Muitos leem posicionamentos de crianças e têm dificuldade em reconhecer que é nesta fase que nascem intenções e ideias que podem vir a ser a grande transformação do futuro. Há tantos hoje que estudam os conceitos de Comunicação Não Violenta (CNV) e nem sempre associam o desenvolvimento dessa proposta à vivência de um menino que sofria perseguição por ser judeu. Trata-se do psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg (1934-2015). Por que uns reagem com violência e outros, não? Essa era a grande questão que o perseguia até ele sistematizar a Comunicação Não Violenta.
- Para ele, a comunicação começa dentro da gente, em três esferas: intrapessoal (entre nós mesmos), interpessoal (entre mim e outras pessoas) e não violência voltada aos sistemas diversos (escolar, religioso, familiar, organizacional). De um modo geral, as pessoas fazem associação de que é uma maneira mais pacífica de falar, mas é muito mais do que isso. A CNV é sempre um convite para construir e co-construir - explica Danielle Toigo, 41, facilitadora de Círculos de Construção de Paz e de Comunicação Não Violenta.
Conforme Rosenberg, que escreveu entre tantos livros, Vivendo a Comunicação Não Violenta, as práticas de CNV que servem de base para a solução de conflitos envolvem:
Expressar nossas necessidades;
Enxergar as necessidades dos outros, independentemente do modo como se expressam;
Verificar se as necessidades foram compreendidas com exatidão;
Oferecer a empatia de que as pessoas precisam para ouvir as necessidades dos outros;
Traduzir as soluções ou estratégias propostas para uma linguagem de ação positiva.
De um modo geral, e bem sintético, Rosenberg nos convida a rever nosso modo de vida. É mais do que um conceito, é uma linha filosófica que "permite a nos conectar de forma compassiva com os outros e com nós mesmos".
Necessidades em comum
- CNV nos conta que todos temos as mesmas necessidades. Se é importante na sua vida, será importante também para as pessoas que moram no Alaska, na África, ou nos EUA - defende Danielle.
Entre as palavras citadas como necessidades, estão abrigo, aceitação, amizade, amor, cooperação, dignidade, diversão, honestidade, liberdade, privacidade, respeito, saúde e ver e ser visto, entre tantas outras pinçadas aqui de forma aleatória.
- Esta lista está em constante movimento, não está fechada - diz Danielle.
Uma das necessidades que é comum e ninguém vai questionar é a segurança.
- Como eu cuido da minha necessidade de segurança? Posso escolher me relacionar com meus vizinhos e fazer um grupo de vizinhança solidária no Whatsapp. Ou, posso escolher comprar uma arma. Quando a minha estratégia é ter uma arma, e você com tem a sua estratégia da vizinhança solidária, pode ser que daí venha o conflito: "Você é o violento que compra uma arma para matar".
O que a CNV ensina?
- O convite é entender que o conflito traz para nós uma oportunidade de atualização, das relações e de como estamos cuidando das nossas necessidades. A CNV se preocupa em cuidar do que é mais importante para todos e poder encontrar caminhos que possam atender a todas as necessidades - explica.
Esse tipo de disputa pode tanto ocupar o ambiente real, quanto o virtual, explica o filósofo coreno Byung-Chul Han, no livro Topologia da Violência. Para ele, conforme a humanidade avança, desenvolve mecanismos mais sutis e complexos de ações violentas. A ciberguerra, típica do século 21, opera de forma viral. "A viralidade subtrai a violência de toda e qualquer visibilidade e publicidade, sendo que o próprio agressor se torna invisível".
- As pessoas estão apegadas aos seus pontos de vista, às verdades absolutas. E não existe espaço para entender e ouvir de que forma o outro está cuidando das suas necessidades. Por isso que Marshall nos faz pensar: "O que está vivo em mim?", "O que eu estou sentindo?", "Que necessidades eu tenho?" e "Como a gente pode cuidar do que é mais importante e vital, juntos?" - ensina Danielle.
PROGRAME-SE
Dia 23 de novembro, das 9h às 18h30min, ocorre o Workshop Parentalidade Consciente, em Caxias do Sul, unindo a Disciplina Positiva e a Comunicação Não Violenta, com Danielle Toigo.
"A Disciplina Positiva e a Comunicação Não-Violenta são abordagens que permitem que possamos acessar nossos filhos com empatia, respeito mútuo, conexão e também limites. Nos oferecem princípios e ferramentas para acolher os pais com suas dificuldades e olhar de maneira mais profunda para o que pode estar por trás do comportamento da criança ou adolescente. Não se trata de pensar em certo ou errado e, sim, de buscarmos juntos soluções mais saudáveis para cada desafio", diz o texto informativo no site para inscrição.
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