Agnel Passos tinha 20 anos quando um acidente de trânsito, em 2014, o fez deixar de lado o sonho de jogar futebol. Já o pequeno Théo Giordani Rodrigues, 11, nasceu com autismo e não desenvolveu o ato de falar. Matheus Rocha, 27, tem síndrome de down, mas nunca permitiu que a doença o impedisse de realizar novos desafios. E o que eles têm em comum? Todos encontraram no esporte uma forma para superar seus limites e viraram sinônimo de garra, determinação e, principalmente, ânsia de vencer.
Neste dia 21 de setembro, quando se comemora o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, falar sobre o tema (e mostrar essas histórias de superação) é ainda mais relevante.
Conheça um pouco das histórias:
Agnel tem um sonho paralímpico
“Quando crescer quero ser professor, médico, jogador de futebol, advogado...”. Quando se é criança, muitos sonhos dominam a imaginação. Mas, às vezes, algo foge do controle e o rumo da vida segue por outro caminho. Foi o que aconteceu com o caxiense Agnel Passos, 25 anos. Quando pequeno, seu maior sonho era ser jogador de futebol. Entretanto, um fato ocorrido em dezembro de 2014 alterou seus planos.
Ele dirigia sua moto, como de costume, quando um outro condutor acabou cortando a sua frente, o fazendo bater atrás de um carro. O acidente de trânsito causou uma lesão medular e Agnel ficou paraplégico. Mas isso não o impediu de sonhar, pelo contrário. Um ano após o acontecimento, outro esporte tomou conta dos seus sonhos: o basquete.
– No último dia das minhas fisioterapias na Universidade de Caxias do Sul (UCS), conheci o Tião, que é pivô do basquete em cadeira de rodas do Cidef/UCS. Ele me convidou para conhecer a equipe. Eu fui e, em seguida, comecei a praticar a modalidade. Por meio dele, conheci o esporte e pessoas que já estavam há muito tempo na cadeira. Isso me motivou a querer ter um sonho na cadeira de rodas.
Um sonho e uma inspiração. Neste ano, quando os Jogos Parapan-Americanos (Parapan), realizado em Lima, no Peru, tiveram quebra de 175 recordes, incluindo nove mundiais, o canadense Patrick Anderson chamou a atenção de Agnel:
– Eu sigo ele bastante nas redes sociais. Assisti no Parapan deste ano e me inspiro muito no estilo de jogar e na história de vida que o Patrick Anderson tem.
Ao poucos, por meio do basquete, a insegurança ficou em segundo plano e o desejo de ser um jogador de alto nível começou a motivr ainda mais o caxiense, que sonha integrar a seleção brasileira.
– No primeiro momento na cadeira de rodas, nunca sonhei que fosse conseguir sair (da cidade) sozinho. Até porque tu viras uma pessoa muito dependente, tu tens medo de fazer as coisas. O Cidef/UCS me proporcionou viagens para competir e fui com a cara e com a coragem. Chegando lá e olhando como meus colegas se viravam, acabei aprendendo muito mais.
Agnel já disputou competições de basquete em cadeira de rodas em três ocasiões: a segunda divisão nacional no Rio de Janeiro, em 2016, e em São Paulo, em 2017, além da terceira divisão no Pará, em 2018. Mas não foi só o basquete que ajudou Passos a criar motivação e impulsionar seus sonhos:
– Também competi neste ano pelo atletismo, lá em Curitiba, na corrida de pista. Foram três trechos, fiquei em primeiro nos 400 metros, em segundo nos 800 metros, e em quarto nos 1.500 metros.
A prática das duas modalidades, além da natação, por meio da instituição L’Aqua, e do badminton, pela Secretaria Municipal do Esporte e Lazer (Smel), tornaram o jovem que, antes pensava em jogar um futebol, um multidesportista:
– O basquete reestruturou a minha mente e o meu corpo também. Fisicamente, estou melhorando bastante nos membros superiores. Estou conseguindo me reabilitar muito melhor. Despertei um sonho dentro da minha cabeça, de ser um jogador profissional e jogar na seleção.
Brilho para o mundo ver
Nascido com síndrome de down, Matheus Rocha encontrou no mundo das lutas muito mais do que um hobby. Com a mente e o corpo inquietos, o caxiense de 27 anos começou a praticar esportes na infância. Experimentou basquete, futsal, judô, capoeira e natação, até descobrir a modalidade que seria sua paixão: o taekwondo.
Talentoso, passou a levar a arte marcial a sério na mesma medida em que começou a conquistar títulos e a brilhar em competições nacionais e internacionais. Em 2015, Matheus foi campeão nacional entre os praticantes especiais. Em julho do ano passado, atingiu seu ápice. Representando o Brasil no Campeonato Mundial da Associação Americana de Taekwondo (ATA), realizado em Little Rock (EUA), conquistou medalha de ouro na apresentação de armas, categoria em que o lutador realiza movimentos com as armas características dessa cultura, como o nunchaku, o bastão, facas e espadas. Matheus também foi bronze na apresentação de fórmula – categoria em que o atleta realiza os movimentos de luta sem adversário.
– O Matheus sempre foi apaixonado por esporte, mas o taekwondo para ele é mais do que isso. É uma religião – resume a mãe, a psicóloga Tânia Mara.
Com a maturidade, vieram novos voos. Literalmente. Há algumas semanas, Matheus, que trabalha em um hotel de Caxias e também se arrisca como chef de cozinha, realizou um salto de paraquedas transmitido para todo o Brasil durante o Domingão do Faustão, da Rede Globo. A mãe conta que o fato de ser um esportista ajudou o filho a realizar o sonho:
– O taekwondo trabalha muito a questão mental, além da parte física. Isso faz toda a diferença, pois saltar de paraquedas exige um controle emocional muito grande, que o Matheus desenvolveu ao longo desses 14 anos. O fato dele praticar tendo as mesmas exigências dos demais, também faz com que ele tenha uma capacidade cardíaca e muscular muito boa, o que é uma dificuldade para a maioria das pessoas com síndrome de down. É uma contribuição direta do esporte na vida dele. (por Andrei Andrade)