas as mocinhas da época faziam suas fotos de perninhas cruzadas, olhar sério… Vivita desconstrói isso, com as pernas um pouco da lado, mais abertas do que as moçoilas, e um olhar brincalhão, à la Mona Lisa — descreve Aline.
Pensado como vivência teatral, o espetáculo sai do tradicional palco italiano para percorrer os salões, jardins e porão do Moinho da Cascata, aproveitando o estilo arquitetônico do prédio inaugurado em 1905. A costura das cenas fica por conta de personagens coadjuvantes que conduzirão o olhar do público pela história.
Entram aqui as participações de Jonas Piccoli, Jacqueline Aires, Luiza Pezzi, Cristiano Cardoso e Giulian Longa, com destaque para Marcos Fernando Kirst no papel do médico que faz o indesejado diagnóstico. O trabalho conta ainda com preparação corporal de Gislaine Sacchet, consultoria de figurino com Cristina Lizot, consultoria de cabelo e maquiagem com Jefferson Hoffmann e apoio de Fábio Weber.
Ingredientes não faltam para fazer da estreia do Ueba uma justa homenagem a Vivita Cartier.
BIOGRAFIA
O Ocaso da Colombina - A Breve e Poética Vida de Vivita Cartier, de Marcos Fernando Kirst, estará à venda no Moinho da Cascata nas noites de espetáculo, por R$ 80. O livro também segue à venda na livraria Do Arco da Velha e na banca Prazer de Ler (Shopping Prataviera).
PROGRAME-SE
:: O que: espetáculo Vivita - A Noiva do Sol, do Grupo Ueba Produtos Notáveis.
:: Quando: neste sábado (2) e domingo (3), às 20h.
:: Onde: Moinho da Cascata (Rua Luiz Covolan, 2820), em Caxias do Sul.
:: Quanto: ingressos a R$ 30.
:: Duração: 90 minutos.