A primeira sequência do filme A Tabacaria, estreia desta semana na Sala de Cinema Ulysses Geremia, mostra o jovem protagonista Franz (Simon Morzé) embaixo da água. Trata-se de uma atmosfera lisérgica que costura toda a obra dirigida por Nikolaus Leytner. A água funciona como uma espécie de refúgio introspectivo para o jovem romântico e sonhador que enfrenta a passagem para a vida adulta num contexto duro. A história é ambientada na Áustria dos anos 1930, que sofre com a ascensão do nazismo. A fotografia em tons frios contribui na simbologia áspera desses tempos. Porém, esse recorte histórico não domina o clima da narrativa por completo. O espectador vai encontrar um filme sobre um aprendiz, atento aos ensinamentos que surgirão a partir de todos que convivem ao seu redor.
Um dos principais "professores" nessa trajetória de Franz é ninguém menos que o doutor Sigmund Freud (vivido pelo icônico Bruno Ganz, em ótima performance). No longa, o pai da psicanálise é um cliente da tabacaria onde Franz começa a trabalhar. A sincera amizade entre os dois surge a partir de charutos, que servem como moeda de troca para o jovem pagar pelos conselhos de vida — principalmente amorosos — do experiente doutor.
Assim que deixa a pequena localidade onde vive, incentivado pela mãe recém-viúva, Franz é recebido em Viena por outro personagem que também assumirá papel de mestre em sua trajetória. É o dono da tabacaria, Otto (Johannes Krisch), homem sofrido que nunca deixou de lutar por seus ideais políticos. O fato de não ter uma perna, uma das marcas físicas de seu passado de combate, não impede que ele continue se impondo frente a um cenário de horror político. Com Otto, Franz acessa analogias do trabalho que servem para muitos setores da vida, por exemplo: "um charuto bom tem gosto de tabaco, mas um charuto muito bom tem gosto de mundo".
Tanto a namorada quanto a mãe de Franz são apresentadas como mulheres fortes e libertárias no filme, apesar de não serem exatamente compreendidas como tais pelos homens que as rodeiam. Mas cada uma delas também contribui para a jornada de aprendiz do protagonista, ensinando-o por meio do afeto e da falta dele. A primeira metade do filme apresenta Franz como um apaixonado, por muitas vezes ingênuo, que usa o tempo para correr atrás de sua paixão — a livre e avançada Anezka (Emma Drogunova). Como um estreante no mundo do amor, o jovem experimenta pequenas doses de prazer e altas doses de sofrimento, mas enfrenta a situação com o amparo do amigo Freud e do chefe Otto. Já na segunda metade de A Tabacaria, o nazismo ganha força como um personagem na narrativa. A partir daí, Franz começa a entender que as agruras do amor são menores quando comparadas ao cerceamento da liberdade e da vida.
Quando o cenário de intolerância e dor toma conta do contexto, é preciso refugiar-se em outro lugar. Entre as cenas mais bonitas de A Tabacaria estão as que representam os constantes sonhos (e muitos pesadelos também) de Franz. É ali que o espectador acessa o inconsciente do personagem, submerso em dúvidas. Algo que o amigo Freud certamente veria como algo positivo, afinal, "não saber de nada é o primeiro degrau na escada da sabedoria".
PROGRAME-SE
:: O quê: filme A Tabacaria, de Nikolaus Leytner.
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Quando: estreia nesta quinta (24) e fica em cartaz até o dia 3 de novembro, com sessões de quinta domingo, sempre às 19h30min.
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (idosos, servidores municipais e estudantes).
:: Classificação: 16 anos.
:: Duração: 114min.
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